Curta Paranagua 2024

As Faces do Demônio

Xerocaram a cruz

Por Vitor Velloso

As Faces do Demônio

Os cinemas brasileiros são brindados com a última produção xerocada do oriente. Diretamente da Coréia do Sul, vem a bomba atômica que irá sacramentar o retorno das atividades cinematográficas, em especial o gênero de terror. “As Faces do Demônio” é a produção que, sucesso de bilheteria, já foi exibida milhares de vezes nas telonas. Exorcismo, capetagem, demônios, crueldade, crucifixo, oração e claro, imperialismo cultural. 

Kim Hong-sun, que assina a direção, concebe seu filme como a padronização norte-americana manda. Mal político? Mal Cinematográfico? Mal “capetalista”? Ou apenas… estilizar o longa até que este se pareça com um negócio “B” da Trumpland? Toda sua estrutura é baseada nesta receita de bolo clássica, temos o demônio, o pata rachada, mas satanás não é humilde, mira a família, as bases de uma instituição concebida pela igreja, então, a desarticulação desse grupo acontece em torno do quão cruel é o chifrudo, aí as questões internas dessa comunidade vira um problema a ser resolvido, o coisa ruim vai lá e se apropria, pronto. Tá feito. 

“As Faces do Demônio” é tão original quanto os programas televisivos da Globo e tão bem intencionado quanto a nota de duzentos reais. É um filme que mira apenas atingir as cifras anteriormente conquistadas por produções norte-americanas, e aqui não há espaço para uma discussão mais ampla sobre a cultura sul coreana, mas é a intencionalidade máxima de como deve ser comportar o mercado interno, com o objetivo internacionalizante, sempre recorrendo à todos os clichês possíveis, assim como a concepção de uma base ocidental para esse contexto “exterior”, nada mais tóxico para o cinema. É a perda absoluta de uma identidade particular, pois a homogeneização denunciada por diversos teóricos, incluindo Pasolini, se vê atrelada à essa noção absolutista de como o mercado reage à determinadas obras. 

Assim, é apenas dar o Cntrl C + Cntrl V, que os filmes vão se multiplicando aos montes, sempre com aval das distribuidoras que assumem esses projetos. Elas não são as maiores culpadas desse processo, mas sem dúvida, possuem participação decisiva nas etapas seguintes, pois viabilizam que a cadeia se feche. Do contrário, parte desse vínculo seria abandonado pelos consumidores, ou por quem permite o mesmo. Porém, a dependência constante que os países subdesenvolvidos estão acometidos, pelo capital, intelectual, de produção, financeiro etc, regula os processos econômicos internos, já que ainda que haja a feitura, as possibilidades de consumo são vedadas. Não à toa, não é interessante que haja a inversão da equação entre os países desenvolvidos e…nós. Não é irrisório que haja a disparidade tacanha, violenta, entre os filmes norte-americanos e europeus que estão ocupando as salas de cinema no Brasil. E claro, é sempre bom lembrar que a cinefilia canhestra que nos cerca, é parte desse conluio. Bastardos enrustidos que levantam a bandeira que bem querem no momento que lhes é mais oportuno. Covardes. 

“As Faces do Demônio” é um sintoma grave da distribuição cinematográfica brasileira. Em um cenário minimamente decente, o filme passaria longe das salas de exibição. Mas com a crise cultural, que nunca cessou, no Brasil e a atual crise política, econômica e sanitária, o longa-metragem ganha destaque especial e cá estou eu, divagando sobre ele. Contudo, nunca é tarde para tornar explícito que nada aqui funciona. Os efeitos são de quinta categoria, o roteiro é uma conversa de bar mal resolvida e toda a articulação de “reviravoltas” na história, seguem a eterna padronização que estamos acostumados. E a forma segue o mesmo caminho, se identificando, sempre que pode, com a customização do gênero do horror. A diretriz didática se torna expositiva, o plano e contraplano é a preguiça alheia, as gerais são vergonhosas e a fotografia um pastiche sem dó do espectador. 

Por fim, o que temos é um longa que marca sua chegada nesse período conturbado para o cinema brasileiro, mas reforça aquilo que é denunciado há décadas, essa invasão generalizada no Brasil. E o que vemos nos últimos anos, está propriamente em “As Faces do Demônio”. Salve-se quem puder! O Imperialista trocou! O capitalismo mudou a direção, norte e sul se digladiam. “No Brasil alguém compra. Alguém sempre compra”.

1 Nota do Crítico 5 1

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