Tudo Sobre a Mostra Vertentes da Memória na Recine 2021
Doze curtas-metragens que marcaram a História do Cinema Brasileiro
Por Redação
A memória é um artifício de nossa mente que processa toda uma construção da identidade de um ser humano enquanto indivíduo social. Sem memória, perde-se a referência comparativa dos erros e acertos, desencadeando um esquecimento estrutural. Um vazio existencial. Uma perda da capacidade cognitiva de discernir o certo e o errado. O comum do extraordinário. É por isso que devemos preservar esse passado, a fim de enaltecer os mestres que participaram, transgressores para unificar conhecimento e arte. Assim, a Memória do Cinema Brasileiro, tema da edição 2021 da RECINE, quer recordar muito mais que uma simples nostalgia fetichista, e, sim, buscar o retorno do amor pelas imagens. Por épocas anteriores.
Seguindo nessa linha, o crítico Fabricio Duque idealizou a curadoria da mostra Vertentes da Memória, de 30 de setembro a 13 de outubro de 2021.
Serão exibidos 12 curtas-metragens. O público confere cada curta sempre 00:01 (durante 24 horas) no site Vertentes do Cinema (https://vertentesdocinema.com/#curta-semana). Após, os filmes ficarão disponíveis no Vimeo do Vertentes do Cinema.
A curadoria foi pensada com foco e visão nos clássicos do Cinema Brasileiro.
O site Vertentes do Cinema também fará uma homenagem ao cineasta Vladimir Carvalho, um dos responsáveis máximos pelo curta-metragem “Aruanda”, que receberá o Troféu Caneca do Vertentes: a cotidiana e funcional caneca oficial do Vertentes do Cinema.
Vladimir Carvalho (Itabaiana, 31 de janeiro de 1935) é um cineasta e documentarista brasileiro de origem paraibana. Começou seu curso universitário em João Pessoa, Paraíba, mas transferiu-se para Salvador a fim de ir ao encontro de um dos grandes núcleos do Centro Popular de Cultura CPC da União Nacional dos Estudantes UNE. Frequentando a Universidade Federal da Bahia conheceu Glauber Rocha e integrou o chamado movimento do Cinema Novo (sendo parte da vertente documentarista do movimento, ao mesmo tempo, sendo influenciado e influenciando-o também, com o estilo de sua cinematografia documentária inovadora).
Terminado o ginásio, em 1954, onde foi aluno de geografia de Linduarte Noronha, que ainda não era cineasta, ingressa no curso clássico. Fazia um programa de rádio, Luzes do Cinema, em 1959, em João Pessoa, e colaborou na imprensa local como crítico iniciante (ganhando o apelido de Vladimir Vorochenko por conta da mania de filmes russos-soviéticos), quando Linduarte Noronha o convidou para escrever o roteiro de “Aruanda”, do qual seria, depois, também assistente de direção, com João Ramiro Mello, um amigo para sempre.
OS FILMES
DIA 30/09 – 00:01
OS ÓCULOS DO VOVÔ
(1913, Brasil, 5 minutos, Mudo, Ficção, de Francisco Santos). O mais antigo filme de ficção brasileiro ainda preservado. Dirigido pelo português Francisco Dias Ferreira dos Santos, o filme foi originalmente produzido na cidade de Pelotas pela empresa Guarany Fábrica de Fitas Cinematográficas.
DIA 01/10 – 00:01
ARUANDA
(1959, Brasil, 21 minutos, Documentário, de Linduarte Noronha). Os quilombos marcaram época na história econômica do Nordeste canavieiro. A luta entre escravos e colonizadores terminava, ás vezes, em episódios épicos, como Palmares.
DIA 02/10 – 00:01
A ENTREVISTA
(1966, Brasil, 19 minutos, Documentário, de Helena Solberg). O documentário tem como base entrevistas feitas com jovens de classe média alta entre 19 e 27 anos sobre suas aspirações em relação ao casamento, sexo, profissão e submissão ao marido. Mesmo aquelas que se consideravam mais “lúcidas”e “modernas” mostram seu perfil mais tradicional da mulher idealizada, envolvida por romantismo feminilidade.
DIA 03/10 – 00:01
O POETA DO CASTELO
(1959, Brasil, 11 minutos, Documentário, de Joaquim Pedro de Andrade). Versos de Manuel Bandeira, lidos pelo próprio poeta, acompanham e transfiguram os gestos banais de sua rotina em seu pequeno apartamento no centro do Rio de Janeiro: a modéstia de seu lar, a solidão, o encontro provocado por um telefonema, o passeio matinal pelas ruas do bairro.
DIA 04/10 – 00:01
O PÁTIO
(1959, Brasil, 12 minutos, Experimental, de Glauber Rocha). Com Helena Ignez e Solon Barreto. Primeiro filme de Glauber, curta metragem experimental com 11 minutos de duração, rodado na Bahia. Num terraço de azulejos em forma de xadrez, um rapaz e uma moça. Esses dois personagens evoluem lentamente: se tocam, rolam no chão, se distanciam, se olham. Belos planos de mãos e rostos são montados em alternância com planos de vegetação tropical e do mar. Já nesse primeiro filme podemos discernir alguns traços específicos do cineasta: forte presença da natureza, tratamento do espaço e enquadramento.
DIA 05/10 – 00:01
A VELHA A FIAR
(1960, Brasil, 6 minutos, Ficção, de Humberto Mauro). Ilustração da velha canção popular do interior do Brasil, utilizando tipos e costumes das velhas fazendas em decadência.
DIA 06/10 – 00:01
VIRAMUNDO
(1965, Brasil, 38 minutos, Documentário, de Geraldo Sarno). A chegada de nordestinos à cidade de São Paulo ilustrada com depoimentos dos próprios migrantes e músicas com letras de José Carlos Capinan. A busca por trabalho é o grande tema apresentado, e a partir dele, é possível perceber percursos de vidas que se cruzam em uma nova cidade, onde desemprego, caridade e religião ocupam a ordem do dia.
DIA 07/10 – 00:01
SUBTERRÂNEOS DO FUTEBOL
(1965, Brasil, 32 minutos, Documentário, de Maurice Capovila). As práticas do futebol no Brasil e as questões que cercam o esporte. A imprensa, o jogador como mercadoria, a paixão popular, a prática nos campos de várzea. Os depoimentos de Luiz Carlos de Freitas, uma jovem promessa do Palmeiras, e do técnico Feola, além de uma entrevista com Pelé.
DIA 08/10 – 00:01
DOCUMENTÁRIO
(1966, Brasil, 10 minutos, Ficção, de Rogério Sganzerla). O filme mostra as conversas e andanças de dois jovens que resolvem ir ao cinema, mas que devido aos seus critérios extremamente rígidos acabam não vendo nenhum filme.
DIA 09/10 – 00:01
ALMA NO OLHO
(1974, Brasil, 11 minutos, Ficção, Experimental, de Zózimo Bulbul). Metáfora sobre a escravidão e a busca da liberdade através da transformação interna do ser, num jogo de imagens de inspiração concretista. Música de John Coltrane.
DIA 10/10 – 00:01
ZÉZERO
(1974, Brasil, 32 minutos, Ficção, de Ozualdo Candeias). Camponês miserável tem a visão de uma “fada”, que o convence a ir para a cidade através de fotos publicitárias e promessas. Lá, só consegue emprego na construção civil, onde o pouco que ganha gasta com apostas na loteria esportiva.
DIA 11/10 – 00:01
ROCINHA 77
(1977, Brasil, 19 minutos, Documentário, de Sérgio Péo). Um registro histórico, realizado em 1977, sobre os hábitos e a qualidade de vida da maior favela da América Latina. Enquanto a câmera passeia ouve-se reflexões de moradores sobre questões do dia a dia da comunidade.
SERVIÇO
Mostra Vertentes da Memória no Recine 2021
De 30 de setembro a 13 de outubro de 2021
Online e gratuita
no site Vertentes do Cinema (vertentesdocinema.com) um dia antes
E depois de cada dia, no Vimeo Vertentes do Cinema