10 Sucessos de Bilheteria que Ninguém mais se Lembra
Por Jorge Cruz
Um sucesso de bilheteria depende de inúmeros fatores. O apelo de um filme junto ao público pode acontecer em virtude de um grande astro no cartaz. Pode ser que aquela obra faça parte de uma franquia de sucesso. Por vezes uma entressafra de grandes lançamentos ou a propaganda boca-a-boca constrói improváveis blockbusters. O Vertentes do Cinema pesquisou as dez maiores bilheterias mundiais dos últimos trinta anos e lista algumas produções que se destacaram quando passaram pelas telonas, mas hoje andam esquecidas de boa parte do grande público.
10º Lugar: Lobo Guerreiro 2 (战狼2, 2017)
O décimo colocado da lista não traz um filme “esquecido” propriamente dito. “Lobo Guerreiro 2” está mais para produção a ser descoberta. Ao custo de 30 milhões de dólares, arrecadou US$ 870 milhões, sendo quase em sua totalidade na China, país em que foi produzido. Se tornou o primeiro filme não-estadunidense a figurar na lista das cem maiores bilheterias de todos os tempos. Jing Wu dirige, atua e escreve o longa-metragem de ação que dá continuidade à história de Leng Feng, soldado chinês que viaja ao mundo para cumprir suas missões. Foi a sétima maior bilheteria de 2017, a frente de dois dos três filmes da Marvel lançados naquele ano. A boa notícia é que no momento da publicação desta lista, tanto o filme original, “Lobo Guerreiro” quanto esta continuação, estão disponíveis no catálogo da Netflix.
9º Lugar: Queima de Arquivo (Erased, 1996)
Primeiro caso de nossa lista em que a estrela que estampa o pôster é a grande responsável pela bilheteria. Ao custo de 100 milhões de dólares, “Queima de Arquivo” faturou mais de US$ 240 milhões e foi a décima maior bilheteria de 1996, a frente do vencedor do Oscar daquele ano, “O Paciente Inglês”, e de grandes êxitos como “Space Jam – O Jogo do Século” e “Pânico”. Arnold Schwarzenegger provou que ainda valia a pena o investimento, todavia, esse longa-metragem de ação genérico dificilmente figurará na lista dos fãs como destaque em sua filmografia. No quesito grana, porém, merece ser lembrado, já que somente em 2003 ele teria um sucesso tão grande, quando “O Exterminador do Futuro 3 – A Ascensão das Máquinas” faturou US$ 435 milhões.
8º lugar: Risco Total (Cliffhanger, 1993)
Outro que fez a fama nos anos 1980, mas deitou na cama de plaquinhas de cem na década seguinte foi Sylvester Stallone. “Risco Total”, filme feito sob medida para aquele Domingo Maior que assistíamos tentando esquecer da escola no dia seguinte, foi a sétima maior bilheteria de 1993. Em um ano em que só deu “Jurassic Park”, líder faturando o dobro do segundo colocado, “Uma Babá Quase Perfeita”, “Risco Total” custou 70 milhões de dólares e faturou US$ 255 milhões. Quase não se pagou nas bilheterias dos Estados Unidos, mas o mundo saiu de casa para ver Sly. Para ter uma ideia, seu filme anterior, “Pare! Senão Mamãe Atira!” (1992) não faturou nem um terço disso. Voltando de um hiato de três anos, o ator assina o roteiro e conta com o diretor Renny Harlin, o mesmo de “Duro de Matar 2” (1990) para desenvolver a aventura. Harlin jogaria sua carreira no lixo ao agredir nossos olhos com “A Ilha da Garganta Cortada” em 1995, um fracasso acachapante, que custou US$ 100 milhões e faturou ridículos US$ 10 milhões.
7º lugar: Superman – O Retorno (Superman Returns, 2006)
Ai, Gabi, só quem viveu sabe o que foi o hype em cima da volta do Homem de Aço às telonas em 2006. O aceite de Bryan Singer, que estava em ascendência com os sucessos de “X-Men: O Filme” (2000) e “X-Men 2” (2003); a escalação de Brandon Routh e sua similaridade com o saudoso Christopher Reeve; a notícia de que seriam usadas imagens de Marlon Brando como Jor-El; e por aí vai. O resultado foi decepcionante. Ao custo de 270 milhões de dólares, foi o mais caro da história do cinema à época, mas arrecadou menos de US$ 400 milhões. Não se trata de um filme esquecido, mas um que boa parte das pessoas quer esquecer. Fato é que muita gente foi ao cinema, fazendo do longa-metragem a nona maior bilheteria de 2006, a frente de produções bastante comentadas à época como “O Diabo Veste Prada” e “À Procura da Felicidade”. A DC e a Warner ignoram tanto “Superman – O Retorno” que não se importam que Routh seja mais conhecido por outro personagem de seu universo, Ray “O Átomo” Palmer, da série de TV “Legends of Tomorrow”.
6º Lugar: O Espanta Tubarões (Shark Tale, 2004)
Animações possuem grande apelo, se revelando um trunfo dos grandes estúdios quando dos lançamentos de verão no hemisfério norte ou feriados de final de ano. “O Espanta Tubarões”, porém, foi lançado na entressafra, em outubro, e se tornou a nona maior bilheteria de 2004, ano dominado por “Shrek 2” (US$ 920 milhões), também da Dreamworks. Essa produção surfou na onda do ogro e de um elenco recheado de estrelas dando vozes aos personagens, como Angelina Jolie e Will Smith. Ao custo de 75 milhões de dólares, faturou quase US$ 370 milhões. Ajudou muito a regravação de “Car Wash”, tema clássico de “Onde Acontece de Tudo” (1976), interpretada por Christina Aguilera e Missy Elliott especialmente para o filme.
5º Lugar: Top Gang! – Ases Muito loucos (Hot Shots!, 1991)
Para quem acha que “Todo Mundo em Pânico” (2000) inventou a roda ao trazer cenas desconexas tirando sarro de filmes de um mesmo gênero, saiba que “Top Gang! – Ases Muito Loucos” não só fez isso uma década antes como foi um verdadeiro fenômeno de público. Ao custo de 26 milhões de dólares, o filme faturou mais de US$ 180 milhões e se tornou a nona maior bilheteria de 1991, a frente, por exemplo, da sexta produção da franquia “Star Trek”, a última que contaria com a tripulação original. O diretor e roteirista Jim Abrahams se destacou em 1980 quando pegou menos de 4 milhões de dólares e fez render vinte vezes mais somente nos Estados Unidos no excelente “Apertem os Cintos, o Piloto Sumiu”. O auge de sua carreira em Hollywood talvez tenha sido “Top Gang! – Ases Muito Loucos”, já que seus projetos posteriores foram apenas a continuação dele 1993 (que fez 130 milhões) e “Máfia!”, um fracasso. Ele ainda faria o roteiro de “Todo Mundo em Pânico 4” (2006), franquia diretamente influenciada por ele. Foi o maior sucesso comercial da carreira de Charlie Sheen depois de “Platoon” (1986) e seria superada apenas por “Todo Mundo em Pânico 3” (2003).
4º Lugar: Revelação (What Lies Beneath, 2000)
A ressaca de 1999, o ano mágico para o cinema, foi uma safra de filmes de gosto questionável. No Brasil, tínhamos as sessões do Supercine aos sábados à noite na Globo com seus thrillers que nos deixavam grudados na cadeira, levantando apenas ao barulho do plim-plim. Talvez por isso “Revelação” não tenha sido aqui o fenômeno que foi em todo o mundo. Ao alto custo de 100 milhões de dólares, uma divulgação pesada fez essa longa-metragem render quase 300 milhões e se tornar a décima maior bilheteria do ano 2000, a frente de produções de grande apelo, como “Corpo Fechado”, ”O Patriota” e “O Tigre e o Dragão”. O diretor Robert Zemeckis não teve o que reclamar. “Revelação” sequer foi sua maior bilheteria daquele ano, já que ele lançaria “Náufrago”, que beirou 430 milhões de dólares no box office. O suspense, estrelado por Harrison Ford e Michelle Pfeiffer, dois puxadores de público, é um daqueles filmes no lugar certo e na hora certa.
3º Lugar: Gasparzinho, O Fantasminha Camarada (Casper, 1995)
A medalha de bronze vai para o primeiro longa-metragem de uma franquia que nunca aqueceu Hollywood. “Gasparzinho, O Fantasminha Camarada” foi a oitava maior bilheteria de 1995 com quase 290 milhões de dólares arrecadados e chocou ao mercado ao faturar mais do que “Waterworld”, aquele que até então era o filme mais caro da história do cinema. Passados quase quinze anos, essa produção está na cabeça apenas dos cinéfilos de boa memória, ao contrário de outros filmes que arrecadaram menos à época, como “Jumanji”, “Coração Valente” e “Babe – O Porquinho Atrapalhado”. Ele marcaria a estreia na tela grande do diretor Brad Silberling, que três anos depois lançaria “Cidade dos Anjos”, aquele longa-metragem que todo mundo viu, porém, acredite se quiser, faturou quase cem milhões a menos do que “Gasparzinho, O Fantasminha Camarada”. Não só é o maior sucesso comercial da carreira do diretor quanto da protagonista Christina Ricci, na época atriz-mirim. Nem “A Família Adams” quatro anos antes e nem “A Lenda do Cavaleiro sem Cabeça” quatro anos depois, arrasaria tanto o quarteirão quanto esta produção. Aqui no Brasil, parte do êxito pode ser creditado ao dublador Patrick de Oliveira, colocado como destaque no material de divulgação. Ele ficou famoso por dublar o Linguado de “A Pequena Sereia” (1989) e o Simba de “O Rei Leão” (1994).
2º Lugar: A Lenda do Tesouro Perdido 2: Livro dos Segredos (National Treasure 2, 2007)
Quando Hollywood já se preparava para focar suas energias em adaptações literárias e franquias infinitas, “A Lenda do Tesouro Perdido” fez algum barulho de 2004, mas não entrou no top 10 daquele ano. Vendido como uma espécie de “O Código Da Vinci” com Nicolas Cage sendo uma mistura de Robert Langdon com Indiana Jones, a produção ganhou sobrevida no mercado de DVD. O livro de Dan Brown chegaria à tela grande em 2006, quando a continuação de National Treasure, chamada de Livro dos Segredos, estava sendo produzida. A segunda parte superou a produção original em mais de cem milhões de dólares, faturando mais de US$ 450 milhões e se tornando a nona maior bilheteria de 2007. Ficou a frente de “300”, o esperado retorno de John McClane em “Duro de Matar 4.0” e de “A Bússola de Ouro”, outra adaptação literária carregada de expectativa que acabou naufragando e ficando sem as continuações esperadas. Tomara que Nicolas Cage tenha feito cláusula de participação, já que foi seu filme em live action que mais faturou. Na carreira, seria superado apenas pela animação “Os Croods” (2013). Já o diretor Jon Turteltaub conseguiria em 2018, superar essa quantia, com “Megatubarão”, que rendeu 530 milhões de dólares. Por se tratar de uma realidade bem diferente, esse valor só fez dessa produção a 15ª maior bilheteria do ano passado.
1º Lugar: Hancock (2008)
Talvez o maior exemplo de sucesso comercial baseado no astro seja a bomba atômica chamada “Hancock”. Ao custo de 150 milhões de dólares, o filme faturou mais de 620 milhões e se tornou a quarta maior bilheteria de 2008. Por menos de US$ 10 milhões não superou o terceiro colocado “Kung Fu Panda”. Boa parte do orçamento foi direcionado para pagar o cachê de Will Smith, que vivia uma década mágica. Depois de sua indicação ao Oscar por “Ali” (2001), ele emplacou oito filmes seguidos faturando mais de cem milhões de dólares somente nos Estados Unidos (inclusive “O Espanta Tubarões”, que já apareceu nessa lista). Vimos uma comédia banal como “Hitch” (2005) fazer quase US$ 370 milhões e até mesmo o drama “À Procura da Felicidade” superar os US$ 300 milhões. Só que “Hancock” testou os limites dos fãs e o carisma do ator não foi o suficiente para evitar o bombardeio de críticas. Fez-se muita grana, mas a carreira de Smith não seria mais a mesma. “Sete Vidas”, lançado no mesmo ano, quebrou a sequência dos cem milhões de dólares nos EUA e criou um hiato de quatro anos na carreira do astro. Ele voltaria se ancorando na franquia “MIB”, que fez quase o mesmo dinheiro de “Hancock” em seu terceiro longa-metragem, lançado em 2012. Apenas em 2016 veríamos a cifra ser superada na carreira dele, com “Esquadrão Suicida”, outro filme que temos sempre que nos lembrar de esquecer. O astro que talvez tenha sido o último grande ímã de plateia entrou para o Clube do Bilhão somente esse ano, ao viver o gênio de “Aladdin”. Ou seja, se tem Will Smith quebrando a banca, tem filme ruim na praça. Curiosidade: também em 2008 foi lançado um tal de “Homem de Ferro”, a primeira produção da Marvel. Ela foi apenas a oitava maior bilheteria daquele ano, faturando US$ 40 milhões a menos que “Hancock” e apenas metade do líder da lista “Batman – O Cavaleiro das Trevas”, da Warner/DC. Passada uma década, é impossível se imaginar um cenário parecido com esse.