A Luz
A luz no fim do túnel de Tom Tykwer
Por Clarissa Kuschnir
Festival de Berlim 2025; Visto na primeira edição do Festival de Cinema Europeu Imovision
O diretor alemão Tom Tykwer, que ficou mundialmente conhecido pelo clássico “Corra, Lola, Corra” (1988), esteve recentemente no Brasil, para participar da primeira edição do Festival de Cinema Europeu Imovision, com o intuito de apresentar seu mais recente longa “A Luz”, filme que abriu o Festival de Berlim 2025. E lá fui eu com a minha trilha sonora de “Corra, Lola, Corra” embaixo do braço, em CD ainda, para pegar um autografo de fã de um Tom Tywer não muito simpático no dia, talvez por estar com uma forte dor nas costas (quem tem sabe do que eu estou falando). Voltando o foco para “A Luz”, ou “Das Licht” (título original), chega ao circuito comercial. Confesso que vi e revi para poder escrever sobre este longa-metragem e, mesmo assim, fiquei com a sensação de ter perdido alguma coisa, em meio ao caos psicodélico (mas não um caos desconexo) de quase três horas de projeção que o filme traz.
Tudo em “A Luz” tem uma razão lógica e apesar de trazer personagens tão singulares para o centro da trama, todos acabam se conectando de alguma maneira e por alguma energia. Tudo aqui é pensado e em reflexão. Desde a família disfuncional da personagem Milena (a atriz Nicolette Krebitz), ao lado de seu marido Tim (o ator Lars Eindinger, que por sinal está genial e foi muito elogiado por sua performance no Festival de Berlim), passando pelo casal de filhos gêmeos de 17 anos e mais o pequeno Dio (este Milena teve fora do casamento, em umas de suas inúmeras viagens à África como ativista), pela diarista que acaba morrendo logo no começo do filme, sendo substituída por Farrah (a atriz Tala Al- Deen) imigrante síria, que ganha a simpatia e confiança de toda a família. E como na vida muitos acreditam que nada é por acaso, Farrah chega para trazer a paz e como diz o título, literalmente, uma luz na vida de cada um. Mas essa luz eu deixo para vocês entenderem no decorrer da história. Mesmo sendo esse o objetivo principal, o diretor busca propor um debate sobre o quanto a humanidade está absorta da vida familiar, mesmo que esteja junta todos os dias.
É mãe e pai que trabalham demais e vivem cansados. Filhos que se isolam em seus mundos-quartos ou em seus aparelhos celulares e videogames. A tecnologia conecta, mas também desconecta. Ou seja, é cada um por si. É fato que nós estamos sempre sozinhos e, na maioria das vezes, não paramos para observar o que se passa ao redor. Isso tudo, dentro de um círculo familiar, de trabalho, onde tantas coisas podem acontecer. E quando algo acontece, aí pode ser tarde demais. Em alguns casos aparecem os “anjos” para ajudar, como neste filme. “A Luz”, além de conter precisão em cada uma das histórias, ainda se destaca com uma poderosa edição de som, arriscando-se em alguns números musicais, como por exemplo, tocando repetidamente “Bohemian Rhapsody”, de Queen, ora em outra cena que insere uma pequena animação (a combinação é perfeita e até traz certa uma emoção pela personagem em questão). Além também do som (é um filme para ser visto em tela grande), a fotografia de Christian Almesberger traduz uma melancolia do dia-a-dia de uma capital fria em seu modo de ser e que só chove (fazendo que eu me lembrasse das chuvas torrenciais do clássico “Blade Runner”, de Ridley Scott).
Agora resta esperar que “A Luz” possa conseguir transmitir ao público toda a ideia de existencialismo conceitual (e de metafísica enérgica), que quer nos mostrar o quanto podemos mudar para nos conectar da melhor maneira com pessoas que amamos, pois no fundo, a família é nosso porto seguro e o nosso bem maior. Mesmo que à princípio tudo pareça um caos, o importante é parar, refletir e tentar se conectar com o mundo além de nós, pois o pensar coletivo é a melhor maneira de se viver em sociedade. E é essa a mensagem utópica (e com um que grande de otimismo – mas bem à moda alemã) que Tom Tykwer quer passar, mesmo que de sua forma um pouco mais exagerada e um tanto quanto megalomaníaca, e sem, e claro, deixar a crítica social de lado.