Direção: Clint Eastwood
Roteiro: Peter Morgan
Elenco: Matt Damon, Cecile de France, Frankie McLaren, George McLaren, Jay Mohr, Bryce Dallas Howard
Fotografia: Tom Stern
Música: Clint Eastwood
Produção: Kathleen Kennedy, Robert Lorenz e Steven Spielberg
Distribuidora: Warner Bros.
Duração: 103 minutos
País: Estados Unidos
Ano: 2010
COTAÇÃO: ENTRE O BOM E O MUITO BOM
“Além da vida” é o novo filme de Clint Eastwood, produzido por Steven Spielberg, que aborda o tema do espiritismo de uma forma peculiar e diferenciada, focando na história de seus personagens. O diretor conserva a característica principal de seu cinema: a leveza. Ele deixa a trama acontecer, mitigando a presença da camera e introduzindo o espectador em uma outra vertente do realismo: a do cotidiano. A narrativa escolhida é a do filme coral, que intercala três histórias, tendo três núcleos, sem privilegiar nenhum deles. Neste estilo, todas as tramas são importantes. Pode-se referenciar ao cinema do diretor mexicano Alejandro González Iñárritu e a Robert Altman. O longa gira em torno de três pessoas que são afetadas pela morte de maneiras diferentes. George (Matt Damon) é um operário norte-americano que tem uma conexão especial com o além. Em outro ponto do planeta, a jornalista francesa Marie (Cécile De France) acaba de passar por uma experiência de quase-morte que muda sua visão diante da vida. E, quando Marcus (Frankie/ George McLaren), um garoto londrino, perde uma pessoa muito próxima, começa uma procura desesperada por respostas. Enquanto cada um segue o caminho em busca da verdade, suas vidas se cruzam e são transformadas para sempre pelo que eles acreditam que possa existir, ou realmente exista – a vida após a morte.
A sinopse acima direciona e fornece elementos iniciais. O grande atrativo está na maneira como o roteiro é conduzido. O assunto é polêmico, porque busca um público que possui a crença, mas bloqueia os que não a possui. O longa ultrapassa a barreia da definição. Não é um filme espirita, apenas utiliza elementos para direcionar o caminho pretendido. A fotografia ensolarada – meio alaranjada – do inicio já fornece uma prévia do que acontecerá. As ações são diretas, mas não corridas. As gruas (cameras aéreas e subaquáticas) deslizam suavemente – transformam-se em personagens observadores – , como por exemplo durante um tsunami que devasta uma país. Há clichês. Inevitáveis neste gênero. O reencontro é um deles. A camera fora de foco é outro. O bichinho de pelúcia na água. A explicação para o uso deste artificio é entendido quando se percebe a veia passional e unilateral que a religião fornece a seus seguidores. Como em toda doutrina, a crença totalitária é um pré-requisito, já que as perguntas precisam ser embasadas por meio destes ensinamentos. Não entro no assunto, e sim no cinema. Este tema já foi abordado em tom de comédia por Mel Brooks em “O céu pode esperar”, por drama em “Amor além da vida”. O cinema nacional abordou, competentemente, em “Chico Xavier”, e um fiasco em “Nosso Lar”.
Matt Damon, o ator preferido, no momento, de Clint – fizeram juntos um filme sobre Nelson Mandela “Invictus”, vive o papel de um “vidente de verdade”, que transmite mensagem do além. A narrativa seca, simétrica, direta e clássica, mesmo intercalando histórias, ajuda a construir, positivamente, o contexto. Em muitos momentos, a musica suaviza a carga dramática, aprofundando, no tempo certo, afastando o melodrama. “Transformando a infelicidade em benefício”, diz-se. A sensação que o espectador fica é a de que qualquer hora poderá acontecer algo. É um filme de espera. Assim, o diretor prende a atenção de quem está assistindo. Entre Charlie Dickens e seu “Um conto de Natal”, curso de culinária, opera Messum Dorma, charlatões e flashbacks, a curiosidade e normalidade adquirem a dicotomia natural. “Saber demais sobre a pessoa não é bom”, envolve e entra-se na dor dos personagens. Concluindo, é um longa que merece ser visto. A narrativa flui com leveza e aprofunda com tranquilidade, sem afobamentos. Como disse, os clichês recorrentes possuem dois lados: excessivos demais ou necessários, dependendo da predisposição de cada um ao observar o que está sendo apresentado. 33º longa-metragem de Clint Eastwood como diretor. Peter Morgan, roteirista do filme, já foi indicado duas vezes ao Oscar, por Frost/Nixon e A Rainha.
Clinton “Clint” Eastwood, Jr. nasceu em São Francisco, 31 de maio de 1930) é ator, diretor e produtor dos Estados Unidos famoso pelos seus papéis típicos em filmes de ação como um cara durão e anti-herói, principalmente como o Homem sem nome da Trilogia dos Dólares nos filmes western spaghetti de Sergio Leone dos anos 60, e interpretando o Inspetor ‘Dirty’ Harry Callahan na série de filmes Dirty Harry, das décadas de 1970 e 1980. Como diretor, seus filmes têm sido criticados positivamente. Já ganhou quatro vezes o Oscar — duas cada como Melhor Diretor e de Melhor Filme, e foi homenageado em 1995, recebendo o prêmio Prêmio Memorial Irving G. Thalberg em reconhecimento à sua longa carreira no cinema. Por duas vezes foi eleito o ator favorito dos estadunidenses, e é o único ator da história do cinema a estrelar em filmes considerados de “grande sucesso” por cinco décadas consecutivas.Eastwood também tem interesse na política. Membro do partido republicano desde 1951, Clint foi eleito prefeito de Carmel-by-the-Sea, Califórnia, onde permaneceu no cargo de 1986 até 1988.
Filmografia
2008 – Gran Torino |Gran Torino|
2004 – Menina de ouro |Million dollar baby|
2002 – Dívida de sangue |Blood work|
2000 – Cowboys do espaço |Space cowboys|
1999 – Crime verdadeiro |True crime|
1997 – Poder absoluto |Absolute power|
1995 – Gasparzinho, o fantasminha camarada (Casper)
1995 – As pontes de Madison |The Bridges of Madison County|
1993 – Um mundo perfeito |A perfect world|
1993 – Na linha de fogo |In the line of fire|
1992 – Os imperdoáveis |Unforgiven|
1990 – Rookie – Um profissional do perigo |The Rookie|
1990 – Coração de caçador |White hunter, black heart|
1989 – O cadillac cor-de-rosa |Pink cadillac|
1988 – Dirty Harry na lista negra |The Dead pool|
1986 – O destemido senhor da guerra |Heartbreak ridge|
1985 – O cavaleiro solitário |Pale rider|
1984 – Um agente na corda bamba |Tightrope|
1984 – Cidade ardente |City heat|
1983 – Impacto fulminante |Sudden impact|
1982 – Raposa de fogo |Firefox|
1980 – Punhos de Aço Um lutador de rua |Any which way you can|
1979 – Alcatraz – Fuga impossível |Escape from Alcatraz|
1978 – Doido para brigar, louco para amar |Every which way but loose|
1977 – Rota suicida |The Gauntlet|
1976 – Josey Wales, o fora-da-lei |The Outlaw Josey Wales|
1976 – Sem medo da morte |The Enforcer|
1975 – Escalado para morrer |The Eiger sanction|
1974 – O Ultimo Golpe |Thunderbolt and Lightfoot|
1973 – Magnum 44 |Magnum Force|
1972 – Joe Kidd |Joe Kidd|
1972 – O estranho sem nome |High plans drifter|
1971 – Perversa paixão |Play misty for me|
1971 – O estranho que nós amamos |The Beguiled|
1971 – Perseguidor implacável (Dirty Harry)
1970 – Heróis por conta Própria (Kelly’s heroes)
1969 – Os aventureiros do ouro |Paint your wagon|
1969 – Desafio das águias |Where eagles dare|
1969 – Os abutres têm fome |Two mules for sister Sara|
1968 – Meu nome é Coogan (Coogan’s bluff)
1968 – A marca da forca |Hang ‘em high|
1966 – O Bom, O Mau e o Vilão |The Good, the bad and the ugly|
1965 – Por uns dólares a mais |For a few dollars more|
1964 – Por um punhado de dólares |A fistful of dollars|
1955 – A Vingaça da Creatura |Revenge of the creature|
1955 – Tarântula |Tarantula|
Filmografia Como Diretor
2008 – Gran Torino |Gran Torino|
2008 – A troca (Changeling)
2006 – Cartas de Iwo Jima |Letters from Iwo Jima|
2006 – A conquista da honra |Flags of our fathers|
2004 – Menina de ouro |Million dollar baby|
2003 – Sobre meninos e lobos |Mystic river|
2002 – Dívida de sangue |Blood work|
2000 – Cowboys do espaço |Space cowboys|
1999 – Crime verdadeiro |True crime|
1997 – Meia-noite no jardim do bem e do mal |Midnight in the garden of good and evil|
1997 – Poder absoluto |Absolute power|
1995 – As pontes de Madison |The Bridges of Madison County|
1993 – Um mundo perfeito |A perfect world|
1992 – Os imperdoáveis |Unforgiven|
1990 – Rookie – Um profissional do perigo (Rookie|
1990 – Coração de caçador |White hunter black heart|
1988 – Pássaro |Bird|
1986 – O destemido senhor da guerra |Heartbreak ridge|
1985 – O cavaleiro solitário |Pale rider|
1983 – Impacto fulminante |Sudden impact|
1982 – Raposa de fogo |Firefox|
1977 – Rota suicida |The Gauntlet|
1976 – Josey Wales, o fora da lei |The Outlaw Josey Wales|
1975 – Escalado para morrer |The Eiger sanction|
1972 – O estranho sem nome |High plans drifter|
1971 – Perversa paixão |Play misty for me|
1 Comentário para "Crítica: Além da Vida"
Curti =) ahahahah ia escrever só isso, mas vou ser generoso =)
Pessoalmente não acredito em vida após a morte, mas isso tanto faz… crença cada um tem a sua e esse filme não veio doutrinar ninguém. O fato é que ele mostra uma visão das coisas: a de quem acredita; mas também mostra a percepção dos outros que estão de fora.
Ceticismo, preconceito, repulsa e os revezes que acontecem na vida daqueles que acreditam em algo que não é o "modelo comum de crença". Esse é um mal que assola qualquer religião, principalmente quando se está fora do seu ambiente/círculo.
O filme chega de mansinho mostrando uma história, depois outra e outra, e aos poucos vai amarrando os elementos até ter uma bela teia onde cada personagem acaba influenciando na vida do outro. O acaso normal, nada de apelativo, pois as circunstâncias em que os fatos acontecem são plenamente possíveis.
É um belo filme que deixa espaço pra se pensar sobre o assunto, pois não o esgota, tampouco o impõe como única verdade. Não importa a crença, vale a ida.