Curta Paranagua 2024

Wolfwalkers

O visual e seu preço

Por Vitor Velloso

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Wolfwalkers

“Wolfwalkers” de Tomm Moore e Ross Stewart é o novo projeto da Cartoon Saloon, estúdio irlandês de animação, que entra na briga pelo prêmio de melhor longa-metragem de animação no Oscar 2021. É uma obra relativamente carismática e que agrada seu público por meio de uma animação que consegue ser fluída e repleta de belezas. A estética é definida pela narrativa que se fragmenta em diferentes personagens, eixos dramáticos e problemáticas com resoluções imagéticas promissoras. 

Porém, os clichês são definidores no projeto e pouca criatividade é encontrada aqui. A cadência é arquitetada entre a opressão da sociedade européia e a liberdade de um povo oprimido por essa cultura “dominante”. É o enfrentamento de duas margens distintas e o longa compreende essa diferenciação a partir da própria forma, com uma separação explícita na imagem, um jogo que expõe uma paleta de cores diversa para cada setor dessa “grande sociedade”. A exposição da esquemática colorida é dada entre a dicotomia de vilão e heróis, mas não cede facilmente à interpretação lúdica da própria estrutura, sendo incisivo na maneira como representa o fanatismo religioso britânico que atropela parte da cultura irlandesa. 

Essa veia de denúncia que “Wolfwalkers” fomenta é interessante de se acompanhar por seu caráter didático, onde o espectador é introduzido em uma aventura pessoal da protagonista, com desdobramentos para toda uma cidade. Sua tentativa de revolução particular encontra fim pela repressão paternalista e uma figura do “Estado” que é guiado por seu fanatismo e pela violência que a figura impõe. 

Algumas escolhas acabam atravessando a narrativa para um caminho distinto do eixo primordial que busca desenvolver, em especial a relação entre as duas garotas se torna o ponto mais interessante do filme, que encaminha para novas sequências de “ação”. Contudo, é nessa chave de ambiguidades que o filme consegue criar belíssimas imagens a partir de uma animação que preocupa-se com um preenchimento de quadro, retratando um período em seu próprio estilo. Refletindo como sua noção de perspectiva é ditada por essa representação histórica. Por outro lado, a animação torna-se menos rigorosa em seus “enquadramentos” no universo dos lobos, que possuem uma “realidade” paralela, com cores vivas e uma fluidez de movimentos que parece dançar com a câmera. A linguagem representa a noção de identidade fundada a partir da dicotomia entre o Nós x Eles. 

Não à toa, a montagem se concentra nesses dois campos de maneira alternada, para que possamos compreender as motivações de cada um, sem que o espectador se apegue pelos humanos que detém o poder. “Wolfwalkers” se apresenta com desvios explícitos de uma possibilidade única de exposição dessa narrativa em aventuras contínuas, trabalhando alguns dispositivos dramáticos que amplie essa bipolaridade. O povo surge como um pano de fundo aqui e a população apenas reage às batalhas. O rosto é sua forma de expressão diante das mentiras desveladas e da necessidade de trabalho. Essa forma de criar uma alienação da obra em torno da realidade, visando tornar suas necessidades uma questão paralela que apenas pressiona o Lorde à tomar mais medidas violentas, é uma fórmula programática que a indústria encontra de seccionar as lutas para centralismos que desviam do problema inicial. 

O “espetáculo” visual que a animação cria, acaba desviando problemas graves na condução dessa narrativa, com amontoados de clichês e uma proposta que segue os caminhos mais fáceis para problemas complexos. Esses problemas fazem com que o longa não se diferencie dos demais projetos industriais que entram em competição no Oscar, mas o destaque meramente visual chama atenção da mídia e vai ser utilizado para justificar sua presença na premiação. 

“Wolfwalkers” é uma distração consciente de seu visual imponente, mas que pouco consegue entregar para além da primeira impressão da imagem. Pode atrair alguns admiradores, que sempre irão ressaltar esse aspecto da linguagem, e fomentar que a possível premiação para “Soul” é uma injustiça grave com o mercado paralelo à Hollywood. A torcida por um roteiro distinto da indústria norte-americana, premiando ela mesma, parece sempre um sonho infantil.

3 Nota do Crítico 5 1

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