A Vida em Mim
Métodos Invasivos
Por Jorge Cruz
John Haptas e Kristine Samuelson dirigem “A Vida em Mim“, o representante da popular plataforma de streaming Netflix dentre os indicados ao Oscar 2020 na categoria melhor curta-metragem documentário. O filme acompanha a trajetória de crianças entre cinco meses e doze anos. Em comum um comportamento que se assemelha a um coma, em estado semi-vegetativo. Todas fazem parte de famílias de refugiados que vivem na Suécia e possuem uma doença que surgiu apenas nos anos 1990 e os médicos nomearam Síndrome de Resignação.
O mais provável é que a produção se debruçasse nas causas, mais psicológicas do que neurológicas, para que o espectador conseguisse aliar a informação básica sobre a síndrome com certa ligação emocional com os documentados. Usando como objeto menores de idade, o sentimentalismo se revela inerente – algo semelhante ao que “For Sama“, longa-metragem também documental que vem conquistando adeptos na temporada de prêmios faz. Todavia, “A Vida em Mim”, além de seguir a fórmula que remete a uma grande reportagem de programa jornalístico dominical, ainda se perde na busca pela empatia de forma grotesca.
Hapta e Samuelson a todo momento tentam suprir os momentos não materializados – como passagens que aconteceram no passado dos entrevistados, por exemplo – com captação de bonitas imagens do inverno sueco. Há uma tentativa de metáfora com o tenebroso inverno. Essa opção deve ser vista com bons olhos, uma tentativa de quebra de padrão das cabeças falantes com cenas ensaiadas do cotidiano. O que incomoda e faz de “A Vida em Mim” uma produto perto do abjeto é sua exploração do sofrimento. Quem acompanha minhas críticas no Vertentes do Cinema sabe que evito ao máximo a primeiro pessoa. Porém, como se trata de uma visão personalíssima, entendo ser cabível. Ao meu ver, há uma violação ética grave aqui.
A exposição das crianças ocorre na máxima potência e sem que isso seja fundamental. Uma obra de menos de quarenta minutos se lambuza em longas sequências onde o intuito é apenas tripudiar do quão difícil para aquela família está sendo determinada situação. São tão inócuos tais momentos, que em mais de uma oportunidade as paisagens já citadas servem de pano de fundo para jograis de jornalistas que “explicam” o que é a Síndrome de Resignação. É como se o documentário admitisse sua incompletude com a mera utilização da narrativa a qual se propõe – necessitando de um material inserido posteriormente, como narração. Há, sim, certa insistência em ser extremamente invasivo, tornando “A Vida em Mim” um curta-metragem que segue uma linha sensacionalista dificilmente vista em produtos da Netflix.
1 Comentário para "A Vida em Mim"
Acredito muito que provavelmente essas crianças além do trauma da mudança em todos os sentidos,o sofrimento da família,essas crianças tem que lidar com a exclusão que sofrem em um país que não os quer,e esse é o modo que o seu psicológico acha de se isolar do sofrimento.