Brichos 3 – Megavirus
O perigo das telas
Por Vitor Velloso
Depois do lançamento de “Brichos” (2006) e “Brichos 2: A Floresta é Nossa” (2012), “Brichos 3 – Megavírus”, de Paulo Munhoz, chega para o público brasileiro provocando novos debates e alertando que o roteiro foi escrito 5 anos antes da pandemia da Covid-19, logo, não possui uma relação direta com os acontecimentos da pandemia, ainda que tenha sido realizado totalmente durante seu período, o que abre margem para a inserção de algumas discussões durante sua produção.
Apesar de sua suposta ingenuidade no trato de temáticas importantes, a obra provoca uma reação curiosa no espectador, pois por conta da semelhança contextual permite que uma série de correlações possam ser pensadas a partir do desenvolvimento do filme. Seja a partir da disseminação do vírus se dar através do celular, ou da moralidade de um ladrão que se aproveita do pânico para roubar com impunidade, “Brichos 3 – Megavírus” possui fortes relações, em alguma medida, com a realidade brasileira, para o bem e para o mal. Neste sentido, existe uma tentativa de trabalhar os sotaques de seus personagens com as particularidades regionais do Brasil, cada um carregando um sotaque próprio, como uma espécie de tributo à diversidade nacional.
Mas ainda que existam esses espaços para racionalizar críticas ao Brasil e/ou à sociedade, o longa tem dificuldade de encaixar suas ideias mais maduras em suas investidas nesse universo que procura tornar o olhar cada vez mais acessível, ou ingênuo. Desta forma, o filme parece ir se distanciando dos dois lados, mantendo-se em um termo limite, enquanto utiliza uma série de dispositivos para gerar um entretenimento genuíno. Mesmo que algumas piadas não sejam eficazes, o interesse por uma imagem que tenha uma atração imediata domina a representação, criando relações com o nome dos animais do mundo real e figuras reais, como Steve Joboti, que aparece em um pôster no quarto de um dos personagens. E nesse sentido, a construção de “Brichos 3 – Megavírus” até possui o mérito de ser coerente na forma como desenvolve seus espaços e referências, mas revela suas fragilidades em transformar essas ideias em algo que realmente impulsiona a narrativa a um lugar sólido. Por essa razão, deve-se mencionar que a escolha de retirar a profundidade de campo do projeto visual até funciona para simplificar a imagem, concentrando a atenção do espectador no primeiro plano, o que tem um efeito dúbio. Por um lado, permite que exista uma centralidade maior, mas com a grave consequência de enxugar suas possibilidades, encerrando caminhos que são abertos pela própria representação que faz do problema pandêmico, questão central da sinopse.
Contudo, apesar do que já foi exposto, existe um didatismo importante para um problema contemporâneo, que é vício e a dependência das telas de tablets, computador, celulares etc. Essa forma de propagação do vírus, acaba permitindo refletir sobre as configurações de uma sociedade que não se permite viver fora de um escopo encerrado por uma tela de luz azul. Inclusive, o debate sobre o tempo de tela para crianças vêm crescendo no Brasil e no mundo, as mazelas da prática e as consequências a curto e longo prazo para o desenvolvimento da criança.
Os personagens Tales (Diegho Kozievitch), Bandeira (Jeff Franco), Jairzinho (Renet Lyon), encarregados de salvar sua região, se vêem em uma narrativa, que apesar das possibilidades de discussão, se mantém em um lugar comum tão seguro quanto confortável, sem se arriscar demais em nenhum lado e criando uma manutenção dessa superfície que expõe.
“Brichos 3 – Megavírus” é mais frágil que poderia e se sustenta com breves saídas fáceis, mesmo pavimentando terreno para discussões que são de grande relevância para a sociedade, os pais e as crianças. A sobrevivência dessa animação nacional nas salas de cinema do país será difícil, a concorrência predatória norte-americana não permite muitas margens para outras salas. O celebrado casamento do dia 20/07/2023, “Barbiehemier”, não leva em consideração que qualquer outro projeto que dispute exibição com os dois filmes norte-americanos, provavelmente será engolido. Devemos ficar na torcida pelo mínimo de reconhecimento e dignidade na sua distribuição, ainda que as perspectivas não sejam animadoras.