Beetlejuice Beetlejuice – Os Fantasmas Ainda Se Divertem
Técnico demais, divertido de menos
Por Fabricio Duque
Se o mundo era outro no final dos anos oitenta no século passado, em 2024 então parece que vivemos uma transformação explícita a uma era de sensibilidades altamente aguçadas ao melodrama e às inúmeras tentativas de modernização de nostalgias e “conserto” das ações-comportamentos do passado, este o “grande vilão” dos novos tempos. E ninguém saiu imune, principalmente o cinema que é um espelho de nossa realidade atual e que pode ser uma explicação plausível para gerar conclusões de que os filmes ficaram mais frágeis, mais “caretas” e mais policiados no aprofundamento de suas histórias, que cada vez se apresentam mais superficiais, mais à moda de “novelas mexicanas” e mais com a impressão de que assistimos uma peça de teatro filmada ainda no ensaio. Talvez seja esse o estágio da sétima arte neste momento, que reflete nossa contemporaneidade pautada no simples demais, nivelando seu público por baixo e sem respeitar sua inteligência de entender uma piada, por exemplo. Tudo agora precisa ser didático demais em ininterruptos diálogos expositivos, que “mastigam” percepções a quem assiste. Um desses exemplos é “Beetlejuice Beetlejuice – Os Fantasmas Ainda Se Divertem”, continuação de “Beetlejuice – Os Fantasmas Se Divertem”, que Tim Burton dirigiu em 1988.
Em “Beetlejuice Beetlejuice – Os Fantasmas Ainda Se Divertem” conseguimos perceber de forma mais explícita tudo o que disse no parágrafo anterior. Talvez a raiz dessa problematização esteja no estímulo à aceleração do cotidiano que vivemos hoje. Tudo precisa ser “para ontem”com seus prazos apertados e pouco tempo para assim “entregar” a uma audiência estimulada pela retroalimentação desse tempo. Isso acaba por gerar obras de feitura mais afoito e sem tanto apuro técnico. É como se os filmes tivessem se tornados experiências casuais e esquecíveis. Se antes, mesmo na superficialidade da narrativa, nós encontrávamos conexão e afinidade com as personagens, neste em questão aqui nós recebemos interpretações sem emoção alguma, como se fossem robôs de inteligência artificial. Ainda que em “Beetlejuice Beetlejuice – Os Fantasmas Ainda Se Divertem” conserve o humor mórbido e mais constrangedor, ainda assim detectamos menos sutilezas do roteiro (direto demais e bem mais pastelão – especialmente por suas tiradas de “tiozão à la quinta série”), com, por exemplo, piadas-ofensas mais xenófobas a franceses, aos “malditos estrangeiros”.
Há aqui também uma maior incursão à estrutura estética do gênero de horror, que reverbera “A Família Addams”. Só que toda essa criação do bizarro e do estranho parece técnica demais. Engessada demais. Exagerada demais. Com informação demais. Sim, “Beetlejuice Beetlejuice – Os Fantasmas Ainda Se Divertem” é demais. Tem até a quebra-metalinguagem da quarta parede, em que a personagem olha para o espectador. Tem até referência explícita a “O Máskara” com Jim Carrey, este filme que por sinal deve ter sido a referência do original “Os Fantasmas Se Divertem”. Sim, o que representa alívio cômico virou humor forçado a querer ser engraçado o tempo todo. Até a crítica aos funcionários públicos soa como uma piada datada. E qual o propósito de inserir um frase judaica na trama? E Dostoiévski para levantar a questão da “dor e o sofrimento”? E a citação ao Brasil e a Amazônia? E sério, a música de Sigur Rós para simular um momento mais verdadeiro? Aff!
“Beetlejuice Beetlejuice – Os Fantasmas Ainda Se Divertem” gera perguntas a seu público: Quando o mundo se tornou tão sensível, tão emocional, tão sério e tão sisudo? Sim, mesmo que boas cenas sejam inseridas, como o coral que canta a música-tema do primeiro, e/ou a parte da “área vip” e/ou a história contado em italiano (sim, uma sútil ofensa) e/ou a serenata com música de Bryan Addams de um “Juice soltinho” e/ou o trocadilho do Trem da Alma com a Soul Music, ainda assim o contexto geral consegue apagar tais maestrias. Pois é, por mais que se tente, “Beetlejuice Beetlejuice – Os Fantasmas Ainda Se Divertem” não consegue ser “autêntico” e deixar de ser uma “baboseira sobrenatural”. Tudo é apresentado “aleatório” demais bagunçado demais e expõe o retrato de uma nova geração que se comporta limitada, egoísta, demasiadamente chata e que precisa explicar à audiência tudo o vê e o que sente na cena. Sim, chega a ser contraditório que o mundo de hoje tenha tantas possibilidades e liberdades, mas que se comporte extremamente limitado na hora da criação. Se até Tim Burton foi “possuído”, o que dirá o resto do cinema? Será que a salvação estará na próxima sequência, quando finalmente Beetlejuice será repetido três vezes? Pois é, pegue sua senha e aguarde!