Lá vem os portugueses de novo!
Por Vitor Velloso
A comédia romântica é um dos gêneros mais fracos do cinema contemporâneo, mas um dos mais populares, por esse motivo, a quantidade de produções que são feitas anualmente nos mesmos moldes, é insana. “Alguém Como Eu” é mais uma dessas produções industrializadas, que excluem autoria, ignoram qualquer construção narrativa plausível, que apenas se preocupam em criar emoções baratas, em pessoas extremamente desinteressadas pelo próprio filme, apenas no casal em questão.
A história conta o de sempre, uma mulher linda, como sempre, quer um par perfeito, como sempre, que seja tão lindo quanto ela e a entenda, como sempre. E, como sempre, o brasileiro entende que mulher linda deve ser a Paolla Oliveira, que de fato possui uma beleza acentuada, mas que possui uma imagem saturada diante de projetos de sexualização barata e vulgarização de misoginias encardidas nas páginas do roteiro. Desta vez ela divide tela com o galã português, Ricardo Pereira, que já provou ser um galã clássico nas telenovelas brasileiras e que por ser português ganha algum ar de autenticidade em seu charme de araque, conquistando corações à espera de um príncipe encantado. A única diferença é que a trama se passa em Portugal, com um brasileira.
O filme busca sua narrativa através da narração de Helena (Paolla), a forma como isso é feito lembra filmes da Kéfera, e suas youtubers produtoras de conteúdo de influência em massa para uma geração parcialmente funcional, porém, o filme possui cenas de nudez parcial e cenas brevemente mais sexuais, o que nos leva a entender que seu público não tem doze anos. E isso gera uma falta de decisão do filme, seu tom não se define. Se isso não bastasse, o filme fica tentando impor linguagens de internet em sua forma, porém, o que poderia ser um exercício produtivo, torna-se uma pasteurização da própria forma.
Não há muito o que se comentar quanto a forma, pois nem o diretor, Leonel Vieira, estava interessado em pensar isso. Não conheço a carreira do cineasta, mas uma breve olhada já nos explica a que resultou a qualidade deste projeto. Quanto aos roteiristas, gostaria de me debruçar brevemente mais. Pedro Varela e Tatiana Maciel. Desculpe o Transtorno e A canção de Lisboa fazem parte dos currículos de cada um. Mas eu realmente gostaria de entender de qual das duas cabeças, veio a “piada” construída na seguinte situação.
Helena liga para um amigo, no Brasil, eles conversam sobre a possibilidade dela estar apegada demais a portugueses, um homem negro passa e o personagem olha e diz “Olá”. Ele retorna a ligação e diz: “Amiga, não é aí que tem vários africanos?”.
Eu não sei quem aprovou isso, quem entendeu isso como piada, quem riu disso, em algum momento. Mas queria muito que essa pessoa lê-se seu próprio roteiro em voz alta. Talvez ela entendesse o que fez, ou entendeu e não viu nenhum problema. O que é mais grave. Vou evitar rotular o filme de racista por esse motivo, pois não sei quem escreveu este troço. Mas definitivamente apoiarei manifestações que o façam. E quanto a isso não me refiro
partidariamente a nenhuma ideologia política de comício, apenas a uma ética humanista que busca evitar etnocentrismos nocivos.
E mesmo ao despir qualquer racionalidade do filme, o mesmo não funciona. São clichês que já foram vencidos pelo tempo, uma trilha sonora que além de previsível é semelhante a quase tudo. São diálogos muito frágeis, atuações duvidosas e piadas sem propósito. O carisma dos atores que pode segurar o público de alguma forma, não são propriamente deles, mas sim da imagem que as pessoas criaram deles nas novelas. Eu nem irei culpar os dois pela performance que ambos tiveram, pois o material que eles receberam é muito, mas muito duvidoso.
A falta de originalidade do projeto, faz ser um filme que além de ser ofensivo para uns, já comentei sobre isso, será extremamente esquecível para outros. Pois, o mínimo não foi cumprido, não é divertido, nem sexy. E não foi por falta de tentativa. Tragicamente, enquanto o filme tenta ser engraçado e criar alguma relação com o público através de problemas de casais, ele mergulha tudo isso numa balança que sempre pende para o lado que mais lhe interessa comicamente, e por algum motivo acredita-se que fragilizar o lado feminino e culpá-la por “ser complicada” e “não saber o que quer” é algum motivo de piada para algumas pessoas.
1 Comentário para "Crítica: Alguém Como Eu"
O filme é uma mistura de nada com nada a ver. Você assiste e 1 hora depois já esqueceu o nome do filme, tamanha é a insignificância.