Tudo Sobre os Vencedores do Festival de Berlim 2024
A cerimônia de premiação aconteceu neste sábado (25), premiou “Dahomey” com o Urso de Ouro de Melhor Filme, e Melhor Direção para o brasileiro “Cidade; Campo” na mostra Encounters
Por Fabricio Duque
Toda cerimônia de premiação do Festival de Cinema de Berlim começa bem antes. Como sempre, o tapete vermelho é o termômetro. Cada um que desfila seus figurinos causa a ansiedade e o burburinho de possíveis vencedores. Neste ano, os holofotes foram para Lupita Nyong’o, a presidenta do Júri Oficial, toda elegante e trabalhada na purpurina dourada. Sim, a woman king, que referencio ao filme de título homônimo com Viola Davis. No red carpet também passaram os brasileiros Marcelo Botta, de “Betânia”, integrante competitivo da Mostra Panorama (a cerimônia de premiação será amanhã (domingo à tarde), e a equipe de “Cidade; Campo”, de Juliana Rojas, da competição da Mostra Encounters. Ontem, o curta-metragem “Lapso”, de Caroline Cavalcanti, recebeu Menção Honrosa na Mostra Generation KPlus. E a co-produção brasileira “Dormir de Olhos Abertos” venceu o prêmio Fipresci da crítica internacional. Diferente dos anos anteriores, nesta edição 74 não haverá coletiva de imprensa com os vencedores. E a exibição da cerimônia de premiação será em uma sala apenas no Cinemaxx, talvez por conta do que pudemos perceber que a maior parte da imprensa já foi embora.
E assim, a festa começa com a melhor vinheta de abertura de todos os festivais. Sim, a essência do Festival de Cinema de Berlim é ser um festival orgânico, de cinefilia incondicional e internalizada. Quem conduz a cerimônia é a apresentadora Hadnet Tesfai, que começa (e também faz a mediação) com uma conversa com o diretor artístico Carlo Chatrian e a diretora executiva Mariëtte Rissenbeek. Carlo fala sobre política e refugiados. Hadnet lança a pergunta sobre a Ucrânia. No cartaz no palco: ”Sem racismo no AFD”. “Poder de conectar o cinema. Ser otimista, porque juntos somos melhores”, complementa Chatrian. Este ano foi mais político. “Temos vítimas todos os dias”, disse Mariëtte, que foi diplomática, do início ao fim, incluindo Carlo, em relação ao posicionamento do festival pró-Israel. “Temos diálogos no painel, mas precisamos defender perspectivas. Nós respeitamos as diferenças. Mas não toleramos discursos de ódio de jeito nenhum”, adiciona Rissenbeek. A mediadora ainda provoca mais os dois com perguntas. Ainda que seja ensaiado previamente, é extremamente importante levantar a questão. A outra questão é sobre a presença de atores famosos: Adam Sandler, Kristen Stuart, Martin Scorsese. “O glamour é muito importante. Aumenta a fantasia e magia do cinema”, disse Carlo. “Por favor, aplaudam os patrocinadores e apoiadores”, finalizou Mariëtte. Foi apresentada também a nova diretora artística da Berlinale, Tricia Tuttle, que inicia o ciclo de Carlo Chatrian, desde 2018.
Leia também:
Tudo Sobre o Festival de Cinema de Berlim 2024 e os Filmes Brasileiros
Primeiras Percepções do Festival de Berlim 2024
A Crítica e as Cotações dos Filmes do Festival de Berlim 2024
Durante toda a cerimônia de premiação, percebemos também que talvez o júri oficial não tenha tido tanta afinidade uns com os outros. Ou talvez seja timidez. Pois é, escolher um júri compatível não é fácil. A queniana Lupita Nyong’o, a presidenta, ao lado de diretor norteamericano Brady Corbet; pela diretora de Hong Kong Ann Hui; o diretor alemão Christian Petzold; o diretor espanhol Albert Serra; a diretora italiana Jasmine Trinca; e a escritora ucraniana Oksana Zabuzhko, buscaram “respeitar as opiniões”, dito na apresentação de Lupita. Em um panorama geral dos prêmios, pautou-se pelo viés político-social, como o pedido de paz e não guerra, mensagem do filme “No Other Land”, a reparação histórica dos povos ancestrais em “Dahomey”, e também por filmes bem mais experimentais, “The Empire” e “Pepe” são alguns deles. Sim, alguns resultados da competição oficial não agradaram mesmo. Mas outros foram mais unânimes, como o Urso de Ouro para “Dahomey”, meu filme favorito e da grande maioria também. Mas cadê “My Favourite Cake”, cadê “Vogter”? Nenhum prêmio!
Sobre “No Other Land”, o discurso de um dos diretores esclareceu e emocionou quando contou a história. Ele, um israelense, dirigindo junto de um palestino. “Eu filmei o horror junto de minha família”, disse o palestino que ainda mandou uma mensagem para Berlim: Stop! (Pare!). No do israelense: “essa divisão tem que acabar; buscar soluções políticas; espero que este filme atinja milhões de pessoas”.
O cinema brasileiro saiu o Prêmio de Melhor Direção da Mostra Encouters para “Cidade; Campo”, de Juliana Rojas. “Obrigado Carlo (Chatrian)! Obrigado a toda a equipe que fez a Berlinale! Obrigado Adriana Natália! Este filme foi uma das experiências mais desafiadoras da minha vida, mas também a mais profunda das experiências que tive, porque eu tive muita conexões solidárias com minha equipe. Eu senti muita liberdade e assim obrigado a todos os envolvidos no filme, especialmente minha produtora Sara Silveira, que é uma das mais importantes produtoras brasileiras. Ela continuou com o filme mesmo com todas as adversidades em nosso país (Brasil). Quero agradecer a minha parceira que está aqui, que me apoia: eu te amo! Este também é um espaço para dizer às cineastas para se juntar solidários para propagar o cessar fogo em Gaza e parar todas as mortes de palestinos inocentes que são muitos. E dedicar este prêmio a todos(as) cineastas brasileiros(as) e todo o trabalho de vocês, antes de mim e depois de mim e também às diretoras mulheres. Isso é tudo! Viva o Cinema Brasileiro”, discursou Juliana Rojas.
LISTA COMPLETA DOS VENCEDORES DO FESTIVAL DE CINEMA DE BERLIM 2024
COMPETIÇÃO
Urso de Ouro de Melhor Filme
“Dahomey”, de Mati Diop – Produtores Eve Robin, Judith Lou Lévy, Mati Diop “a minha solidariedade para a Palestina”
Urso de Prata Grande Prêmio do Júri
“Yeohaengjaui pilyo (A Traveler’s Needs)”, de Hong Sangsoo
“Estou curioso para entender o porquê do prêmio; é muito – it’s too much”
Urso de Prata de Melhor Direção
Nelson Carlos De Los Santos Arias por “Pepe”
“história de imaginação sobre territórios de morte”
Urso de Prata de Prêmio do Júri
“L’ Empire (The Empire)”, de Bruno Dumont
Mais um francês no palco falando um inglês sofrível. Justine Trier também fez isso em premiações de Hollywood. Aqui, ele debocha e age desrespeitosamente. Depois, ele pega o celular e coloca a voz de uma de suas personagens no filme: “um cinema filme é um cinema filme”.
Urso de Prata Contribuição artística
“The Devil’s Bath”, de Veronika Franz e Severin Fiala
Urso de Prata de Melhor Roteiro
“Steben (Dying)”, de Matthias Glasner
“um filme sobre a essência do amor; abri meu coração e o público viu isso; eu amo realmente o cinema; a experiência; o mundo está terrível agora, mas minha filha disse uma vez: ouça seu coração”
Urso de Prata de Melhor Atuação Coadjuvante (não há separação de ator e atriz, visto que a Berlinale busca respeitar a identidade de gênero)
A atriz Emily Watson por seu papel “Small Things Like These”, de Tim Mielants
Urso de Prata de Melhor Atuação (não há separação de ator e atriz, visto que a Berlinale busca respeitar a identidade de gênero)
O ator Sebastian Stan por “A Different Man”, de Aaron Schimberg
BERLINALE SHORTS (Curtas-metragens)
Urso de Ouro de Melhor Curta-Metragem
“Un movimiento extraño”, de An Odd Turn
Urso de Prata Prêmio do Júri
“Retian wu hou (Remains of the Hot Day)”, de Wenqian Zhang
“Tenho tanta coisa para dizer, silenciosamente”
Menção Honrosa
“That’s All From Me (So viel von mir)”, de Eva Könnemann
Curta-metragem indicado para o European Film Awards
“That’s All From Me (So viel von mir)”, de Eva Könnemann
MOSTRA ENCOUNTERS (Encontros)
Melhor Filme
“Direction Action”, de Guillaume Cailleau, Ben Russell
Melhor Direção
“Cidade; Campo”, de Juliana Rojas
Prêmio Especial do Júri Ex-aequo
“Khamyazeye bozorg (The Great Yawn of History)”, de Aliyar Rasti
“Kong fang jian li de nv ren (Some Rain Must Fall)”, de Qiu Yang
DOCUMENTÁRIO
Prêmio de Melhor Documentário da Berlinale
“No Other Land”, de Basel Adra, Hamdan Ballal, Yuval Abraham, Rachel Szor (Panorama Documentário)
Menção Honrosa
“Direction Action”, de Guillaume Cailleau, Ben Russell
GWFF
Prêmio Melhor Primeiro Filme
“Cu Li Không Bao Giờ Khóc (Cu Li Never Cries)”, de Phạm Ngọc Lân (da Mostra Panorama). O diretor sobe ao palco com um boné do personagem Frajola de desenho animado. E no papel de seu discurso tem um desenho também. Em uma das juradas (em itaniano), há uma mensagem “Cesse fogo agora”. “Ativismo de guerra. Gandhi, Mark Twain. Não existe justiça na guerra”, disse uma das integrantes do Júri.
GENERATION
Júri Geração Kplus de Crianças
Urso de Cristal para Melhor Filme
“It’s Okay”, de Kim Hye-young
Menção Honrosa
“Young Hearts (Junge Herzen)”, de Anthony Schatteman
Urso de Cristal para Melhor Curta-Metragem
“Papillon (Buterfly / Schmettering)”, de Florence Miailhe
Menção Honrosa
“Sukoun (Amplifield / In die Stille)”, de Dina Naser
Competição Generation Kplus
Grande Prêmio do Júri Internacional
“Reinas”, de Klaudia Reynicke
Menção Honrosa
“Raiz”, de Franco Garcia Becerra
Prêmio Especial do Júri Internacional de Melhor Curta-Metragem
“A Summer’s End Poem (Sommer, Ende)”, de Lam Can-zhao
Menção Honrosa
“Uli”, de Mariana Gil Ríos
Generation 14plus
Urso de Cristal para Melhor Filme
“Last Swin”, de Sasha Nathwani
Menção Honrosa
“Kai Shi De Qiang (She Sat There Like All Ordinary Ones)”, de Qu Youjia
Urso de Cristal para Melhor Curta-Metragem
“Cura Sana”, de Lucía G. Romero
Menção Honrosa
“Lapso”, de Caroline Cavalcanti
Grande Prêmio do Júri Internacional
“Comme le feu (Who by Fire)”, de Phillippe Lesage
Menção Honrosa
“Maydegol”, de Sarvnaz Alambeigi
Prêmio Especial do Júri Internacional de Melhor Curta-Metragem
“Un pájaro voló (A Bird Flew)”, de Leinad Pájaro De La Hoz
Menção Honrosa
“Songs of Love and Hate”, de Saurav Ghi
Prêmio do Júri Ecumênico
Melhor Filme da Competição
“Keyke mahboobe man (My Favourite Cake)”, de Maryam Moghaddam e Behtash Sanaeeha
Melhor Filme da Panorama
“Sex”, de Dag Johan Haugerud
Melhor Filme da Forum
“Marijas Klusums (Maria’s Silence)”, de Dãvis Sīmanis
Menção Honrosa
“Intercepted”, de Oksana Karpovych
Prêmio Fipresci (Crítica Internacional)
Melhor Filme da Competição
“Keyke mahboobe man (My Favourite Cake)”, de Maryam Moghaddam e Behtash Sanaeeha
Melhor Filme da Encounters
“Dormir de Olhos Abertos”, de Nele Wohlatz
Melhor Filme da Panorama
“Faruk”, de Asli Özge
Melhor Filme da Forum
“The Human Hibernation”, de Anna Cornudella Castro
Prêmio Teddy
Melhor Filme
“All Shall Be Well”, de Ray Yeung
Melhor Documentário (Essay Film)
“Teaches of Peaches”, de Philipp Fussenegger, Judy Landkammer
Melhor Curta-Metragem
“Grandmamauntsistercat”, de Zuza Banasińska
Prêmio do Júri
“Crossing”, de Levan Akin
Prêmio Especial Teddy
Lothar Lambert
Prêmio Caligari Film
Melhor Filme
“Shahid”, de Narges Kalhor
Prêmio Peace Film
Melhor Filme
“Favoriten”, de Ruth Beckermann
Prêmio da Anistia Internacional
Melhor Filme
“The Stranger’s Case”, de Brandt Andersen
Prêmio do Público Mostra Panorama
Melhor Filme
“Memorias de un cuerpo que arde”, de Antonella Sudasassi Furniss
Melhor Documentário
“No Other Land”, de Basel Adra, Hamdan Ballal, Yuval Abraham, Rachel Szor