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Catadora de Gente

A colecionadora de vidas

Por Pedro Guedes

Durante a Mostra Sesc de Cinema 2019

Catadora de Gente

Quando o oprimido não entende a sua condição de subjugado, fica fácil, para o opressor, manipulá-lo e fazê-lo continuar em suas mãos. Maria Tugira da Silva Cardoso demonstra ter adquirido esta consciência: coordenadora da Associação de Catadoras e Catadores Amigos da Natureza (Aclan), sediada na cidade de Uruguaiana, Rio Grande do Sul, a senhora está na ativa há mais de 30 anos e tem uma história de vida triste, mas que diz muito sobre o Brasil desigual em que vivemos – e é fundamental que uma história como esta seja contada, nem que seja em um curta de modestos 17 minutos.

Dirigido por Mirela Kruel (“Palavra Roubada”, “Nordeste B” e “Trilhos, um Poema Incurável”), “Catadora de Gente” se concentra única e exclusivamente no depoimento de Maria, uma catadora que, através de seus relatos, acaba oferecendo um panorama a respeito dos principais problemas crônicos do Brasil, remetendo em parte à história do metalúrgico Cristiano, de “Arábia”. A partir daí, somos apresentados à visão de alguém que tem conhecimento e “lugar de fala” – e chega a ser particularmente trágico, por exemplo, que seus depoimentos exponham não só a dominância da elite (interessada em manter seus subjugados na ignorância), mas também a sensação de pertencimento à qual os pobres e os oprimidos estão submetidos (em certo momento, a protagonista diz que não gostaria de catar lixo, mas que infelizmente tem que fazê-lo, pois não há alternativa). E que Maria ainda assim termine a projeção com um sorriso no rosto é um forte testemunho de sua perseverança.

Intercalado por imagens que reconstituem com precisão as memórias contadas pela protagonista, o depoimento de Maria é tão rico que, confesso, me fez torcer para que voltasse a ser contado em uma versão mais longa. O conteúdo mostrado por “Catadora de Gente” é promissor demais para ser resumido em dezoito minutos.

4 Nota do Crítico 5 1

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