Curta Paranagua 2024

Crítica: Aquaman

O bebê pós-maturo chamado DC

Por Vitor Velloso


Após uma sucessão de fracassos de bilheteria e crítica, a DC conseguiu emplacar um bom filme com “Mulher Maravilha” e agora chega aos cinemas com “Aquaman”, na postura de aliviar as tensões desde “Batman V Superman”, ou seja, buscando atingir um público mais novo e que busca um descompromisso maior com a aventura e ação que o entretenimento pode proporcionar. A verdade é que o choro alheio quanto ao tratamento dramático e minimamente maduro incomodou muitos, basicamente porque “Não é igual o da Marvel”. O apelo financeiro fez a Warner mudar de pensamento e ceder ao padrão industrial frágil e tolo. Porém, nem tudo é derrota, alguns projetos minimamente decentes da Disney permitiram que o mercado se virasse à um tom ligeiramente distinto, ainda que formulaico. E os irmãos Russo são responsáveis por grande parte disso, sem dúvida. Já na DC, o problema era outro, após os erros, revisões foram feitas e um padrão deveria ser achado, “Mulher Maravilha” acertou quase em cheio, pecando apenas pela megalomania já conhecida de Zack Snyder que destrói o último ato, já em “Liga da Justiça”, vemos uma coerência de universo que deve ser levada em consideração, há uma tentativa, ainda que parcialmente mal sucedida, de tentar algo novo, o que a Marvel não tenta, nunca. A ideia de manter-se na fórmula do dinheiro é a responsável por Logan e Deadpool terem tido a recepção imensa que obtiveram, simplesmente porque a Fox viu um nicho dos quadrinhos que não havia sido explorado ainda, com exceção de “Watchmen”, ponto pro Zack Snyder. “Sin City” foi uma proposta absolutamente distinta, desta maneira preferi não incluir na discussão. E a vermelhinha que se cuide, porque “Aquaman” veio com uns gatilhos bem interessantes.

Dirigido por James Wan, o longa do homem que fala com os peixes abraça um teor mais apaixonado pelos clichês clássicos dos heróis dos quadrinhos. É interessante notar a falta de tom no subgênero recentemente, uns se levam super a sério mas fraquejam criando dramatizações nonsenses (Esquadrão Suicida), outros elevam tanto sua comicidade que tornam-se idiotas (Guardiões da Galáxia 2), pior, alguns se assumem idiotas mas se esforçam em seu clímax em promover uma cena icônica (90% dos filmes da Marvel), por isso, essa nova fase da DC possui um caráter próprio bastante peculiar, eles assumem o quão vulgar é a ideia de ter um super-herói, o quão patético é ver tudo aquilo na tela de cinema mas consegue dosar suas pitadas de nostalgia e exibição de poder de seus personagens. Uma das provas é a escolha do Jason Momoa como protagonista, um brutamontes, sem expressão facial alguma, Havaiano, tatuado e barbudo. Por incrível que pareça, apesar de todas as limitações do ator como intérprete, ele funciona, devido a um personagem unidimensional e excessivamente simplório. Dentro desta proposta de assumir a vulgarização dos heróis, ele é perfeito, além disso, Wan consegue contornar todos os problemas de roteiro com seu estilo cinematográfico, às vezes repetitivo, sim, mas que propõe uma dinâmica curiosa à misancene do longa. Grande parte de seu aprendizado surge em “Velozes e Furiosos 7”, um dos melhores da franquia, que cadencia uma dose de adrenalina com uma canastrice dramática de forma impressionante. A diferença é que aqui, ele utiliza recursos de “Invocação do Mal 2”. Planos sequência super elaborados, porém sem nenhum propósito narrativo, gadgets cômicos que não funcionam, mas, quando vêm a questão emocional, ele acerta em cheio. Não que seja particularmente difícil brincar com as possibilidades ao público quanto a filmes de super-heróis, mas a imagem semi-divina criada pelo diretor é um frescor à indústria.

Do momento que vemos ele pegar o Uniforme pela primeira vez, sua batalha na arena, a batalha final, toda a sequência no Fosso, percebemos o quão habilidoso Wan é em provocar reações no público, seja pela dimensão ou pela dinamicidade que ele propõe, ainda que algumas ideais não sejam originais, exemplo uma perseguição que acontece na Sicília, com um plano sequência de um personagem em perseguição por um corredor, já vimos isso em X-Men e Capitão América, mas aqui, a fragmentação da narrativa permite uma intensidade maior. Onde o filme deve ser grandioso, ele é, onde ele precisa ser mais acolhedor e possuir um drama sólido, falha gravemente. São diversos momentos de hipérboles e diálogos hiper expositivos que enfraquecem o ritmo e o desejo do espectador por aquela história, sempre acompanhada por uma trilha sonora didática e repleta de obviedades graves, com escolhas de música quase antagônicas à proposta do longa. O icônico vilão, Raia-Negra,possui uma participação pequena, mas marcante.

No fim, ele possui todos os problemas de projetos de origem, porém, Wan consegue segurar as pontas e coloca o estilo à frente de todas as questões cinematográficas na película, aliás, o público alvo não vai ao cinema atrás de personagens complexos e tramas envolventes, mas sim de uma bela pancadaria e diversão garantida. O elenco de apoio cumpre uma função de luxo: Willem Dafoe, Amber Heard e Patrick Wilson realizam seus papéis, mas sem muitos espaço narrativo para se destacarem, dessa maneira sobra pro Jason Momoa brilhar… Claro que ele não rouba a cena, que sobra para o diretor que chama a responsabilidade e monta um esquema funcional de fluxo narrativo e mitológico. Já que tocamos em Mitologia, curioso ver a maneira que o filme trabalha a questão do herói como uma fragmentação de um mito, impedindo a confusão entre ambos, algo completamente inexistente na figura do Homem de Aço. Basicamente, a DC passou a apostar na figura do ícone como uma questão de glória e mérito, não apenas um símbolo universal, não à toa, Arthur (Aquaman) é um ser-humano falho, possui um caráter duvidoso mas um bom coração. No fim, vimos a empresa conhecida pelos ídolos globais ceder ao padrão, ainda que extremamente reduzido de anti-herói.

Ainda com todos os problemas, “Aquaman” é uma bela aposta da DC que sem dúvida acertou o ponto, a hipérbole. Entre erros e acertos, o último ato é altamente divertido, é exagerado, mas controla melhor a proposta que “Mulher Maravilha”, conseguindo se manter menos inconsistente.

3 Nota do Crítico 5 1

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