Curta Paranagua 2024

Bill & Ted: Encare a Música

Meia-idade e nostalgia

Por Vitor Velloso

Bill & Ted: Encare a Música

“Bill & Ted: Encare a Música” de Dean Parisot, é um filme que encarna o espírito do trash, do tosco, da mediocridade formal, do escárnio. É o imediatismo do quão descerebrado pode ser um longa, sem deixar de lado toda uma reformulação em torno de como o espírito do capital é transmitido através do entretenimento barato. Através dessa ideia do rock tacanho, a ideologia norte-americana é a porta de entrada para as múltiplas questões que vão sendo colocadas pelo projeto. 

Não há como negar, a série é de uma imbecilidade absoluta, falar isso não faz o longa uma demência para além do que mira. Contundentemente regrado em torno de referências ao “Rock & Roll” mais conservador possível, as ideias vão se articulando em torno de suas propensas versatilidades na narrativa. Enquanto viagens no tempo acontecem, o espectador se vê preso aos estereótipos imbecilizantes e alienantes de um produto que não desvirtua de cada um desses adjetivos, pelo contrário, assimila tudo isso como essa ponte necessária para uma venda ideológica dominante. Fica claro como essa busca através do tempo se torna uma venda material de um estilo de vida e atitudes corriqueiras no dia-a-dia do norte-americano. Mas claro, quando o processo é dado através dessa parodização do gênero e dos estereótipos, o discurso se torna algo diluído nesse mar de comédia.

“Bill & Ted: Encare a Música” não consegue divertir ou entreter quem não embarque nesta sequela monumental dos adultos infantilizados agindo com meio neurônio funcional. Um parâmetro para o leitor: Se você gosta de “Débi & Lóide”, é possível que goste do estilo de humor desse aqui, pois ainda que o público seja brevemente diferente por uma questão temática, não se diferencia das articulações humorísticas utilizadas por ambos. Assim, o filme possui o mérito de traçar muito fortemente quem faz parte da campanha de publicidade, tentando angariar espectadores além dos que acompanham a franquia, trazendo atrizes como Samara Weaving para ampliar o espectro financeiro na arrecadação durante a exibição nos cinemas. Não à toa, a janela escolhida, a reabertura dos cinemas, é uma particularidade de caso, pois se torna um ganho parcialmente seguro de seu público, tal como um descarte na competição que virá por brechas, e uma espécie de motor de consumo, buscando um incentivo maior no pacote oferecido pelas redes de cinema.

A linguagem aqui obedece um padrão que simula constantemente um tom do desconforto dessa proposta do “sem graça”. São múltiplas repetições nas falas dos personagens, que levam à repetição dos planos e dos cortes. Cada nova “fase” do filme, parece uma espécie de perpetuação da anterior, agora com outros personagens e novas formas de se conduzir a mesma piada. Não à toa, o filme parece ser uma grande continuação de si mesmo, tornando-o monótono, entediante, já que é a mesma piada do início ao fim. Essa repetição constante apenas desgasta o projeto e a paciência de quem se compromete em assistir até o fim a projeção. 

Keanu Reeves e Alex Winter encarnam os adultos delinquentes e descerebrados com bastante vigor, ambos conseguem transmitir com facilidade o tom de seus personagens e como eles se comportam diante da responsabilidade de “trazer harmonia ao mundo”. Essa tônica burguesa lúdica, é transmitida através desses símbolos atravessados da moral norte-americana conservadora. Que ainda possuindo pensamento arcaico, se vê mais progressista, menos eficiente, mas com sinceridade elevada. É uma espécie de reformulação desse conservadorismo para o espírito saudosista de quinta categoria, alguns fãs da mentalidade do “Rock & Roll” mais clássico e prosaico, podem se deliciar com algumas referências e cenas específicas feitas para cada um deles. De cada época do século XX. Até Dave Eric Grohl aparece aqui, como uma estrela respeitável e milionária. 

“Bill & Ted: Encare a Música” pode ser uma dose de nostalgia que leve as pessoas ao cinema e faça alguém rir, mas é difícil manter a pegada até o fim, pelo excesso de repetições e o tédio contundente que vai se somando na produção. Afinal, não é um humor que agrada a todos e já saiu de “moda” há um bom tempo. Assim, é uma questão subjetiva, de gosto de fato, qual o grau da experiência com o filme.

2 Nota do Crítico 5 1

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