Wilsinho Galiléia
Mal dos trópikos
Por Vitor Velloso
Durante o CineOP 2020
Nos trópykos….é quente pra caralho. Em “Dois Perdidos Numa Noite Suja” Arthur Fleck é Paco à procura de um pisante. Em “Bandido da Luz Vermelha” o marginal quem não tem mais o que fazer, avacalha. Em “Wilsinho Galiléia”… o subdesenvolvimento, o real, a violência, a deturpação da ordem pública, a reação tacanha de brutalidade, o abandono social, o erro do Estado e… o sonho de ter vida de “playboy”.
O filme de João Batista de Andrade, gênio, é um docudrama que conta a história desse personagem real que era Wilsinho Galiléia, assassinado na década de 70. Mas o diretor não quer apenas remontar parte dessa história, muito menos filmar essa realidade. A ambição de João Batista de Andrade é a exposição desse mal do trópyko, o subdesenvolvimento como a raiz de um problema social, a covardia do Estado no trato dessa população marginalizada, a falta de recurso, de perspectiva.
Diversos dos entrevistados no filme, não possuem sonhos para além da “vagabundagem”, a vida “fácil”, aqui as aspas ficam direcionadas especificamente para Ramiro, irmão mais novo de Wilsinho, assassinado logo após a filmagem do documentário.
O bandido que dá nome ao projeto não era malquisto na sociedade, era conhecido como “homem calado”, “explosivo”, “raivoso”, “revoltado”, “inquieto”, “não fazia mal a ninguém” etc. As contradições que envolvem seu nome podem ser encerradas no campo da moral e da legalidade, onde aos 17 anos já havia cometido 11 assassinatos. Não. Wilsinho não era uma pessoa boa. Introduziu meio mundo no crime, porém após sua morte, conseguiu o que tanto almejava, a fama. Sua mãe fala de uma pessoa que não reconhecemos nos relatos, seus parceiros de crime citam um homem que não escutamos das vítimas.
A deturpação moral, social, da ordem, da sociedade era tamanha que o paradoxo se faz. A dialética ganha forma em sua própria matéria, Wilsinho era um fruto do subdesenvolvimento.
João Batista de Andrade compreende a precariedade desse cinema que não se consumou, desse país que não deu certo, desse capitalismo dependente, dessa violência tacanha, funesta, inócua, subdesenvolvida. O documentário como primazia do relato, primitivismo cinematográfico.
“São aviõezinhos, mas tão a caminho do World Trade Center
Todo mundo sabe que vai dar merda
Aquela blusa de time foda
O defeito é só o volume ao lado
De resto, ó, cabelin na régua”
Bené. Djonga.