Cobertura da 16a Mostra de Cinema de Ouro Preto
CineOP 2021 e A Preservação de Conteúdos em Redes Sociais
Por Vitor Velloso
O debate que abriu o segundo dia da programação da 16ª CineOP (acesse o site), “A Preservação de Conteúdos em Redes Sociais” teve como convidados: Ana Pessoa – Mídia Ninja e Fora do Eixo | RJ, Anápuàka Tupinambá – Rádio Yandê e Rede de Cultura Digital Indígena | RJ, Dalton Martins – UnB/Projeto Tainacan | DF com a mediação de Mário Augusto Medeiros da Silva – sociólogo e escritor | SP e contava com uma apresentação que situava a conversa. “A produção de conteúdo tem se intensificado mundo afora. No Brasil, essa intensa produção não está no escopo de prospecção de instituições tradicionais de patrimônio audiovisual. A responsabilidade pela preservação dessa produção individual, de coletivos ou associações é de seus próprios agentes. Quais são as ações de preservação de diferentes frentes de produção de conteúdo propagado em redes sociais? Existe uma consciência da importância da preservação, quando se produz e difunde conteúdo em redes sociais? De que forma podemos fortalecer o viés preservacionista desses produtores de conteúdo?”
Após uma apresentação sintética e didática, onde Dalton explicou como funcionam os dados na internet e o próprio fluxo desse conteúdo, Ana Pessoa falou da importância de se pensar para além dos “três pilares” do audiovisual (produção, distribuição e exibição), ou seja, preservação. O caso particular da Mídia Ninja é curioso pois eles sofrem, e se utilizam, de uma falta de “autoria” de parte desses conteúdos. Está claro que aqui não é espaço para devaneios em torno do que é o jornalismo, funções, formatos etc. Ana falou bastante sobre a possibilidade de resgate da memória e como esse esquecimento influencia a percepção de uma realidade política. A fala lembrou bastante um comentário recente de Pepe Escobar sobre os acontecimentos de 2016, suas fragmentações e como isso será lembrado nos anos futuros. Porém, as principais articulações de Ana Pessoa foram em tom de cobrança de iniciativas governamentais para essa regulação, algo que está sendo “cozinhado” (a passos de tartaruga, já que o interesse por essa regulação também passa pela automação da desinformação) pela política nacional há tempos.
Anápuàka Tupinambá partiu dessa compreensão problemática da política nacional na absorção desses conteúdos mas abriu a fala com uma pergunta de suma importância: “A história, a memória e como as tradições foram passadas do analógico, da oralidade, para o digital?”. E fez severas críticas aos algoritmos nesse mesmo caminho falando: “a história analógica, do papel, elas tinham os mesmos problemas que nós temos hoje no digital, algoritmo brancos, às vezes racistas, porque algoritmo ele também se propõe de uma forma sociológica também, desconstruidor de sociedades ele só passa a ser, construtor e entender a etnicidade, nações, gêneros, raça, quando ele tem um princípio o de estudo social e no conceito de mercado. Fora isso, ele tem sua vertente de ser segregador”.
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Ao ressaltar que a “autoralidade” é inconcebível nesse sistema imperialista de comunicação, através de redes internacionais, que usurpam desses conteúdos e detém os direitos sobre ele, suas reflexões giraram em torno de como essas narrativas, em especial indígenas, vão contra “o orgânico” que marca a vida dessas pessoas. “Construir conteúdo lá, é perder o nosso espírito de direito.”
No debate de maneira mais dinâmica Dalton ressalta a importância da “necessidade de pensar políticas públicas relacionadas a isso. É fundamental que a gente enxergue nossas instituições de memória que precisam se atualizar para o século XXI. Em outro aspecto… É como os movimentos sociais, as organizações, também estão atuando em conjunto nessa dimensão”. Essa cobrança por uma atualização vem em momento oportuno, logo após o professor dirigir críticas às políticas neoliberais que concentram esses conteúdos e “regulações” em empresas. E sobre essa perda de conteúdo para essas redes imperialistas de armazenamento, reforça que “A partir do momento que a gente produz e põe ali, aquilo já não é mais nosso”.
A mesa em torno da “Preservação de Conteúdos em Redes Sociais” levantou questões gravíssimas e extremamente atuais que devem ser debatidas com cautela, com a seriedade necessária. A Temática da Preservação do audiovisual possui, hoje, um caráter ainda mais complexo.
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