Festival Curta Campos do Jordao

Crítica: A Febre do Rato
Uma Humilde Carta ao Diretor Cláudio Assis
Por Fabricio Duque

O filme venceu nas categorias de Melhor Atriz Coadjuvante (Ângela Leal); Melhor Roteiro Original (Hilton Lacerda) e Juri Popular no Grande Prêmio do Cinema Brasileiro 2013.
Sempre procurei separar a vida pessoal de cineastas, atores e atrizes dos filmes realizados. Mas no caso do diretor recifense Cláudio Assis, essa vertente é imprescindível, quase obrigatória. Não estou aqui para criticá-lo com argumentos subjetivos, do tipo “Não gosto e pronto”. O objetivo é explanar argumentos reais a fim de que, talvez, possa ajudar aos espectadores a não escolher os filmes dele, e também possibilitar ao próprio diretor uma forma de modificação. Sempre que exponho minha opinião sobre as obras de Cláudio, sou constantemente bombardeado por argumentos utópicos demais, mitigando o motivo real. Inicio com acontecimentos jornalísticos verídicos. O “cineasta” apresentou seu novo filme “A Febre do Rato” no cinema Espaço Itaú de Cinema, em Botafogo, Rio de Janeiro. Durante o evento, transpassando arrogância e soberba, gritava, quase todo tempo, sobre sua obra de arte realizada. Comporto-me sempre como aquele que fornece segundas, terceiras e quartas chances a qualquer um, independente de credo, raça e ou gênero cinematográfico. Pensei: “Deve ser a obra prima do cinema nacional, quiça internacional”. A Pré-estreia estava lotada, com muitos jornalistas e convidados. Adentrei a sessão para que pudesse conseguir um bom lugar. Cláudio Assis entra, começa a introduzir informações prévias aos espectadores, sempre de forma altiva (e “marrenta”). Até aí, tudo bem. Mas o ego do diretor vai além. “Eu faço cinema. Não sou igual ao Walter Salles, que só faz merda. Foda-se Walter Salles”, gritando, literalmente, e recebendo aplausos ovacionados de uma plateia alienada ou perplexa, ainda não entendi. Nada contra as pessoas que estavam ali, muito menos contra o “cineasta”, mas aquilo soou pretensioso demais, grosseiro demais, violento demais, destoando da característica mor do cinema, que é a diversidade, ponto principal nas “obras” de Cláudio. Walter realiza outro cinema, completamente diferente, e busca sim o mercado internacional. O “cineasta” sente inveja? Não sei, mas pareceu. Muito feio e desnecessário isso, Cláudio. A primeira parte de uma vida ética é o respeito ao próximo, que é a tecla que você sempre aborda em seus projetos. A utopia apresentada em seus filmes versa sobre transgressões, homossexualidade, sexo como condução argumentativa. Então me pergunto, será que a teoria do “quem grita é porque não tem nada a dizer” está correta? Represento pelo que acabei de dizer um dos argumentos de referenciar a vida pessoal aos filmes do diretor discutido aqui. Não vou negar que os roteiros dele têm voz, tem paixão, principalmente em “A Febre do Rato”, que conta com a presença de Irandhir Santos (interpretando o protagonista de forma espetacular), e de Nanda Costa (arrebatadora). Outro ponto. Em hipótese alguma critico os atores, que se entregam como fantoches perfeitos. E aprecio, com extrema intensidade, a fotografia do mestre Walter Carvalho. O principal argumento de questionamento aqui é sem sombras de dúvida a atmosfera. É infantil, amadora, prepotente, buscando cumplicidade no espectador, o manipulando a gritar também. É inegável a referência, explícita, a Gauber Rocha (e a sua câmera na mão). Mas os tempos são outros, e não encontro, neste filme, a nostalgia proposital que faça recriar uma época retroativa. A narrativa “vomita” elementos perdidos e sem sentido, traduzindo-se como gratuito, e sim, uma ideia na mão e uma câmera na cabeça. O conteúdo verborrágico não condiz, em tom de junção, com a forma que a história é transposta à tela. Não conseguia, durante a exibição, parar de pensar no filme “São Paulo S.A”, de Luís Sérgio Person e ou em qualquer outro “manifesto” magistral de Rogério Sganzerla. Já percebi que serei rebatido com um “mas são filmes do final dos anos sessenta”. Sim, vamos então a um panorama atual. “Estômago”, “Léo e Bia”, “É proibido fumar”, “Elvis e Madona”, “Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios”, “Família vende tudo”, “Girimunho”, “Lixo extraordinário”, “Linha de Passe”, entre tantos outros. São narrativas diferenciadas (e democráticas), cada qual com seu cada um, com sua própria revolução, ora exacerbada, ora silenciada. Sim, prefiro as obras existencialistas de Walter Salles, mas assisto de coração aberto, a qualquer um que queira dizer algo com o instrumento do cinema. Não sei se alguém lembra, mas Cláudio Assis foi conduzido a se retirar de uma sessão do Festival do Rio, quando gritava, literalmente, que era prejudicado por uma “conspiração” nacional que impedia que seus filmes fossem feitos. Não, Cláudio, não é assim. O diálogo sensato e sutil é a melhor das armas, inclusive na guerra. Como sugestão, porque, mesmo com tudo, ainda acredito no seu potencial, veja o filme “A Rebelião”, que entra em cartaz no próximo dia sete de setembro de 2012, um ótimo exemplar de que com arrogância não se ganha guerras, apenas inimigos, no seu caso, a ausência de espectadores. Pense nisso. Abraços.

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