Abjetas 288
Utopia e distopia
Por Vitor Velloso
Durante a Mostra Tiradentes SP 2021
Eleito o melhor curta-metragem da Mostra Foco na 24ª Mostra de Tiradentes, “Abjetas 288” de Júlia da Costa e Renata Mourão se apresenta como uma obra característica de um momento político onde a utopia e distopia se confundem como o estado do subdesenvolvimento. A idealização se atropela na concepção de um sentimento diante dessa realidade que apresenta poucos sorrisos em solo nacional.
O posicionamento diante da implosão do terceyro mundo, vêm carregando consigo a fragmentação das representações em conjecturas individuais de manifestações contra a opressão da burguesia e da segurança que está a seu serviço. O tupipunk encontra até algumas resoluções estéticas curiosas para abrir novas possibilidades de idealizar a paródia e parodiar a idealização, em uma mão dupla que funciona parcialmente. A questão é sintomática nessa frente, uma falta de articulação em um método que possa cadenciar os graus da exposição com um tom de crítica multifacetado que dá conta de não flexibilizar em excesso determinadas interpretações.
“Abjetas 288” é um projeto sintomático de uma das linhas de produção que o cinema vem reconhecendo como frente possível para debate político. Acaba sendo menos inventivo por se alinhar com uma padronização dessa utopia tupipunk e flertando com os fins expositivos, em detrimento de uma ampliação dessa conceituação que parece se opor aos realismos e os fantásticos. Acho que a grande parada é tomar cuidado com as possibilidades de virada de jogo, não necessariamente os encaminhamentos, mas os vácuos.