Urubá
A espirtualidade e a visão
Por Vitor Velloso
Mostra de Cinema de Gostoso 2021
O Brasil deve reconhecer, sempre, que o “materialismo religioso” de uma brasilidade só pode encontrar uma questão palpável se colocarmos em pauta as religiões de matriz africana. “Urubá” de Rodrigo Sena é um documentário que compreende a História e a tradição a partir da própria relação com a gira. Seu protagonista é o monumento de uma encenação que se dá no próprio quadro, sem distanciar demais para não perder a organização do caos, mas sem aproximar demais porque o respeito responde com distância.
O curta-metragem sabe onde reside esses espaços na memória, entre o afeto e a tradição maior que só a comunhão. Imagens que causam estranheza em tempos pandêmicos, onde a gira se forma e ninguém está deslocado, é uma unidade não orgânica, onde a “materialidade religiosa” organiza e congrega. Luiz enxerga mais que todos nós, independente do que a realidade física mostre.
“Urubá” reconhece nos cantos a tradição ancestral, sem o peso da fé cristã, justamente na mão contrária. É o registro assumindo o contorno de uma disposição na articulação desses espaços. O enquadramento que é elaborado, mas se modifica conforme o objeto se desloca. Contudo, filmar em terreiro não é tão simples. O centrismo não é a tônica, tudo é objeto, tudo se move, tudo se desloca e mantém movimento. Essa falta de eixo central faz com que o filme dirigido por Rodrigo Sena necessite de respiros nos amparos com as falas para a câmera e em imagens de apoio. Em ambos os casos, não há um desvio drástico no ritmo, pelo contrário, são bem cadenciadas e encontram boas representações, sempre somando ao resultado final.