Como Hackear Seu Chefe
Um formato que ainda vai render....
Por Vitor Velloso
“Como Hackear Seu Chefe” de Fabrício Bittar chega às plataformas de streaming brasileiras surfando na onda dos longas gravados “diretamente” da tela do computador e celular. Recentemente o espectador brasileiro teve a oportunidade de vislumbrar o lançamento na Amazon Prime de “Me Sinto Bem com Você” que agora é convidado a se aventurar em mais um universo virtual.
A memória recente não trás boas lembranças dos últimos projetos realizados no formato e o longa de Bittar não se distancia tanto do que foi exibido recentemente. Apesar de conseguir arrancar algum riso ocasional, tropeça em diversas piadas do mundo empresarial e surge com uma comicidade pouco regular que depende de sequências específicas para manter o espectador interessado. “Como Hackear Seu Chefe” trabalha com os estereótipos de coaching, guru, funcionário exemplar, canastrão e caçoa da “revolução particular” mas vacila ao costurar essa comicidade na própria narrativa. Por essa razão, o longa funciona em blocos que possuem altos e baixos maiores que pretendia. O eixo que mantém o foco das bandalheiras de um relacionamento que se foi, é demasiadamente forçado e incapaz de estruturar uma base dramática mais sólida para o protagonista.
Porém, a relação entre Victor (Victor Lamoglia) e Mariana (Thati Lopes) acaba mantendo parte da produção em funcionamento. Está certo que o humor caminha, muitas vezes, para uma escatologia que Lamoglia explora de maneira estereotipada, cumprindo as intenções dos projetos em que é creditado, mas a abordagem não consegue se firmar e depende diretamente desses recortes de uma “montagem paralela”, fazendo com que o longa seja dependente da química entre esses personagens. E aí o negócio dá uma desandada, porque boa parte dos personagens estão ali para cumprir uma função imediata, ocasional, fazer parte de uma piada e sair de “cena”.
Se esse dinamismo não funciona por completo, Bittar se esforça para cadenciar o máximo de informações possíveis em pouco tempo. Entre Facebook, Instagram, Stories, Whatsapp, Áudios, e-mails, Skype, jogos eletrônicos etc, a forma tenta trabalhar com os diferentes formatos e exibições em “Como Hackear seu Chefe”. Mas esse jogo ainda depende diretamente de uma fisicalidade mais direta de parte dos atores, em especial o protagonista, que possui algumas licenças “narrativas” para criar esquetes menos burocráticas e mais imediatas. Essa construção é relativamente previsível, já que o texto se prende às frases de efeito e como os erros generalizados desencadeiam reações programáticas de seus próprios personagens. Esse modelo quase automatizado que o humor articula, acaba cansando rapidamente e a metade final é lenta, pouco eficiente e passa a apelar para manifestações individuais mais severas. A “catarse final” que envolve uma exposição maior dessa escatologia, mostra que a obra decide apelar para conseguir um desfecho que consiga causar impacto para além da webcam, sendo mais… orgânico (com perdão do trocadilho).
O espectador percebe uma evolução minimamente consciente dessa forma de “Área de Trabalho” para as produções cinematográficas, mas carece de uma comicidade que dê conta de uma estrutura narrativa mais complexa que parece, ainda que programática. A ideia por trás do título, que dá o pontapé inicial para o filme funcionar, é uma mera desculpa para que os blocos possam funcionar a partir do “absurdo” das situações. As aspas aqui é pela recorrência que as pessoas mandam emails errados para seus chefes (algo que uma boa parte dos leitores já devem ter presenciado em algum momento).
Essa proposta de linguagem já mostrou que é capaz de conseguir alguns efeitos interessantes, “Amizade Desfeita 2: Dark Web”, “CAM”, “Hosts” e “Buscando…” são exemplos de algumas tentativas de realocar a forma para a indústria cinematográfica.Parte dessas investidas foram bem sucedidas, parte não. Está claro que é uma possibilidade sólida de construir uma obra e conseguir algumas cifras. “Buscando…” e “ CAM” formalizaram isso de maneira mais concreta e devem ser superados em breve, por ora, “Como Hackear Seu Chefe” demonstra que a consciência desse formato já está relativamente sólida, só falta encaixar melhor algumas propostas que logo mais o espectador estará ansiando por mais filmes neste formato.