Curta Paranagua 2024

Blackout

Homônimo crítico

Por Vitor Velloso

Durante o Festival de Gramado 2020

Blackout

Os sintomas da polarização do debate político são sensíveis. Quanto mais se polariza mais se corrói o pensamento crítico, a compreensão dos problemas para além da histeria coletiva vira uma utopia. Parte do cinema brasileiro contemporâneo está correndo de mãos dadas com o reacionarismo, pois não o compreende, não consegue enxergar que a palavra está além de sua vulgarização categórica. Torna-se alienado ao seccionar as pautas em termos contraditórios em si, flexiona o diálogo para gritar e apontar o dedo, sem nem mesmo entender que axioma nos travou. Mas “Blackout” se encontra na ponta de lança midiática, está em Gramado não? Logo, chamemos pela dimensão que possui: alienador. 

Muitos podem repudiar o termo acima. Mas sejamos honestos com o raciocínio. 

Existe uma forte tendência de fugirmos da realidade quando o mundo que nos cerca é algo caótico, desastroso, moribundo, moralista, tacanho, canhestro, amador, violento….genocida e reacionário, porque não? Mas é necessário que se compreenda a verdadeira razão de um paralelismo do material, sem sermos coniventes com a pequeneza do pensamento adversário. Há poucos dias fiz uma crítica ao “realismo fantástico” no cinema. E lá questionei acerca de qual caminho os produtores tomariam para pensar a realidade brasileira, sem ser conivente com a classe dominante. O texto deixa claro sua intenção, não vejo razão de retomá-lo. Mas aqui cabe pensar onde a imaginação futurista irá caminhar. Será na digressão formal a partir do afrofuturismo, na assimilação do “lacre” como dispositivo que repele a demência direitista? “Negrum3”. Ou mesmo o materialismo de “Branco Sai, Preto Fica”, que compreende a cultura fora de uma possível alienação no debate político. 

“Blackout” de Rossandra Leone, é um sintoma do Brasil contemporâneo. É uma reação comum ao cenário político atual, é um grito de basta, é a utilização do futuro apocalíptico, onde o capitalismo subverteu o Estado e agora haverá uma revolução, pois um vídeo foi postado, convocando. É tão ingênuo quanto o encaminhamento final de “Years and Years”. Onde a linguagem não vira centro do debate na compreensão de um movimento, há apenas o prosaico, episódico e tacanho. O que temos é um discurso irrisório, com articulação no lugar comum, onde a histeria adolescente vira a tônica do jogo. Não há propriamente nada além de um expurgo. Uma utopia alienada, onde uma revolução que colocaria abaixo o “Estado” e o “capitalismo” é convocada por uma movimentação hacker. Já havia feito a denúncia que a ideia anarquista de quinta categoria é perigosíssima, pois de nada vale querer fazer sangrar sem ter o que repôr. E sintetizar o capitalismo em um imaginário de “robôs” e “erro”… 

Já superamos o ensino fundamental, mas parece que parte do cinema contemporâneo, insiste nesta ideia ainda mais alienada de mantermos o debate no campo utópico e nos concentrarmos em replicar o “isso é tão black mirror”. Antes de gritar contra um modelo econômico, tratemos da ideologia imperialista por trás do mesmo. Ou estaremos sempre na fundo do poço.

1 Nota do Crítico 5 1

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