Festival Curta Campos do Jordao

Programa 06: Gus van Sant


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O cineasta americano Gus Van Sant nasceu no dia 24 de julho de 1952. É famoso porque imprime, em seus filmes, a atmosfera de contraste entre o absurdo, que é o exagero social das reações dos personagens, e o realismo, que é a possibilidade crível da ação apresentada. Como por exemplo, o filme “Elefante”, que apresenta a estrutura psicológica de um jovem assassino que mata estudantes em sua escola. O absurdo é o tema em si: um plano analisado de dentro para fora do personagem. E o realismo, a ação propriamente dita da matança. Gus apresenta inúmeras características que definem o seu cinema. Uma delas, a facilidade e naturalidade de retratar os jovens em suas angústias, vazios existenciais, carência, recheados de imediatismos radicais, percorridos num caminho perdido – e passional.

Seus personagens não possuem limites e muito menos o diretor Gus Van Sant, que sempre foi influenciado pela pintura e o cinema experimental. Ele busca o cotidiano contemporâneo. A homossexualidade é outro tema recorrente e pessoal, porque o cineasta é assumidamente gay. Não há impedimento de um mesmo jovem escolher ficar com meninos ou com meninas. Assim, os personagens ganham uma liberdade sexual sem rótulos, ampliando a possibilidade de ser o que querem, sem julgamentos dos próprios, porém criticados pelos adultos hipócritas que desejam impor um comportamento politicamente correto. Para realizar seu primeiro filme, Mala Noche, em 1985, Gus trabalhou numa agência de publicidade. O cineasta Gus Van Sant tem a música como parte essencial de seus filmes, interligando imagem e som.

Ele participou da banda Kill All Blondes, gravando dois álbuns. No filme, “Last Days”, Gus mostra, de forma fictícia, os últimos dias de Kurt Cobain, vocalista da banda Nirvana, tendo o ator Michael Pitty, como protagonista, e conta também com a participação de Asia Argento, filha do cineasta Dario Argento. Ao longo de seus 59 anos, Gus realiza, em 2008, o filme “Milk – A voz da igualdade” que se baseia na vida do político e ativista gay Harvey Milk, que foi o primeiro homossexual declarado a ser eleito para um cargo público na Califórnia. O filme rendeu ao cineasta a estatueta do Oscar de melhor roteiro original e de melhor ator para Sean Penn, que para interpretar Harvey fez uso de nariz e de dentes protéticos, lentes de contato e um novo visual de cabelo. A polêmica não aconteceu só lá fora.

Aqui no Brasil, Marco Ribeiro, um pastor evangélico, que costuma fazer a dublagem de Sean Penn, nos filmes “21 gramas” e “A grande ilusão”, não aceitou o trabalho nesse filme. Ribeiro recusou o convite dizendo abre aspas Não me sentia à vontade para fazer o filme, fecha aspas. Analisando a filmografia do diretor Gus van Sant, percebemos que ele traz a tona um submundo humanizado. Não há o certo, nem o errado. Há drogas, prostituição, pedofilia, bebidas, violência, porém tudo é trabalhado de forma suavizada. Os roteiros não querem chocar, mas sim retratar um estágio de vida, que pode ser modificado ou não. Um exemplo é o filme “Garotos de Programa”, com River Phoenix e Keanu Reeves, que com o objetivo de procurar a mãe, acabam se envolvendo na prostituição.

O universo de Gus inclui, ainda, viciados que assaltam farmácias no filme “Drugstore Cawboy”, com Matt Dillon; skatistas no filme “Paranoid Park”; um super dotado em matemática no filme “O Gênio Indomável”, com Matt Damon, Ben Affleck e Robin Williams, que tem o curioso título em Portugal, “O Bom Rebelde”. Os atores Matt e Ben voltaram a trabalhar com o diretor em “Gerry”, sobre dois companheiros que buscam uma coisa misteriosa e acabam encontrando o nada. Gus van Sant completa sua lista com a refilmagem de Psicose, de Alfred Hitchcock, com o filme “Encontrando Forrester”, interpretado por Sean Connery e com o segmento de curta-metragem na coletânea “Paris, Eu te Amo”.

No seu mais recente filme, “Inquietos”, Gus personifica os sentimentos que os jovens possuem sobre a vida e sobre a morte e apresenta uma história de amor pura, convincente, quase platônica, expressando um realismo extremamente mórbido. O filme é fantástico e um dos melhores lançados em outubro de 2011. Gus van Sant diz sobre a inquietude da fase adolescente, abre aspas É a parte mais vibrante da vida. É de intensa criatividade, é quando você está mais esperto. Quando você chegar a ter 23, 24 ou 25, você começa a congelar e torna-se um adulto, fecha aspas.

ARQUIVO! Ouça a íntegra do programa Vertentes do Cinema no site www.radiouerj.com.br
A “Dicas para não sair de casa” da semana destaca três filmes do diretor Gus Van Sant,
que podem ser alugados na Locadora Cavideo, localizada na Cobal do Humaitá.
 
A primeira dica é o filme “Elefante”, que mostra um dia aparentemente comum na vida de um grupo de adolescentes na escola: as práticas dissimuladas de bullying, a bolinha de papel jogada em um aluno do fundo da sala, entre outras. Enquanto a maior parte está engajada nessas atividades cotidianas, dois alunos esperam, em casa, a chegada de uma metralhadora semi-automática, além das outras armas que vinham colecionando. Os dois partem para a escola, vivenciando o protagonismo de uma grande tragédia em Columbine. Imperdível.
A segunda dica é o filme “Paranoid Park”, o jovem Alex, de 16 anos, decide ir sozinho a um parque que é o paraíso dos skatistas, enquanto se pendura no vagão de um trem, um guarda da estação tenta impedi-lo. Alex livra-se com seu skate, fazendo o guarda cair de nos trilhos e morrer. Atormentado, Alex escreve uma carta sobre o incidente, também contando sobre os dias precedentes e posteriores. Não perca!
A terceira e última dica é o filme “Drugstore Cowboy”, baseado no romance autobiográfico de James Fogle. A trama aborda um viciado, sua mulher e um outro casal, que sobrevivem assaltando farmácias para sustentar o vício e para conseguir dinheiro. Um dos primeiros fimes da carreira de Gus van Sant. Vale muito à pena assistir!

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