Tudo sobre o Festival 8 ½ Festa do Cinema Italiano 2022

Tudo sobre o Festival 8 ½ Festa do Cinema Italiano 2022

Um panorama contemporâneo que acontece de 28 de julho a 10 de agosto em 19 cidades brasileiras

Por Fabricio Duque (baseado no release oficial)

Desde seu primeiro filme realizado em 1896, “Umberto e Margherita de Saboia Caminhando no Parque”, de Vittorio Calcina, o cinema italiano firmou-se como uma voz formal de contar histórias pela verdade ficcional e mais próxima do cotidiano da vida real. Dessa forma, com um que mais documental, o tom narrativo seguia pelo orgânico e propositalmente mais amador, a fim de tentar traduzir a essência de críticas à sociedade por crônicas intimistas do dia-a-dia. Do micro para abordar o macro. Luchino Visconti, Mario Monicelli, Vittorio De Sica, Federico Fellini, Sergio Leone, Giuseppe Tornatore (com seu “Cinema Paradiso”), Marco Ferreri, Nanni Moretti, Roberto Rossellini e Marco Bellocchio são alguns dos cineastas que não só impulsionaram o cinema italiano, como eternizaram muitos filmes. Em sua 9ª edição no Brasil, o Festival 8 ½ Festa do Cinema Italiano traz 12 filmes em pré-estreia e “revela mais uma vez o vigor da produção atual do cinema italiano, com uma seleção de filmes provenientes dos principais festivais internacionais e alguns dos maiores sucessos de bilheteria na Itália”. “Cada fase da feitura de um filme apresenta dificuldades, imprevistos; faz parte do nosso trabalho superá-los ou procurar conviver com eles”, assim como uma das frases de Federico Fellini, o cinema italiano busca no orgânico da verdade para contar “mentiras”coloquiais e cotidianos sobre um povo que sabe exatamente como é.

Uma dos artistas homenageados nesta edição de 2022 é Ennio Morricone com a exibição especial de “Ennio, o Maestro”, documentário que Giuseppe Tornatore (de “Cinema Paradiso” e “Mallena”) realizou sobre a vida e obra do grande maestro, conta com a colaboração especial de Marco Morricone, filho de Ennio. Em “Ennio, o Maestro”, exibido no 78º Festival de Veneza, Tornatore, grande parceiro do maestro e compositor, reconta a história de Ennio desde a infância até a vida adulta, passando pelos anos de conservatório e, claro, por seus grandes filmes e prêmios, sem esquecer do Oscar: seis indicações e dois prêmios (Um honorário pela carreira em 2007 e outro pela trilha sonora de “Os Oito Odiados”, de Quentin Tarantino, em 2016).  Mais que uma aula de cinema, é também uma aula de música, uma lição sobre a genialidade de Morricone, que criava para o cinema como quem desenhava a música em sua mente antes de escrevê-la ou gravá-la. “Papai pode ser considerado um compositor versátil, que em mais de meio século, escreveu tanto música “absoluta” (ou seja, concebida como um ato criativo livre e não condicionado) quanto música “aplicada” (ou seja, a serviço de outra arte: cinema, teatro, televisão). Ainda hoje é um clichê bastante difundido considerar os dois lados de sua atividade como compositor como separados: por um lado, a grande produção de música “absoluta”, que pertence ao universo das neovanguardas e experiências como a no Grupo de Improvisação Nuova Consonanza (onde ingressou em 1965), que sempre manteve uma forte tensão e caráter modernista; por outro lado, o trabalho ainda mais extenso no campo da música “aplicada”, marcado por colaborações com os mais importantes diretores italianos e internacionais, de Bernardo Bertolucci e Pier Paolo Pasolini aos irmãos Paolo e Vittorio Taviani, de Brian De Palma a Quentin Tarantino, de Roman Polanski a Pedro Almodóvar e, em particular, das parcerias com Sergio Leone, Gillo Pontecorvo e Giuseppe Tornatore””, comenta Marco.Il buco

O Festival 8 ½ Festa do Cinema Italiano 2022 traz uma “programação que une jovens talentos com veteranos, experimentações e filmes de linguagem clássica”. De 28 de julho a 3 de agosto, nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Brasília, Salvador, Recife e Porto Alegre, e na sequência, entre os dias 4 e 10 de agosto, Vitória, Fortaleza, Natal, Belém, Curitiba, Florianópolis, Londrina, Santos, Campinas, Goiânia, Niterói e Maringá. Outra homenagem em memória de seus 100 anos, completados em 5 de março último, encontra o realizador Pier Paolo Pasolini, com a exibição de “Mamma Roma”. Interpretada por Anna Magnani, o longa-metragem é sobre uma prostituta de meia-idade que sonha em mudar de classe social para poder voltar a viver com seu filho adolescente, Ettore. Ela faz de tudo para dar uma vida melhor a ele, mas o jovem não quer saber de estudar ou trabalhar e vive na rua com os amigos arruaceiros. Quando o passado de Mamma volta a atormentá-la, ela vai perceber que o recomeço é incerto e, talvez, inalcançável. Segundo longa de Pasolini e uma de suas primeiras obras a retratar os excluídos da sociedade italiana, “Mamma Roma” é um retrato neorrealista, duro, mas também repleto de poesia sobre o martírio desta mãe contemporânea, que marca uma transição na filmografia inicial do subversivo cineasta.

LEIA O ARTIGO 100 ANOS DE PIOR PAOLO PASOLINI: AGONIA E ÊXTASE

Organizado no Brasil pela Associação Il Sorpasso e Risi Film Brasil e com apoios e promoção dos Institutos Italianos de Cultura do Rio de Janeiro e de São Paulo, com o suporte institucional da rede diplomático-consular italiana no Brasil, além da organização logística da Bonfilm, o Festival 8 ½ Festa do Cinema Italiano 2022 apresenta uma lista dos veteranos que estão também sempre inovando, Paolo Taviani vem com “Leonora Adeus”, seu primeiro longa-metragem depois da morte de seu irmão e parceiro de toda a vida, Vittorio Taviani, para quem Paolo dedica o filme. Aos 91 anos, o diretor prova porque é um dos principais nomes da sétima arte mundial, vencedor do Urso de Berlim em 2012 por “Cesar Deve Morrer”, e, com Vittorio, realizador de clássicos como “Pai Patrão”(1977) e “A Noite de São Lourenço” (1982). Exibido no Festival de Berlim 2022, “Leonora Adeus” tem uma narrativa nada convencional, o longa levou o prêmio de Melhor Filme segundo a Fipresci (Federação Internacional de Críticos de Cinema). O filme parte da história real do escritor Luigi Pirandello e cria uma fábula ousada, que traz cenas de clássicos do neorrealismo italiano mescladas com cenas filmadas por Taviani, que conta a história das cinzas do autor.  Siciliano de Agrigento, Pirandello, que faleceu em 1936 e nunca quis um funeral pomposo. Ao contrário, deixou escrito que queria que suas cinzas fossem depositadas no pequeno vilarejo em que nasceu. Mas a transferência dos restos mortais é marcada por inúmeros acontecimentos surreais – alguns deles baseados nas próprias ficções do autor, como o conto “Leonora Adeus”, de 1910, e “Il Chiodo”(ou “O Prego”), escrito em 1936, pouco antes de sua morte. 

“Il Buco” manifesta ao festival a vanguarda e a experimentação do cineasta Michelangelo Frammartino, que recebeu o Prêmio Especial do Júri no Festival de Veneza 2021. Diretor do também premiado “As Quatro Voltas” (2010), o cineasta milanês une o cinema de observação documental à fabulação para criar narrativas inovadoras, que mergulham fundo no cotidiano de seus personagens. Neste, Frammartino literalmente mergulha na jornada realizada por um grupo de jovens espeleólogos que encontra pela primeira vez o fundo do Abismo do Bifurto, uma das cavernas mais profundas do mundo, 700 metros abaixo da Terra, na Calábria. Em paralelo, o cineasta nos transporta para a década de 1960, quando o edifício mais alto da Europa estava sendo construído no próspero norte da Itália. Os contrastes entre estes dois mundos criam  novas sensações, dão tridimensionalidade à tela, deixando que a própria natureza e a humanidade se revelem de acordo com os seus ritmos, e que sejam os seus sons e não os diálogos que falam. Mais uma vez, Frammartino nos conduz por uma maravilhosa meditação sobre a curiosidade fundamental de compreender as profundezas incognoscíveis do mundo natural.

Ousadia e vanguarda também marcam o moderno “Freaks Out”, de Gabriele Mainetti. Diretor de “Meu Nome é Jeeg Robot”, que já em 2015 explorava o universo dos super heróis nada convencionais ao trazer o ator Claudio Santamaria no papel de um desajustado romano que descobre que tem poderes especiais, o jovem Mainetti desta vez volta a trabalhar com    Santamaria, mas traz também um time de peso formado por Pietro Castellitto, Giancarlo Martini e Giorgio Tirabassi. Desta vez, a história se passa na Roma na Segunda Guerra Mundial, mais precisamente 1943, quando Matilde, Cencio, Fulvio e Mario vivem como irmãos no circo dirigido por Israel. Os heróis desta vez descobrem o valor de seus poderes quando Israel desaparece misteriosamente, talvez em fuga ou talvez capturado pelos nazistas. Eles, então, são deixados sozinhos na cidade ocupada, mas os seus poderes sobrenaturais vão despertar a atenção de alguém, com um plano que poderá mudar o curso da História.

Inovador ao explorar o universo dos filmes de heróis fora do território de Hollywood, Mainetti prova que este multiverso é muito mais diverso e cheio de possibilidades do que o que imaginamos. Para quem ama o cinema autoral, com um pé na dramédia, “Guia Romântico Para Lugares Perdidos”, de Giorgia Farina, surpreende. A começar pelo elenco, que une o ator britânico Clive Owen à atriz e diretora italiana Jasmine Trinca e a participação mais que especial da francesa Irène Jacob. Na trama, Trinca vive Allegra,  uma blogueira / influencer de viagens agorafóbica, que nunca põe o pé para fora de casa. Ela é uma fraude como exploradora, inventa os textos que publica, sofre de ataques de pânico e tem todas as fobias do mundo. Já Benno (Clive) é um bem sucedido jornalista, que faz especiais sobre o estilo de vida italiano para a TV inglesa, mas sofre de alcoolismo e bebe até esquecer de si mesmo. Eles são vizinhos desconhecidos que não se conhecem, mas por um acaso do ótimo roteiro, que foge do óbvio e dos clichês das comédias românticas, acabam tendo de embarcar juntos em uma viagem improvável. Exibido no 77º Festival de Cinema de Veneza, o terceiro longa-metragem de Giorgia Farina é mais que um guia romântico. O longa é uma jornada  de autodescoberta entre lugares perdidos e esquecidos não só da geografia da Itália, França e Inglaterra, mas das próprias emoções e traumas de cada um.

Para quem ama Toni Servillo (de “A Grande Beleza”), “O Rei do Riso”, de Mario Martone, traz o ator em grande performance na pele do lendário Eduardo Scarpetta, mestre da comédia italiana. Na Nápoles da Belle Époque do início do século 20, um ator criou a personagem burlesca de Felice Sciosciammocca, e as salas lotavam para ver suas apresentações. Rei do riso e rei das bilheteiras, Eduardo Scarpetta (1853-1925), interpretado de forma brilhante pelo grande ator Toni Servillo, encenava uma paródia de “La figlia di Iorio”, tragédia escrita pelo maior poeta italiano da época, Gabriele D’Annunzio, e fazia muito sucesso. Mas um dia apresentação é interrompida por vaias e assobios e Scarpetta acaba sendo processado por plágio por D’Annunzio, marcando a primeira ação judicial sobre direitos autorais na Itália. Inspirado em acontecimentos reais, o filme tem produção esmerada de Mario Martone, encenador e cineasta que assina alguns dos grandes títulos do cinema italiano das últimas décadas. Em “O REI DO RISO”, o cineasta, sempre apaixonado pela cultura napolitana, revisita as tradições do teatro napolitano e recria o que ele próprio chama “o romance imaginário de Eduardo Scarpetta e da sua tribo”. Uma “tribo” familiar e teatral, onde se juntavam a mulher e as amantes, os filhos legítimos e os ilegítimos, entre eles o famoso dramaturgo italiano Eduardo De Filippo, que nasceu da relação de Scarpetta com a sobrinha de sua mulher.

SINOPSES E FICHAS TÉCNICAS DA 8 ½ FESTA DO CINEMA ITALIANO 2022

Ennio

ENNIO, O MAESTRO, de Giuseppe Tornatore

(Ennio) – Itália, 2021, 150′, Documentário, Legendas Português, M/12. Distribuição Brasileira: Risi Film Brasil. O documentário segue a carreira do lendário compositor Ennio Morricone, duas vezes vencedor do Oscar e autor de mais de 500 trilhas sonoras. Com entrevistas e depoimentos de artistas e diretores como Quentin Tarantino, Quincy Jones, Bruce Springsteen, John Williams e Clint Eastwood, o longa traz fatos não revelados sobre o compositor, como seu amor por xadrez, que pode ter ajudado em suas composições e seus pensamentos por trás de cada faixa. Ennio é um retrato profundo de Ennio Morricone, o compositor de cinema mais popular e prolífico do século 20, o mais amado pelo público internacional, duas vezes vencedor do Oscar e autor de mais de quinhentas partituras inesquecíveis. O documentário, exibido no 78º Festival de Veneza, apresenta-nos o compositor e maestro por meio de uma longa entrevista conduzida por Tornatore e de depoimentos de realizadores e músicos, incluindo alguns bem conhecidos do grande público como Bernardo Bertolucci, Marco Bellocchio, Dario Argento, Quentin Tarantino, Wong Kar Wai (um dos produtores e distribuidor do filme), Bruce Springsteen, John Williams e Hans Zimmer. A esta longa lista de admiradores e colaboradores, juntam-se fragmentos da vida privada de Morricone, gravações dos espectáculos, excertos dos filmes e imagens inéditas dos arquivos pessoais. Embora seja impossível retratar o gênio superlativo e revolucionário de Ennio Morricone em duas horas e meia, este belo tributo ao “Il Maestro” consegue revelar parte do mistério por trás da sua extraordinária criatividade.

MAMMA ROMA, de Pier Paolo Pasolini

(Mamma Roma) – Itália, 1962, 106′, Drama, Legendas Português, M/12, com Anna Magnani, Ettore Garfolo, Franco Citti. Distribuição Brasileira: Risi Film Brasil. Mamma Roma é uma prostituta de meia-idade que sonha em mudar de classe social para poder voltar a viver com seu filho adolescente, Ettore. Ela faz de tudo para dar uma vida melhor a ele, mas o jovem não quer saber de estudar ou trabalhar e vive na rua com os amigos arruaceiros. Quando o passado de Mamma volta a atormentá-la, ela vai perceber que o recomeço é incerto e, talvez, inalcançável. Um retrato neorrealista de martírio maternal que marca uma transição na filmografia inicial do subversivo Pasolini. Segundo filme de Pasolini, com argumento original de sua autoria e uma das primeiras obras do cineasta a retratar os excluídos da sociedade italiana. A partir da história melodramática de uma prostituta de Roma que tenta dar uma vida digna ao seu filho, Pasolini constrói um filme com uma extraordinária dimensão poética e social, coroado por uma das mais exímias performances de Anna Magnani.

LEONORA, ADEUS, de Paolo Taviani

(Leonora Addio) – Itália, 2022, 90’, Drama, Legendas Português, M/12, com Fabrizio Ferracane, Matteo Pittiruti, Dania Marino e Dora Becker. Distribuição Brasileira: Risi Film Brasil. Após permanecer por décadas em um grande cemitério, as cinzas do escritor Luigi Pirandello são, enfim, transferidas para o pequeno vilarejo de seu nascimento, conforme os desejos da família e do artista. No entanto, a transferência dos restos mortais é marcada por inúmeros acontecimentos surreais – alguns deles baseados nas próprias ficções do autor. O mais recente filme de Paolo Taviani, dedicado ao irmão Vittorio Taviani, concorreu ao Urso de Ouro do Festival de Berlim 2022, em que foi premiado como o melhor filme segundo o júri da crítica internacional, a FIPRESCI.

EU, LEONARDO, de Jesus Garces Lambert

(Io, Leonardo) – Itália, 2019, 90′, Documentário dramatizado, Biográfico, Legendas Português, M/12, com Luca Argentero, Angela Fontana, Massimo De Lorenzo. Distribuição Brasileira: Risi Film Brasil. Um olhar inédito sobre um dos maiores pensadores da História. O filme explora o homem, o artista, o cientista e o inventor Leonardo Da Vinci, interpretado por Luca Argentero. O protagonista é a mente de Leonardo, um espaço que o acompanha na evocação dos momentos mais significativos de sua vida, um lugar vasto e abstrato em que a natureza e as cenas interiores convivem e o seu gênio ganha vida. Marcando os 500 anos da morte de Leonardo Da Vinci, um olhar inédito, de linguagem cinematográfica singular, sobre um dos maiores pensadores da História. Um filme fascinante que nos convida a  descobrir o homem, o artista, o cientista e o inventor: uma experiência nova e envolvente, com uma perspetiva que foge aos estereótipos.

TINTORETTO – UM REBELDE EM VENEZA, de Giuseppe Domingo Romano

(Tintoretto – Un Rebelle a Venezia) – Itália, 2019, 96’, Documentário, Legendas Português, M/12, com Helena Bonham Carter, Peter Greenaway, Melania Gaia Mazzucco. Distribuição Brasileira: Risi Film Brasil. Um documentário que celebra os 500 anos do nascimento do último grande artista do Renascimento italiano, a mente mais inesperada que a arte da pintura já produziu: Tintoretto. Através da narração de Helena Bonham Carter, o filme explora a rivalidade entre os mais importantes artistas venezianos do século 16, enquanto descobrimos Veneza por meio da vida e das telas de Tintoretto e como a peste negra afetou profundamente a cidade e a arte veneziana. Uma nova e entusiasmante produção de cinema que celebra o 500º aniversário do nascimento do último grande artista do Renascimento italiano. Com narração de Helena Bonham Carter, e participação especial de Peter Greenaway, uma nova e entusiasmante produção de cinema celebra o 500º aniversário do nascimento do último grande artista do Renascimento italiano. O filme explora a rivalidade entre os mais importantes artistas venezianos do século 16: Tintoretto, Ticiano e Veronese em Veneza. Descobrimos Veneza por meio da vida e das telas de Tintoretto. Com o desenrolar da narrativa, começamos a entender como a peste negra afetou profundamente a cidade e a arte veneziana.

FREAKS OUT, de Gabriele Mainetti

(Freaks Out) – Itália, 2021, 141′, Aventura, Legendas Português, M/14, com Claudio Santamaria, Pietro Castellitto, Giancarlo Martini, Giorgio Tirabassi. Roma, 1943: Matilde, Cencio, Fulvio e Mario vivem como irmãos no circo dirigido por Israel. Quando Israel desaparece misteriosamente, talvez em fuga ou talvez capturado pelos nazistas, os quatro são deixados sozinhos na cidade ocupada, mas os seus poderes sobrenaturais vão despertar a atenção de alguém, com um plano que poderá mudar o curso da História. Fulvio está coberto de pêlos da cabeça aos pés e tem uma força sobre-humana. Matilde é uma garota capaz de produzir energia e eletrocutar qualquer pessoa que lhe toque, tão elétrica que acende lâmpadas colocando-as na boca. Mario é um anão com poder de manipular qualquer objeto de metal. E Cencio, interpretado por Pietro Castellito, é um rapaz albino que pode controlar os insetos à sua volta. Estes são os quatro heróis, cheios de verdade e humanidade, de um universo imaginário construído à volta de um dos mais horríveis episódios da História: a Segunda Guerra Mundial. Quando parecia que as aventuras de super-heróis já tinham sido exploradas de todas as maneiras, Gabriele Mainetti retorna à direção, cinco anos depois de “O Meu Nome é Jeeg Robot”, para demonstrar que a criatividade dos italianos nos filmes de gênero é (quase) inigualável.

IL BUCO, de Michelangelo Frammartino 

(Il Buco) – Itália, 2021, 93′, Drama, Legendas Português, Classificação indicativa Livre, com Paolo Cossi, Jacopo Elia, Denise Trombin. Distribuição Brasileira: Zeta Filmes. Durante o boom econômico da década de 1960, o edifício mais alto da Europa está sendo construído no próspero norte da Itália. Do outro lado do país, jovens espeleólogos exploram a caverna mais profunda da Europa no intocado interior da Calábria. O fundo do Abismo Bifurto, 700 metros abaixo da Terra, é alcançado pela primeira vez. A aventura dos intrusos passa despercebida pelos habitantes de uma pequena aldeia vizinha, mas não pelo velho pastor do planalto de Pollino, cuja vida solitária começa a se entrelaçar com a jornada do grupo. O novo filme de Michelangelo Frammartino, que recebeu o prêmio especial do júri no 78º Festival de Veneza, é uma maravilhosa meditação sobre a curiosidade fundamental de compreender as profundezas incognoscíveis do mundo natural. “Il Buco” reconstitui esta jornada realizada por um grupo de jovens espeleólogos que encontra pela primeira vez o fundo do Abismo do Bifurto, uma das cavernas mais profundas do mundo. Com seu estilo único, Frammartino devolve a tridimensionalidade à tela, deixando que a própria natureza e a humanidade se revelem de acordo com os seus ritmos, e que sejam os seus sons e não os diálogos que falam.

O REI DO RISO, de Mario Martone

(Qui Rido Io) – Itália/Espanha, 2021, 133’, Comédia, Legendas Português, M/12, com Toni Servillo, Maria Nazionale, Cristiana Dell’Anna. O filme conta a história de Eduardo Scarpetta, uma lenda da comédia italiana. Tudo muda na vida do humorista quando ele encena uma paródia de “La figlia di Iorio”, uma tragédia escrita pelo maior poeta italiano da época, Gabriele D’Annunzio. Após a apresentação ser interrompida por vaias e assobios, Scarpetta acaba sendo processado por plágio por D’Annunzio, sendo a primeira ação judicial sobre direitos autorais na Itália. Inspirado em acontecimentos reais. Na Nápoles da Belle Époque do início do século 20, um ator criou a personagem burlesca de Felice Sciosciammocca, e as salas lotavam para ver suas apresentações. Rei do riso e rei das bilheteiras, Eduardo Scarpetta (1853-1925), interpretado de forma brilhante pelo grande ator Toni Servillo, teve uma história peculiar. Mario Martone, encenador e cineasta, autor de alguns dos grandes títulos do cinema italiano das últimas décadas, revisita as tradições do teatro napolitano e recria o que ele próprio chama “o romance imaginário de Eduardo Scarpetta e da sua tribo”. Uma “tribo” familiar e teatral, onde se juntavam a mulher e as amantes, os filhos legítimos e os ilegítimos, entre eles o famoso dramaturgo italiano Eduardo De Filippo, que nasceu da relação de Scarpetta com a sobrinha de sua mulher. Um dia, Scarpetta resolve parodiar um drama de Gabriele D’Annunzio, o “poeta oficial” da época, com a anuência deste. Mas D’Annunzio resolve mudar de opinião…

LAÇOS, de Daniele Luchetti

(Lacci) – Itália, 2020, 100’, Drama, Legendas Português, M/16, com Alba Rohrwacher, Luigi Lo Cascio, Laura Morante, Silvio Orlando, Giovanna Mezzogiorno, Adriano Giannini, Linda Caridi, Francesca De Sapio. Distribuição Brasileira: Synapse. Veneza 2020. A invasão do apartamento de um casal desperta lembranças do turbulento casamento, marcado por um período de infidelidade e abandono. Já adultos, seus filhos vivem as consequências dessa estranha fase. Baseado no livro de Domenico Starnone.

GUIA ROMÂNTICO PARA LUGARES PERDIDOS, de Giorgia Farina 

(Guida romantica a posti perduti) – Itália, 2020, 106′, Comédia Dramática, Legendas Português, M/14, com Clive Owen, Jasmine Trinca, Irène Jacob. Distribuição Brasileira: Synapse. Allegra é uma blogueira/influencer de viagens agorafóbica, que nunca põe o pé para fora de casa, sofre de ataques de pânico e tem todas as fobias do mundo. Benno é alcoólatra e bebe até esquecer de si mesmo. Ela não consegue controlar mais o seu medo do mundo e ele não consegue controlar sua dependência em álcool. Vizinhos desconhecidos um do outro, encontram-se numa “noite de tempestade”. Este acaso conduz o improvável casal para uma viagem de autodescoberta entre lugares perdidos e esquecidos. Exibido no 77º Festival de Cinema de Veneza, o terceiro longa-metragem de Giorgia Farina traz Clive Owen e Jasmine Trinca como dois desconhecidos, ambos presos numa vida de mentiras, que partem juntos numa extraordinária viagem pela Europa explorando lugares abandonados, enquanto se reconciliam com os seus próprios passados. “Guia Romântico para Lugares Perdidos” é uma comédia dramática sobre a dor de viver, um insólito road movie sobre duas almas atormentadas que embarcam juntas numa viagem entre ruas, silêncios e emoções.

MULHERES REBELDES, de Francesco Costabile 

(Una Femmina) Itália, 2022, 120’, Drama, Legendas Português, M/12, com Lina Siciliano, Fabrizio Ferracane, Anna Maria De Luca. Distribuição Brasileira: Encripta. Rosa é uma jovem inquieta e rebelde, que vive com a avó e o tio numa cidade da Calábria, entre montanhas e rios secos. Para Rosa, chegar à idade adulta significa trair a sua família e buscar a vingança, mas quando esta família é a ‘Ndrangheta – uma organização mafiosa – cada passo pode ser fatal. Francesco Costabile faz sua estreia na direção de longas-metragens com um poderoso drama, com toques de terror psicológico, sobre a rebelião de uma mulher em luta contra as estruturas arcaicas da máfia calabresa. A beleza e a violência andam de mãos dadas e a paisagem selvagem da Calábria é o pano de fundo desta primeira obra impressionante, inspirada no livro de investigação “Fimmine ribelli” sobre a violência contra as mulheres no seio de famílias que pertencem à ‘Ndrangheta, a associação mafiosa que se formou na região da Calábria e que é hoje uma das organizações criminosas mais influentes, poderosas e perigosas do mundo. Exibido na mostra Panorama do Festival de Cinema de Berlim.

TEMPOS SUPER MODERNOS, de Pif 

(E noi come stronzi rimanemmo a guardare) – Itália, 2021, 108′, Comédia, Legendas Português, M/12, com Fabio De Luigi, Ilenia Pastorelli, Pif. Distribuição Brasileira: Encripta. Arturo Giammareresi é um gerente promissor que introduz em sua empresa um algoritmo para ajudar os funcionários a trabalhar menos e melhor. Porém, o algoritmo decide que o trabalho de Arturo é supérfluo e ele é demitido na hora. Além dos problemas no trabalho, ele perde a namorada e os amigos. O  seu único consolo será Stella, um holograma criado por um aplicativo que encarna todas as suas preferências. Quando o teste gratuito do aplicativo acaba, Arturo é incapaz de renovar a sua assinatura e perde Stella. Agora, ele será forçado a dar um passo em frente, em busca do amor real e de sua liberdade. A falta de garantias sociais e a fragilidade econômica são o ponto de partida da nova sátira de Pif, uma comédia original com um olhar crítico sobre o excesso de poder dado à tecnologia e aos algoritmos que marcam cada vez mais o ritmo de nossas vidas. Pif, pseudónimo de Pierfrancesco Diliberto, cineasta e ex-repórter, investiga neste novo filme as realidades contemporâneas visíveis a todos e constrói uma comédia inteligente, que faz referência a filmes tão diferentes quanto “Playtime – Vida Moderna” de Jacques Tati, ou o mais recente “Her”, de Spike Jonze.

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