Reprise Mostra Campos do Jordao

Brazyl – Uma Ópera Tragicrônica

Sintoma trágico

Por Vitor Velloso

Brazyl – Uma Ópera Tragicrônica

“Brazyl – Uma Ópera Tragicrônica” de José Walter Lima, adaptado do texto teatral “Brazyl Poema Anarco-Tropicalista”, procura funcionar como uma crítica política brasileira, especialmente acerca dos conservadores e do funcionamento democratico. Sem conseguir se afastar da estrutura teatral, a obra se articula em sketchs de duração variada, que tentam refletir sobre parte da história nacional, procurando uma relação direta com acontecimentos políticos contemporâneos, muitas vezes referenciando falas de candidatos e ex-presidentes. 

De forma desordenada, as cenas vão se amontoando com superficialidade, marcadas por uma profunda caricatura, tanto de conservadores quanto de “progressistas”. Isso porque seus caminhos críticos são tão desajustados, que reforçam estereótipos e fragilidades no campo do debate público, tornando a experiência particularmente constrangedora. Por exemplo, quando o longa procura fazer piada com o funcionamento da democracia brasileira, introduzindo uma figura para representar um político brasileiro, a serviço de empresários e militares, fazendo constantes piadas com a esquerda brasileira, e conversando com uma política francesa acerca do papel do povo na democracia, apenas reforça a perspectiva de como as democracias europeias supostamente são o exemplo a ser seguido. Tal pensamento revela que “Brazyl – Uma Ópera Tragicrônica” é uma crítica esvaziada, com fortes características burguesas e tão superficial que expõe sua face envergonhada pelo senso comum. Não por acaso suas sketchs soam textos de rede social, representando tanto o pensamento conservador, quanto o mais ignóbil dos autoproclamados progressistas. 

Assim, quando decide brincar com a suposta falta de intelecto de apoiadores de políticos conservadores, mencionando sua “burrice” de forma literal, com um ator imitando o animal, e o político falando coisas sem sentido enquanto seus eleitores aplaudem e batem palma, o longa revela sua superficialidade ao analisar o contexto eleitoral brasileiro, demonstrando trabalhar em torno de uma noção limitada de discussão política, preconceitos e sem contextualizar a forma como os discursos são veiculados, seus verdadeiros impactos etc. Ou seja, trata-se de um projeto anacrônico, mesmo que parte sua intencionalidade seja a de correlação temporal entre o passado brasileiro conservador e a atual frente de mesmo espectro político. O problema da estrutura do projeto não é de procurar costurar essa ligação, mas sim de negar que é necessário realizar uma construção para realizar essa afirmação, pois quando o apontamento fica limitado a uma exposição quase aleatória dentro de um projeto, torna-se apenas irresponsável. Desta forma, “Brazyl – Uma Ópera Tragicrônica” se torna sintomático de um cinema contemporâneo que está mais preocupado em encerrar discussões políticas através do tom jocoso e da sketch literal, que de transformar suas discussões em um projeto cinematográfico. Não por acaso todas as características teatrais são mantidas na íntegra e a experiência se assemelha mais com um compilado de quadros de um canal de YouTube. 

Por mais que seja possível entender que havia uma boa intenção por trás da realização do filme, sua articulação é tão desordenada e superficial, que torna-se perigosa. Pois se mantém presa em uma representação estereotipada de todos os espectros da política brasileira, realizando críticas de um claro lugar de conforto e tão clichê que torna-se realmente uma experiência exaustiva e previsível, aliás todos já vimos essas mesmas representações, denúncias e paródias incontáveis vezes e seu esvaziamento é acelerado. Até mesmo sua montagem é repetida, com a mesma dinâmica de transição desses projetos, com uma fotografia direta e pouco criativa, mesmo quando aproxima a câmera do rosto de seus personagens e procura alguma imagem menos corriqueira. 

“Brazyl – Uma Ópera Tragicrônica” não sabe como incitar suas discussões e apenas reproduz discursos de forma pouco criativa e bastante unilateral, sem saber criticar o atual contexto político brasileiro, acaba por tornar-se o pior estereótipo da suposta resistência ao crescente conservadorismo brasileiro, definindo de forma leviana o capitalismo e o fascismo brasileiro, seguindo uma cartilha datada e que não compreende nem a particularidade nacional, nem o atual contexto. Por fim, é um projeto que permite o espectador questionar qual a verdadeira intenção, já que a execução é tão turbulenta e desprovida de uma clareza teórica, ou mesmo analitica, que toda sua suposição crítica é mantida em suspensão para agradar o ego de uma esquerda brasileira tão desmantelada e em uma profunda crise estética, que torna-se excludente, onde a própria figura do trabalhador parece fantasmagórica e institucionalizada pelo arquétipo formulado pelas redes sociais.

1 Nota do Crítico 5 1

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