Curta Paranagua 2024

Corgi: Top Dog

Corgi: Top DogCorgi Top Dog

Sem carisma e repleto de arrogância

Por Vitor Velloso

 

 

Uma animação que soava despretensiosa, passa a ter contornos curiosos com seu início de projeção. Partindo de um plot no mínimo genérico, “Corgi Top Dog” irá tratar da vida dos cachorros da rainha Elizabeth reagindo à visita de Trump à rainha e como a vida da realeza se modifica ao descobrir que o principal cão da rainha, sumiu. A trama enfadonha e repetitiva, vai abordar aspectos políticos do governo britânico e estadunidense, com os estereótipos regendo esses comentários, uma fortaleza de vigor magnânimo da rainha e uma futilidade do império econômico norte-americano, representado por coca-cola e hambúrguer.

Mas tudo isso se esvai com o texto estruturalmente canhestro, que só utiliza desta ambientação de dissonâncias concordantes, para mergulhar tudo em uma trama completamente previsível que já foi contada inúmeras vezes no cinema. Além destas questões, alguns diálogos excessivamente expositivos aborrecem os adultos que recebem atenção no princípio político. Essa dicotomia do público-alvo fica clara com a perda do tom que se perde com o passar do tempo, pois alguns comentários da vida adulta são explícitos para crianças e por vezes, situações hiperbólicas de didatismo parece zombar do público que acompanha as outras anedotas.

Visualmente não torna-se tão estimulante pois a animação possui texturas detalhadas, para animais, e os humanos um retrato de expressões realistas, mas parte das movimentações dos personagens variam entre o caricato e uma artificialidade que não compreende à narrativa, criando uma estranheza em situações que eram para ser cômicas e causam estranheza. Infelizmente o aspecto mais chamativo de qualquer animação, para o público infantil, que é a imagem em si, não consegue seduzir o mesmo, visto que as cores seguem problemáticas próximas às do movimento, são inconsistentes. E se o roteiro também não dá o estímulo necessário para os adultos se interessarem pelo projeto, o filme acaba tendo os espectadores abandonando a necessidade de acompanhar os personagens e a trama.

A trilha sonora segue o padrão da mediocridade dos grandes longas comerciais, buscam emoções de gatilho fácil no grande público. O recurso é constantemente utilizado pela indústria, só pra garantir um reflexo positivo no público, a medida é sempre o exagero completo, pois quanto mais lúdico se torna as provocações da produção, o espectador se permite à catarse da história.

Seguindo à rotina de previsibilidade e noção de produto de “Top Dog”, a progressão narrativa nos deixa claro que toda a proposição política inicial era um exercício de conciliação com uma parcela adulta. O reflexo de todas as escolhas deixa claro que o longa permite entrar no ciclo de fragilidade com um vigor pouco admirável. A aparente aceitação dessas questões está ligada ao processo de aceitar o padrão comercial na forma e na temática. E se é fácil reconhecer isso à primeira vista, isso se comprova com o pós sessão, quanto mais nos lembramos do filme, seu enfraquecimento é iminente, logo, nossa experiência vai tornando a memória turva. O quão esquecível é “Top Dog” dependerá do engajamento direto de quem for à sessão, mas impressionar alguém será um desafio à parte.

Outro problema é a identificação das crianças com os personagens, pois uns são violentos, outros suicidas, sexualidos etc. Além claro, do tratamento luxuoso que eles recebem, gerar diversos comportamentos assombrosamente mimados e arrogantes, o que não justifica algumas atitudes dos que ajudam o protagonista. Quase todos os cachorros da realeza são desprezíveis, que impede a torcida do público por eles, apenas a caracterização carismática que salva nesse processo.

“Top Dog” não é um projeto desprezível em sua natureza, muito menos tóxico com relação à indústria, ele apenas garantem parte da bilheteria e aceita passar em branco no ano de 2019. Porém, a direção de Ben Stassen, Vincent Kesteloot comprova a fraqueza que nasce no roteiro e vai à pós-produção. Não satisfeito com isso, o filme ainda se divide de maneira grosseira em seu tom, deixando a impressão de 2 projetos diferentes na mesma projeção.

 

Corgi: Top DogCorgi Top Dog

Uma animação simplesmente bizarra

Por Pedro Guedes

 

 

“Corgi: Top Dog” é um filme estranho – tão estranho que, honestamente, me sinto incapaz de odiá-lo. À primeira vista, é uma animação estúpida, genérica e tecnicamente abaixo do padrão oferecido pela Pixar, por exemplo; na prática… bem, é exatamente isso, só que com um senso de humor bisonho que frequentemente faz o projeto soar, no mínimo, como uma experiência peculiar. Não é um filme que desperta ódio (na verdade, não é sequer um filme que deixa o espectador de saco cheio); é, em vez disso, um filme que leva o espectador ao sentimento de “What the Fuck???“. Em resumo: é uma animação muito, mas muito esquisita – infelizmente, isso não a torna necessariamente boa.

Dirigido pelos mesmos Ben Stassen e Vincent Kesteloot de “Sammy: A Grande Fuga” e “As Aventuras de Robinson Crusoé” (duas animações que também não são grandes coisas), “Corgi: Top Dog” nos apresenta a Rex, um cachorrinho corgi que vive no Palácio de Buckingham e é o favorito (“top dog“) da Rainha Elizabeth. Embora seja composta por pura mordomia na maior parte do tempo, a vida de Rex é virada de cabeça para baixo assim que a Realeza recebe a visita do presidente Donald Trump e da primeira dama Melania Knauss. (Pausa para recuperar o oxigênio após descobrir que o Trump virou personagem de desenho animado…) Depois que a cadelinha do casal Trump tenta forçar Rex a ter uma relação sexual com ela (mas o quê?????) e o corgi destrói boa parte do Palácio de Buckingham, a Rainha Elizabeth fica tão decepcionada com o cachorro que ele se sente mal, foge para a rua e vai parar em um canil.

Ah, esqueci de mencionar: “Corgi: Top Dog” é uma animação para crianças. A partir daí, já podemos perceber o primeiro problema do filme: a sua incapacidade de decidir qual será o público-alvo. Por um lado, Ben Stassen e Vincent Kesteloot e os roteiristas John R. Smith e Rob Sprackling criam uma narrativa bobinha e povoada por personagens caricatos que obviamente foram concebidos para agradar à parcela mais jovem da audiência; por outro, estamos falando de um desenho que não só conta com a participação de Donald “Laranja Irritante” Trump como ainda inclui sequências onde uma cadelinha tenta forçar um corgi a ter uma relação sexual com ela, onde um cachorrinho pega fogo e onde uma vira-lata surge em uma dança sexualizada!

1 Nota do Crítico 5 1

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