Confira o que aconteceu na abertura do 14a CineBH 2020
Mostra de Cinema de Belo Horizonte começa com debate inaugural Arte Viva: Redes em Expansão
Por Vitor Velloso
O CineBH 2020, que acontece online e gratuito, tem sua inauguração com um debate ilustre com Germano Melo – diretor, roteirista e ator do curta “Coisas úteis e agradáveis”, Grace Passô – atriz, dramaturga e diretora de “República“, Juracy de Oliveira – diretor de “12 Pessoas Com Raiva” e criador do Pandêmica Coletivo Temporário de Criação, Luciana Eastwood Romagnolli – crítica e curadora de teatro, com mediação de Pedro Butcher – curador do CineBH e colaborador Brasil CineMundi. Debate-se a questão: Arte Viva – Redes em Expansão.
A conversa se deu como pontapé inicial para a Mostra e chega como uma abertura de sentidos para a temática que deu nome ao debate, delineando conversas possíveis no Brasil de hoje e produções urgentes neste período pandêmico e descaso político. Como de costume, a Universo Produção cria um espetáculo performático para marcar o início do evento e já assume suas frentes políticas em perspectiva da temática e curadoria. Sempre vislumbrando as representações como norteadoras deste palco brasileiro, atualmente virtual.
O debate focou suas forças em consolidar o tempo e o espaço das produções enquanto movimentos políticas de embate à atual situação do país, reforçando a questão da pandemia. Assim, toda a conversa se tornou um grau de exposição em torno dessas frentes possíveis, em acessibilidade, consumo e suas formas. Acabou caindo em digressões ocasionais, mas sem criar um paralelismo que fugisse à temática.
“O convite que recebemos para esse destaque nos fez, pela primeira vez, nós olharmos um pouco de fora para nós mesmos, entendendo esse olhar carinho e atento que recebemos. Ressalto a porosidade desse festival e desse momento que estamos vivendo aqui hoje”, disse Juracy. “Estamos descobrindo agora que palavras como encontro e afeto são muito maiores do que a gente imaginava”.
Em relação ao Pandêmica, Juracy de Oliveira disse que as palavras-chave da agremiação de artistas são “temporário” e “coletivo”. “A cada vez que a gente fala ‘temporário’ nós somos lembrados de que essa situação em que estamos vai acabar, e ‘coletivo’ porque nos formamos a partir de muito afeto”, contou o diretor.
Confira o que aconteceu na abertura do 14a CineBH 2020
A inauguração serviu como uma espécie de preparo para questões que seriam apresentadas em “12 Pessoas com Raiva” de Juracy de Oliveira. A releitura de “12 Homens e uma Sentença” de Lumet foi um dos pontos altos da noite. Existe aqui um movimento de retorno às bases de interpretações e representações, atravessando o monumento original que possuía apenas homens, brancos. A obra de Juracy reconstrói o texto de Rose a partir de um Brasil, plural, onde a pandemia traria uma perspectiva geográfica e social diferente da padronização de um júri.
Pessoas do Brasil inteiro se conectam para falar do julgamento. As perspectivas distintas, formas de enxergar, classes etc, tornam o exercício algo mais imediato e material como vislumbre de uma realidade nacional, além de traçar retratos interessantes de arquétipos conservadores, misóginos, racistas, eugenistas etc. E é onde a linguagem da obra se desdobra para captar essas nuances a partir da tela de um computador e multitelas como uma não-objetiva única. É um movimento esteticamente bastante rico, que não secciona etapas da produção como verve particular diante de toda sua construção. Vale ressaltar que toda a construção segue à risca o modelo do clássico, mas adiciona camadas culturais que nos aproxima mais dessa história. Os personagens encarnam papéis políticos parcialmente bem-definidos, sendo possível enxergar em cada um deles Partidos (uma diversão particular).
O fim do filme possui um momento sensível, no encontro de duas mulheres, onde uma base necessariamente brasileira, material, é evocada pelo espectador durante a “cena”. Acaba cedendo à uma formalização política no plano final, onde unilateraliza alguns pontos anteriores, porém possui méritos.
O longa é uma base bem interessante para a discussão proposta no debate inaugural, já que consegue relacionar as posições políticas inicialmente expostas, assim como servir de parâmetro para uma construção dessa linguagem e desse modo de produção/consumo de peças, obras audiovisuais e etc.
É uma abertura que marca de forma intensa seus posicionamentos, relaciona muito bem com sua temática e consegue causar um primeiro impacto para o que será da Mostra CineBH deste ano, ainda por contar com o curta de abertura: “Coisas Úteis e Agradáveis” de Germano Melo e Ricardo Alves Jr. que terá crítica escrita aqui no site.
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Confira o que aconteceu na abertura do 14a CineBH 2020