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Avatar 2: O Caminho da Água

A ficção de uma trágica realidade

Por Fabricio Duque

Avatar 2: O Caminho da Água

Antes de assistir a continuação de “Avatar”, fiz meu trabalho de casa. Revi o filme anterior, ressignifiquei opiniões passadas e escolhi a melhor sala de exibição, uma DBOX RealD 3D, porque se qualquer obra fica melhor no cinema, imagine essa. “Avatar 2: O Caminho da Água” é acima de tudo uma imersiva aventura visual. O filme foi pensado assim, visto que a característica marcante de seu diretor James Cameron é criar uma atmosfera sensorial que convida à entrada no mundo fantasioso de Pandora. Se o primeiro foi uma apresentação de um nova avançada tecnologia ao mundo dos efeitos especiais dos avatares, este pode ser considerado a obra-prima. Seus técnicos, em uma equipe gigantesca, vide os créditos, conseguiram imprimir uma consistente, crível, subjetiva, muita próxima e possível realidade. O 4K é tão real que chega a incomodar fisicamente a própria percepção do que se assiste, soando inclusive muitas das vezes irreal como se o público estivesse em um realista jogo de computador, acompanhado de tanta ação. Nós, audiência, chegamos a esquecer que o que vemos é um filme. Essa sensação dá um bug em nossa cabeça e quase consequentemente nos desligamos. Sim, é quase um estudo cognitivo das reações humanas. Talvez a experiência do DBOX tenha me ajudado nessa confusão, porque minha cadeira não parou um minuto – fui jogado e estimulado do primeiro ao último minuto de duração do longa-metragem de mais de três horas. 

“Avatar 2: O Caminho da Água”, como foi dito, é uma experiência neuro-transmissora ocular de muitas metáforas de nosso mundo social, em que comportamentos universais são retratados como tradições. Aqui, a família é o foco. O patriarcado, um modelo, em que a estrutura, forma não questionada por mulheres e filhos, busca equilibrar o ecossistema de pensamentos unilaterais. Isso tudo reitera a máxima da característica norteamericana: a do excepcionalismo, termo cunhado por Hillary Clinton que explicou “Não somos perfeitos, mas somos excepcionais”. Assim, cada ação invencível encontra a limitação da vulnerabilidade (é a mesma fábula Kryptonita do “Superman”). O primeiro avatar de 2009 já abordou essas percepções quando atribuiu na trama adjetivos definidores ao protagonista: “estúpido, arrogante, desrespeitoso, impulsivo, urgente, impaciente, imediatista, infantil”, unidos com a soberba competição de sempre ter que ser o melhor. “A minha filha vai te ensinar pra poder saber se a sua loucura tem cura”, diz-se. Então, gostar de “Avatar” é ter conexão com esses costumes dessa forma de ser e de agir. 

Outra característica desse excepcionalismo é a permissão da destruição para em seguida embasar o salvação. Para que possamos entender melhor é preciso utilizar digressões. O longa-metragem que continua a história do fantasioso mundo mágico de Pandora, “Avatar, o Caminho da Água”, traz essencialmente a questão da antropologia. De um povo “superior” que decide estudar outro povo “primitivo”, este que vive dentro de um universo avatar. Assim, primeiro esses “invasores” alteram o ambiente e depois “oferecem” ajuda de outros seres “humanos” ainda mais radicais. Até a própria realidade, que sempre atravessa a ficção (e coincide com a presença deste longa-metragem em cartaz, que inclusive está indicado ao Oscar 2023 especialmente na categoria de Melhor Filme) e que parece uma mórbida “Lei de Murphy”, reitera com infelizes exemplos essa trágica problematização social. A questão urgente do momento é sobre o povo Yanomami, que sofre as barbáries do “homem branco. A pergunta que sempre se faz: “Por que não deixá-los quietos em seus núcleos natais?”.

“Avatar 2: O Caminho da Água” ainda estimula outros insights: a de que o Cinema mudou de verdade. A sensação que temos é que a preocupação do agora está muito mais na embalagem que no conteúdo. É curioso observar isso quando a vida social foca excessivamente na imagem. As redes sociais, principalmente o Instagram, estão aí para provar esse ponto. Tudo se tornou superficial e sem debates. Este longa-metragem talvez tenha pensado nisso. Aqui, os humanos precisam reaprender a ouvir. Precisam reaprender a esperar. Precisam reaprender a aceitar o tempo das coisas. Precisam reaprender a respeitar as diferenças dos outros. Precisam reaprender a compreender que o Social não se comporta apenas individualmente.  É, talvez “Avatar 2: O Caminho da Água” seja a tão esperada resposta de resgatar a Humanidade dela mesma. Um pedido de socorro para salvar a natureza (e os oceanos, visto que nosso ar vem do mar) e para reaprender a respirar. A ter calma. Esta pode ser uma tecnológica carta de esperança a um novo Mundo, que retorna após pandemia. Outra metáfora? Talvez. Então devemos (e conseguimos neste exato momento) traduzir “Avatar 2: O Caminho da Água”? Não. De forma alguma sem antes observar o que acontece ao nosso redor. 

3 Nota do Crítico 5 1

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