Direção: Guillermo Arriaga
Roteiro: Guillermo Arriaga
Elenco: Charlize Theron, Kim Basinger, Jennifer Lawrence, José María Yazpik, Joaquim de Almeida, Tessa la, Diego J. Torres, J. D. Pardo, Danny Pino
Fotografia: Robert Elswit, John Toll
Trilha Sonora: Omar Rodriguez-Lopez, Hans Zimmer
Produção: Laurie MacDonald, Walter F. Parkes
Distribuidora: Paris Filmes
Estúdio: 2929 Productions / Costa Films / Parkes/MacDonald Productions
Duração: 111 minutos
País: Estados Unidos / Argentina
Ano: 2008
COTAÇÃO: BOM
A opinião
O estilo não linear, com histórias independentes que se cruzam é uma das características do diretor estreante Guillermo Arriaga, já famoso por seus roteiros de “21 gramas” e “Babel”, filmes de Alejandro González Iñárritu.
Um ônibus queimado é o inicio da trama. Corta-se para uma mulher expulsando um homem da cama. Ela nua, sem pudores. Corta-se para uma conversa fútil de relações descartáveis. “O mesmo cara de ontem?”, pergunta-se. A mulher (Charlize Theron) trabalha em um restaurante como uma especialista em vinhos. Ela muito solitária e defensiva, com problemas de auto mutilação, com o que acontece em sua vida, criando a indiferença para esconder algo que o roteiro deseja esconder por enquanto.
Os cenários são intercalados a todo instante com suas historias paralelas. O filme não vem pronto, cabendo ao espectador juntar as peças do quebra-cabeça no momento certo. A grandeza do cenário, como um avião pulverizando uma colheita, estimula as neuroses e os problemas de seus personagens. Outros elementos são introduzidos. Um homem observa e aumenta o suspense e a curiosidade do que irá acontecer. Corta-se para Gina (Kim Basinger) que encontra um homem que a beija sem jeito e que a faz tremer de nervoso, tesão ou culpa. A concatenação inicia como um jato, explicando o porque da indiferença, raiva, fuga.
Percebemos os vícios e catarses dos que estão sendo apresentados. As cenas impactantes e rápidas recorrem a intercalar-se sem nexo, como um grupo de jovens que encontra o ônibus do inicio já totalmente queimado. Uma ação explica outra e assim por diante. A falta de elementos instiga. Outros elementos são adicionados. Quem está do outro lado da tela espera ávido pelas explicações. Retrata vidas que aos poucos se cruzam e começamos a entender o propósito que o diretor quer transmitir. A música ajuda a esperar o que há por vir. É um grande jogo. E tudo ocasionado por uma única escolha que motiva outras escolhas. A infidelidade de um transforma a vida de vários. É a tão falada teoria do Caos, um bater de asas de uma borboleta no Japão pode ocasionar um terremoto em algum outro lugar.
Aborda as histórias de uma mãe, Gina e sua filha, Sylvia (Charlize Theron), que tentam recriar seus laços familiares. A manipulação do roteiro funciona, pecando em alguns momentos, não por pretensão, mas por amadorismo do começo nesta nova empreitada.
A fotografia contrasta a luz do sol com o frio e o seco dos sentimentos dos seus personagens. A solidão é o refugio para os erros, projetando a liberdade das relações humanas, porém hipócritas no verdadeiro ser. Narra o tempo real das ações. É o realismo quase não ficcional.
A partir desse acontecimento as historias vão sendo explicadas. Desculpas para esconder ações. Sexo casual como punição e carência crônica. A expectativa é gerada. Planos longos mostram o distanciamento, logo depois chegam mais perto, o conhecimento e mais próximos, a intimidade. É óbvio, mas é muito bom. Funciona como uma poesia cinematográfica. O mesmo fogo que queima e que destrói é o mesmo que une e marca vidas para sempre. “O fogo dos arbustos purifica”
A cena da tremedeira da Kim Bassinger vale muito a pena ser vista. Porém falta o aprofundamento. Muita técnica e pouca percepção do seu próprio conteúdo. O diretor mostra o medo de ousar.
Retrata vidas e um trailer no meio do nada, onde nada acontece. Cria a metáfora do vazio da existência humana. A simplicidade e pureza perdem-se em desejos carnais e com experimentações do novo. A novidade causa mais vontade da vivência do que o comodismo.
A vingança por raiva ou pela própria crueldade estampa queimaduras invisíveis em quem as ocasionou e as visíveis na figura queimada. As conseqüências são as mais doloridas para se conviver no futuro. A reviravolta choca, explica e faz matar a alma. “Nunca terei paz”, diz-se. Com isso fornece a redenção aos seus personagens. É um filme que tenta salvar as mazelas cometidas das pessoas da historia. Dando a purificação do acaso.
Cada um vive as suas cicatrizes. Algumas marcas, visíveis, outras nem tanto, são “lindas, por se ter passado por isso”. A vivência é o conhecimento do mundo experimentado. Os fantasmas sempre serão presentes, mas poderão ser amenizados por ajuda do universo. O passado pode ficar no passado quando o presente tem a solução melhor de resoluções das pendências pessoas. O longa apresenta uma suposta paz momentânea. Um respiro em um abafamento constante e quente.
Vale a pena ser visto. Mesmo com as falhas ingênuas de direção. O roteiro é muito bom. O realismo é presente. Há o tempo real de tédio que é muito bem retratado. Recomendo. Indicado ao Leão de Ouro de Veneza em 2008.
Guillermo Arriaga Jordan nasceu em 13 de março de 1958. É autor, produtor, roteirista e agora diretor mexicano. Em sua infância viveu em um dos lugares mais violento da cidade. Antes de se aventurar no cinema, tentou ser boxeador, jogador de basquete e futebol. Formado em Psicologia, ele se define como um caçador que trabalha como escritor. Autor de “Amores Brutos”, ganhou o BAFTA como roteirista em “21 gramas” e Cannes em “Três enterros – The Three Burials of Melquiades Estrada”. Em 2007 adaptou o livro “O Búfalo da noite”, dirigido por Jorge Hernandez Aldana. “Vidas que se cruzam – the burning plan” é a sua estreia na direção.
Filmografia como Roteirista
1999 – Un Dulce Olor a Muerte
2000 – Amores perros
2001 – The Hire: Powder Keg
2004 – 21 Grams
2005 – The Three Burials of Melquiades Estrada
2006 – Babel
2007 – El Búfalo de la Noche
2009 – The Burning Plain
Livros
1991 – Escuadrón Guillotina
1994 – Un Dulce Olor a Muerte
2007 – Night Buffalo
2007 – A Sweet Scent of Death
2007 – The Guillotine Squad