Curta Paranagua 2024

Crítica: Antes Que Eu Me Esqueça

Provavelmente me esquecerei

Por Vitor Velloso


O tempo das memórias sempre foi um tema abordado com frequência no cinema. Seja por sua capacidade afetiva ou complexidade imagética. O mercado audiovisual nacional, por sua vez, abraça a primeira causa possível, a fim de criar um produto comercial popular, com atores já conhecidos pelo grande público, José de Abreu e Danton Mello, dividem espaço neste novo filme de Tiago Arakilian, que busca contar a relação de Polidoro (José) e Paulo (Danton), pai e filho, respectivamente, onde um trauma passado havia separado os dois e por uma decisão judicial, eles são obrigados a terem encontros semanais para que Paulo possa comprovar a sanidade mental do pai.

A obra flerta entre o drama e a comédia, desenhando de forma progressista o desenvolvimento deste reencontro familiar atormentado pelas memórias. Ao mesmo passo, promove uma trama absurda, onde Polidoro compra um bordel, para ocupar sua mente. A comicidade do filme é suportada pelas relações das idades e dos temas sexuais. Formando um grau comum nas piadas impostas, forçando além da boa fé de muitas pessoas. Novamente, vê-se uma preocupação com carisma das personagens maior que sua própria dimensão na trama, por sorte os dois atores conseguem impôr uma química funcional e dinâmica o suficiente para mover o filme, ainda que ritmo seja um problema intenso da película.

O ato de amadurecimento diante da idade, é algo pessoal, nossa postura diante das diferentes fases de nossa vida, revelam algo assombroso em nossos medos e anseios, a finitude da consciência, não o contrário. Certas pessoas possuem menor dificuldade com a aceitação de fatos imutáveis, outras, entram num estado de negação constante. O mais sufocante é perder a consciência em grau que se tenha noção da aproximação do inevitável. E se prender a momentos no passado, é um ato tóxico a sanidade, quando ela não é afetada pelas suas próprias lembranças, perda delas. E num ato desesperado, mas completamente compreensível, o último recurso é se agarrar em fragmentos de felicidade que restam no escopo intelectual e são de uma mente fadada à nada.

No documentário, Alive Inside (2014), vê-se como pequenos gatilhos, em questão a música, despertam lampejos de tempos mais distante que o corpo retém. Aqui vemos um homem que entende a gravidade de sua doença e busca negá-la através de uma busca pelo espírito jovem inerte em seu corpo. Paulo respeita a vontade juvenil do pai de se desconectar do mundo, mas não consegue perdoar seu pai. O drama que rege a obra ganha força com o passar da projeção, mas o interesse do espectador vai se perdendo, pois a quantidade de tramas paralelas que não acrescentam nada, servindo apenas de pílulas humorísticas, vão aumentando.

Guta Stresser e Mariana Lima são subaproveitadas, sendo utilizadas como desculpa para explorar algum lado de um dos personagens principais. Guta interpreta Joelma, uma prostituta, barwoman, gerente e tudo que precisar, com alguns neurônios a menos. E Mariana Lima interpreta, Maria Pia, uma promotora de Justiça que deve fiscalizar esses encontros familiares. O arco desta, se resolve de forma óbvia, enquanto o da Joelma nem se inicia, é uma personagem utilizada para dar nó em algumas questões, sem nunca aprofundá-la.

Pequenas questões pessoais dos personagens que são trazidas à tona, podem dar um breve ar de sinceridade na forma como aquilo está sendo contado, porém, logo algum alívio cômico desnecessário e que rompe o tempo dramático, tirará esta visão das pessoas. De fato, o filme se esforça em ser singelo, mas parece não acreditar na própria força catártica e se entrega a convenções instantâneas industriais. José de Abreu se esforça na interpretação, mas seu personagem não possui dimensões para onde ir, e ele se perde no estereótipo que a própria indústria criou.

O diretor opta por enquadramentos e iluminação simples. Mas é notório uma tentativa de autoria, ainda que fracassada. Alguns enquadramentos em lugares inusitados, à la Zemeckis outros, movimentos, à la Scorsese, mas tudo feito sem alma e propósito. É possível que o filme ganhe alguns breves adeptos, pois alguns de seus ganchos emocionais de identificação popular, podem vir a funcionar para pessoas que se entreguem ao filme. Mas ainda assim, isso não fará dele um filme que funcione dentro da própria proposta.

2 Nota do Crítico 5 1

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