CineOP 2023: Um foguete rasgando o céu

CineOP 2023: Um foguete rasgando o céu

Saiba tudo o que aconteceu no primeiro dia da Mostra de Cinema de Ouro Preto, que chega à maioridade com sua 18a edição

Por Vitor Velloso

No primeiro dia de cobertura da CineOP 2023, a cerimônia de abertura e a homenagem a Tony Tornado aconteceram na Praça Tiradentes, com forte presença do inverno Ouro Pretano. Procurando sintetizar a relação da música preta brasileira e o cinema, ninguém melhor que Tony Tornado para simbolizar uma página tão bonita do cinema e da cultura brasileira. 

Não por acaso, a emoção tomou conta da cerimônia e não era difícil encontrar lágrimas no rosto dos espectadores. 

Celebrando o cinema como patrimônio, a CineOP, além de homenageá-lo, estruturou uma coletiva de imprensa horas antes da cerimônia, onde Tony contou sua história, lutas e dificuldades de inserção na TV Brasileira. 

Desde 1975 na Rede Globo, Tony lembra que era o único negro de Roque Santero e comemora a maior participação de atores negros nas novelas brasileiras contemporâneas. Além disso, diz que na emissora não há nomes próprios, mas sim números, seja contrato ou salário, e afirma: Milton Gonçalves é o número 01. 

Mas Tony alerta sobre uma questão urgente, a Globo não faz nenhuma novela sem pesquisa de mercado, ou seja, a sociedade brasileira é participante ativa dessa exclusão.

Entre as diversas histórias contadas, Tony lembra de seu exílio forçado durante a ditadura brasileira e que morou em diversos países no mundo. E mesmo assim afirma que o Brasil é o melhor lugar do mundo. 

“Voltei fudido do país que me fudeu”. 

Essa frase sintomática parece carregada de tanta dor quanto de orgulho pela própria trajetória. 

A coletiva de imprensa foi uma excelente oportunidade de debater não apenas a brilhante carreira de Tony, mas de como a sociedade brasileira funcionava/funciona. Além disso, introduziu uma parcela das questões que foram debatidas na cerimônia de abertura, desde o retrato da música, TV e cinema brasileiro, a partir da figura icônica do homenageado. 

Especial Cavi Borges - Especiais

Após a cerimônia de abertura foi exibido o filme “Baile Soul“, de Cavi Borges. 

A intersecção entre cinema e música, temática central da CineOP, homenageia um dos grandes nomes de uma geração que marca para sempre a cultura nacional. 

Transcrevo aqui uma parte da interessantíssima entrevista que Bernardo Oliveira fez com Tony, presente no catálogo da CineOP:

Bernardo: Você está sendo homenageado pela CineOP, Mostra de Cinema de Ouro Preto. Ouro Preto hoje é uma cidade simbólica do ponto de vista do negro…

Tony: Ouro Preto tem alguma coisa a ver com Chico Rei? 

Bernardo: Tem. [Nota do editor: Chico Rei era Rei do Congo, acabou capturado com a família por portugueses e enviado ao Brasil para ser vendido como escravo. Durante o trajeto, sua mulher, a Rainha Djalô, e a filha, Princesa Itulo, foram lançadas ao mar. Por sua devoção a Nossa Senhora do Rosário dos Pretos e a Santa Efigênia, construiu, com outros negros, em Vila Rica, uma igreja dedicada à família, no ano de 1785]. 

Tony: O que acontece é que Ouro Preto tem uma importância histórica, que eu gosto muito. Fui, inclusive, cogitado para fazer a vida de Chico Rei, que, todo mundo sabe, foi um negro que revolucionou o tráfico de ouro, das minas etc. Ele tem grande relevância nisso. Não fiz esse filme, fiquei frustrado por não ter feito. Eu conhecia a história, mas escolheram outro ator. Quanto ao cinema, fiz alguns filmes, não fiz tantos quanto faço de TV, mas os filmes que fiz foram todos muito significativos. Até as chamadas bandalhas do Centro de São Paulo, trabalhei em muitos filmes na Boca do Lixo. Fiz com o Tony Vieira, com o Jean Garrett…E eu fiz Pixote, pouca gente sabe.

A cerimônia de abertura apresentou as temáticas ao público, com vídeos e performances. 

. Preservação: Patrimônio Audiovisual Brasileiro em Rede 

. Histórica: Imagens da MPB – Música Preta no Brasil

. Educação: Cinema e educação digital: deslocamentos 

Com participações especiais de: Alexandre de Sena, Lira Ribas, Maurício Tizumba, Silvia Gomes, Guarda de Moçambique Nossa Senhora do Rosário e de Santa  Efigênia e Guarda do Congo Nossa Senhora do Rosário e de Santa Efigênia – Capitão Rodrigo. 

Acompanhe a cobertura in loco, à convite do CineOP 2023 nas redes sociais e aqui no site!

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