Ficha Técnica
Direção: Jon Favreau
Roteiro: Roberto Orci, Alex Kurtzman
Elenco: Sam Rockwell, Olivia Wilde, Harrison Ford, Daniel Craig, Clancy Brown
Fotografia: Matthew Libatique
Música: Harry Gregson-Williams
Direção de arte: Daniel T. Dorrance
Figurino: Mary Zophres
Edição: Dan Lebental
Efeitos especiais:Industrial Light & Magic, Creature Effects
Produção: Brian Grazer, Ron Howard, Alex Kurtzman, Damon Lindelof, Roberto Orci, Scott Mitchell Rosenberg, Steven Spielberg
Distribuidora: Paramount Pictures Brasil
Estúdio: Imagine Entertainment, DreamWorks SKG, Universal Pictures
Duração: 118 minutos
País: Estados Unidos
Ano: 2011
COTAÇÃO: BOM
A opinião
“Cowboys & Aliens” define-se como um gênero cinematográfico de referências. As alusões mesclam inúmeros filmes a fim de direcionar o roteiro à construção, o amarrando, e utilizando-se do recurso da memória cinéfila, porque escala atores que representam uma explícita inferência. Como Daniel Craig (que interpretou o agente James Bond em “007”) e Harrison Ford (o eterno “Indiana Jones”). O diretor Jon Favreau, ator famoso dos Estados Unidos, de “Homem de Ferro 1 e 2” (elenco e direção), imprime uma narrativa clássica do estilo Faroeste, corroborando na história – adaptada de História em Quadrinho desenhada por Scott Mitchell Rosenberg e escrita por Fred Van Lente e Andrew Foley, características intrínsecas a esse gênero. “Se você pensar na origem de James Bond, daquele tipo de personagem, suas raízes vêm dos antigos filmes de faroeste. Daniel se parece com um pistoleiro – ele até se parece fisicamente com Steve McQueen, principalmente quando está usando um chapéu de cowboy.
Ele também é bem quieto e poderoso – o fato de ter que escrever pouco diálogo e ele já conseguir convencer o público com seu rosto e corpo é incrível. Ele carrega a tradição do pistoleiro de Sergio Leone, quase que sobrenatural. Claro que Harrison Ford é como o nosso John Wayne. Ele traz um certo tradicionalismo consigo”, diz o cineasta. A expressão faroeste nasceu da união dos termos ingleses ‘far’, que tem o sentido de ‘distante’, e ‘west’, que indica ‘oeste’, ou ocidente, em algumas interpretações o limite entre a civilização e a área mais remota, não urbana, no contexto da colonização do território norte-americano. O crítico francês , André Bazin definiu os como o “cinema americano por excelência”, no seu livro “O que é o cinema?”. Podemos destacar neste cinema: personagens solitários, que viajam por lugares longínquos, apenas com a roupa do corpo – e com o revolver, tendo o cavalo como melhor amigo. São também ambíguos, tortos, passeando entre o banditismo e a humanização pelo fato de serem assim: sobreviventes em uma terra sem lei, que quem vence a batalha é o mais poderoso – e talentoso.
Mas o grande diferencial deste longa-metragem é a inserção de alienígenas. “Isso vem do meu gosto por filmes como O Predador e Alien – O Oitavo Passageiro. Steven Spielberg também esteve muito envolvido com o design dos aliens”, disse o diretor. É inevitável a percepção da presença de Steven Spielberg (produtor aqui), que por seu intermédio fornece um tom político, existencial e filosófico. Os questionamentos são apresentados por metáforas. Um caubói nada mais é que um visitante, um passante, vindo de outro lugar. É um imigrante que a cultura americana definiu como um alienígena (termo absorvido quase como padrão). É constante o recomeçar, por causa das mortes, vinganças, limitações, medos, liberdades e inquietações. A trama acontece em 1873, logo no inicio, um estranho – até para si próprio – vivido por Daniel Craig, sem memória do seu passado, acorda na estranha cidade de Absolution com uma misteriosa pulseira em seu braço.
Ele não tem nada, não sabe para onde ir e nem quem é. A câmera anda até procurar algo, buscando o susto manipulador para com o espectador. O personagem em close (plano detalhe) é adjetivado. Aos poucos, ele descobre que não é bem-vindo e que o lugarejo segue as ordens do cruel coronel Dolarhyde (Harrison Ford). Há gruas e a violência realista e viceral (como o sangue que espirra). Mas quando a cidade é invadida por seres misteriosos, esse estranho, que antes os habitantes rejeitaram, torna-se a única esperança de salvação. Com a ajuda da viajante Ella (Olivia Wilde), ele reúne um bando formado por seus ex-adversários – Dolarhyde e seus homens, guerreiros Apache -, entre outros moradores da cidade para combater os perigosos invasores. Então, dá-se largada à aventura. O deserto é o ambiente o qual todos passarão a maior parte do tempo (planos distantes indicam o retorno pistoleiro). Jake, o estranho, tem força e sabe lutar, com habilidades e instintos que são quase sobre-humanos.
Os aliens (viscosos e nojentos não convencem tanto, porque parecem criados em computador) sequestram pessoas, não se sabe exatamente para que. Os elementos montam o quebra-cabeça, que a cada cena se torna mais comercial e clichê, afastando-se do argumento fantástico que deveria ser mais aproveitado. Dolarhyde “ensina” o filho a ser sádico. Este aprende por ser a única referência de criação. “Dinheiro enfraquece o homem. Não sou Jesse James”, diz-se. A edição é rápida e ágil, porém há respeito ao tempo real dos acontecimentos. As lembranças retornam a Jake. Ele tem o bracelete no seu braço como um poder de um super-herói. O fio condutor da trama é a perda. Cada um tem um ente querido desaparecido. Os personagens julgam uns aos outros, com picardias, ironias e agressividades, dizendo verdades sem a importância da magoa alheia. “Temos crianças e cachorros, por que não mulheres?”, pergunta-se sarcasticamente. As digressões de memória utilizam fotografia nostálgica e granulada (que mais tarde se funde na atual).
Quando algo que machuca é dito, o diálogo mostra o contra ponto. “É forte, mas a intenção foi boa”. Um das direções, contraditórias, deste filme, é o não conhecimento futuro. O próximo passo é definido por reviravoltas inesperadas. É a vida ajudando, dentro da ficção cientifica. Como de se esperar, as situações surreais, absurdas e improváveis pululam-se. O tom romântico impera e tudo é feito para que a mocinha seja salva (apelam até a ressurreição). Há inúmeras perdas de ritmo. Uma delas é a cena dos índios (usando o chá Santo Daime para que o protagonista retorne com suas lembranças – intensificadas por alucinação). Assim cansa e faz a quem assiste olhar o relógio. A metáfora filosófica retorna ao seu estado bruto, quando inserem a informação de que os aliens “estudam as fraquezas humanas”. “Não olhe para luz”, ordena-se. Há muitas falhas, como as moscas que aparecem segundos depois de uma morte. A mensagem que o filme passa é a de que esquecer faz o recomeçar descobrir quem a pessoa realmente é. Mas não sustenta o contexto, que busca agradar a gregos e troianos, cansando, divertindo e experimentando. É muita coisa abordada em um curto período de tempo. Não se pode negar que é um longa-metragem interessante. Contudo, não foi aproveitado em sua consistência. Um bom filme, nada mais que entretenimento.
O Diretor
Jonathan Kolia “Jon” Favreau nasceu Nova Iorque, 19 de outubro, 1966. Dirigiu “Elf” (2003), “Zathura” (2005), “Homem de Ferro” (2008) e “Homem de Ferro 2” (2010). É um ator comercial americano. Foi roteirista em “Encontro de Casais” e “Swingers”.
3
Nota do Crítico
5
1