Vai Melhorar
Campanhas e verdades
Por Vitor Velloso
Mostra de Cinema de Gostoso 2021
“Vai melhorar” de Pedro Fiuza é um filme com direcionamentos múltiplos em questões políticas que são contemporâneas. O curta assume o eixo protagonista como a articulação única da narrativa, o que unifica as verves dramáticas em uma representação singular. Desde a relação da imagem pública com a particular-privada, com o distanciamento familiar por conta do trabalho, à dificuldade de aceitar o discurso do “patrão” e a necessidade de uma resposta.
Aqui a diferença de classes é uma chave paralela, a proposta caminha para outros campos e constrói uma estrutura que está mais concentrada em uma catarse final que em uma cadência crítica das representações do real. Não à toa, os minutos finais do projeto, preparam para esse clímax que chega como uma espécie de revoltar particular diante da decadência da imagem pública. É algo próximo ao fim de “Curral” e uma breve tentativa de assumir as rédeas dos acontecimentos a partir de um ato individual capaz de modificar as estruturas de poder. A própria linguagem segue uma espécie de padronização, com enquadramentos claros e um feche dramático interno em cada cena.
O título vai de encontro às conversas comuns durante o período de eleições e o “Vai melhorar” é aquela esperança tacanha que alimentamos a cada vez que vamos nas urnas. A questão problemática aqui é como esse modelo visa apenas uma desarticulação da campanha e não uma mudança real no modo dessa política de ser feita. A denúncia representa pouco e a ilegalidade se tornou práxis. O curta acaba sendo otimista em conceber que a divulgação das fraudes seja o início de algo, contudo, outro dia hipótese virou prova e cheque foi engavetado.