Turma da Mônica: Lições
Amadurecimento em pouco tempo
Por Vitor Velloso
Durante o Festival do Rio 2021
O novo projeto do universo criado por Maurício de Sousa, “Turma da Mônica: Lições” traz o amadurecimento dos personagens na medida em que compreende o lúdico como uma face necessária para a formação da criança. Nessa proposta de abarcar uma gama maior de referências e acompanhar o espectador ao longo dos anos, o filme inicia sua jornada com a necessidade de ver parte da turma sendo separada. A franquia começa a ganhar contornos múltiplos com a adição de uma série de novos personagens que vão aparecendo ao longo da projeção, de Bidu à Piteco a memória do espectador é resgatada para materializar os desenhos de Maurício e homenagear o próprio projeto Graphic MSP que serviu de base para o roteiro.
Não por acaso, o desenvolvimento em “Turma da Mônica: Lições” é um processo que precisa recorrer menos à fantasia para funcionar, pois cria novos dramas para as conhecidas relações. Tais movimentos narrativos não dizem respeito apenas aos protagonistas, mas a percepção do espectador do que os define. Existe uma tentativa de desconstruir alguns estereótipos imediatos, indo na direção da superação e do amadurecimento como chave para mudanças sensíveis. A grande questão que muda os rumos da história, surge da inconsequência das atitudes e das responsabilidades a serem cumpridas, o título possui dois sentidos nessa lógica. Assim, conforme vemos a dissolução daquele universo lúdico e uma maior quantidade de conflitos se estabelecendo, a direção passa a dobrar a encenação a favor de caricaturas em meio à sobriedade, com apoio de efeitos, zooms e uma montagem que brinca com as perspectivas.
Então, quanto mais personagens vão adentrando a história, uma certa confusão se estabelece na estrutura e a obra não é capaz de dar conta de tudo sem perder o equilíbrio. É possível sentir uma certa queda de ritmo na dinâmica do longa em alguns momentos próximo à metade, justamente quando essa problemática central precisa ser superada. Não demora muito para as coisas voltarem aos eixos e funcionarem de forma menos automatizada. Um elemento que ajuda a sustentar essas oscilações é o humor ingênuo de um filme que soube crescer com os dois anos que separam os projetos, tornando-se um ponto relevante para marcar uma geração e acompanhar o crescimento de uma franquia. Quando a comicidade de “Turma da Mônica: Lições” se revela tão infantil quanto deveria e madura o suficiente para não seccionar parte de seu público, percebe-se que a estratégia da narrativa está sendo a de construir uma ligação entre os pais e os filhos. Não apenas na obra, mas nas salas de cinema, revelando a moral de teor quase expositivo: “é possível crescer sem deixar de ser criança”. O convite à imaginação e ao entretenimento de maneira mais pura funciona sem que haja a sensação de que estão forçando essa percepção diante do espectador.
Por essa razão, mesmo que alguém não se divirta na medida esperada, não deve se aborrecer com as piadas e com as atuações, mais honestas que polidas. E talvez esse seja o grande charme aqui, a sinceridade da diversão acima de tudo. Algo incomum em tempos onde a maioria dos produtos apenas seguem as fórmulas de sucesso do mercado. “Turma da Mônica: Lições” faz jus ao título em sua ambiguidade inerente e serve de exemplo para outros filmes infanto-juvenis que chegarão às salas de cinema. O maior erro dos produtores e realizadores, é subestimar as crianças. Essa atitude revela não apenas um enorme preconceito com o público-alvo, mas uma enorme indiferença com a consciência de uma geração inteira. Essa questão não está presente nos dois filmes de Daniel Rezende e Maurício de Sousa Produções, o que revela uma unidade sólida da adaptação e dos filmes. Uma boa lição da Mônica, Cascão, Magali e Cebolinha. Aliás… os fãs vão ao delírio nos minutos finais.