Direção: Susanna White
Roteiro:Emma Thompson, beseada em personagens criados por Christianna Brand
Elenco: Emma Thompson, Maggie Gyllenhaal, Oscar Steer, Daniel Mays, Rhys Ifans
Fotografia:Mike Eley
Música:James Newton Howard
Direção de arte:Suzanne Austin, Bill Crutcher, Nick Dent e Gary Jopling
Figurino:Jacqueline Durran
Edição:Sim Evan-Jones
Efeitos especiais:Framestore
Produção:Tim Bevan, Lindsay Doran e Eric Fellner
Estúdio:Universal Pictures / Working Title Films / Relativity Media / Studio Canal
Distribuidora:Universal Pictures / Paramount Pictures
Duração: 110 minutos
País: Reino Unido
Ano: 2010
COTAÇÃO: MUITO BOM
O mundo de hoje está mudado. Não há fortalecimento dos valores básicos dos indivíduos. As pessoas são levadas a mitigar princípios da boa conduta em prol da cruedade da sociedade. Um paradoxo é criado. Quanto mais a dita evolução chega, mais nos afastamos da simplicidade das coisas e da pureza que se encontra por trás desse sentimento.
Crianças formam a identidade no convívio com outras pessoas, sendo os pais o elemento principal. Quando há ausência recorrente e ou rigidez crônica, a solidão fornece lugar à frustração, que gera a defesa introspectiva que leva ao sadismo social. Portanto ratificar ensinamentos, explicando o certo e ou errado é a solução certa para transformar pequenos em jovens.
O longa em questão aborda isso. O retorno às características intrínsecas da vivencia infantil. Quebrar o muro da brutalidade enquanto há tempo. A figura da babá rompe e explicita o dogma social. Pais, demasiadamente egoístas, buscam na figura da governanta a opção para substituir o trabalho deles. Em qualquer criação, relação, há o lado subjetivo. As crenças de cada um, transpassadas de maneira passional e parcial.
É neste caso que uma babá, chamada Mcphee, ensina as lições mágicas a crianças prepotentes e mimadas, que precisam sobreviver sozinhas por terem os pais omissos, uns com a desculpa do trabalho, outros pela inadequação de própria figura materna e ou paterna. O primeiro filme é “A babá encantada”, que explica os elementos.
Já na continuação “As lições mágicas” aborda a história de Nanny (Emma Thompson) que vai trabalhar na casa de uma perturbada jovem mãe, Isabel Green, que tenta desesperadamente criar os filhos numa fazenda enquanto o marido está em combate na guerra. Mas uma vez que integra a nova família, Nanny McPhee logo descobre que os filhos da senhora Green travam sua própria batalha contra dois primos intrometidos que se mudaram para o local e se recusam a ir embora.
O filme remete o espectador a referências, sendo uma delas “Mary Poppins”, que utiliza também a fantasia surreal para contar a história. Tudo é permitido em termos de tempo e espaço. Velocidades, manipulações de animais, imite entre o futuro próximo e o retorno ao passado sem danos. O detalhe é que esses elementos não visam a pretensão. São recursos para o embasamento da trama e principalmente respeita a inteligência da criança e também do adulto. Nos pequenos reitera o positivo da vida, já nos grandes, alimenta a nostalgia daquele tempo.
Entende-se que a caricatura é necessária. Como o tio que se envolve em tramoias, a velhinha que faz tudo errado (isso é explicado no final). Há o limite tênue entre a diversão e o aprofundamento. O pai, rígido, de um, explica ao outro quando o sobrinho o abraça. “Ele é do interior. Um diamante bruto”. Assim resume-se a mensagem. Ficamos mais secos e frios quando nos distanciamos das coisas simples. A parte material da vida rasga e suja-se. Roupas e sapatos são substituídos. Mas a amizade e o amor. E principalmente a intuição, que desperta a fé incondicional é o único tesouro que absorvemos. Crescer pelo puro e pelo básico.
A babá ensina as lições mágicas. Cinco regras para a evolução politicamente correta do ser humano. Porém em algumas partes, o filme cria polêmica, quando insere o “olho por olho, dente por dente” para ensinar. Há a cena em que as crianças discutem e brigam, Mcphee, com seu cajado mágico, dá aos pequenos a volta do que estão fazendo. Se batem, após a magia, eles se batem. Vai assim, até a domesticação natural e imposta. Com isso, a Super Nanny, personagem da série de televisão que educa as crianças sem tapas, apenas com o cantinho da disciplina, no “chinelo”. O longa se perde quando utiliza a elipse cinematográfica. Alguns elementos são subentendidos e outros nem mesmo explicados, havendo a necessidade de um conhecimento prévio do primeiro filme. Mas em contrapartida o que pode ser defeito, transforma-se em qualidade. Pela falta de definição sobre isso, “Lições mágicas” apresenta-se sóbrio, divertido (para o público infantil e jovem) e aceitável (para os adultos).
É um filme família, de aventura, de resgate da pureza perdida devido a crueldade do mundo. Lembra em muito os filmes dos anos oitenta. O bucolismo é o querer máximo. O que o diferencia da normalidade é a forma inteligente e sutilmente irônica de expor a história. Vale a pena ser visto. Recomendo.
Susanna White é uma diretora inglesa de televisão. Ela foi uma dos diretores da adaptação “Bleak house” da BBC. Gahou o prêmio Bafta por melhor serie de drama. Dirigiu minisséries “Jane Eyre” e episódios de “Generation Kill”, para a HBO.