Mostra Um Curta Por Dia - Repescagem 2025 - Julho

Tudo Sobre a Mostra Mestres do Cinema Paulista 2025

Tudo Sobre a Mostra Mestres do Cinema Paulista 2025

A parte 1 da mostra, Ozualdo Candeias e Jean Garret, acontece de 03 a 06 de julho, na Cinemateca Brasileira, em São Paulo

Por Clarissa Kuschnir

Aos cinéfilos paulistanos e para quem estiver pela capital nos próximos dias,  a Heco Produções, com o apoio da Cinemateca Brasileira, apresenta a imperdível mostra “Mestres do Cinema Paulista – Parte 1: Ozualdo Candeias e Jean Garrett“, que exibirá filmes raros digitalizados em 4K, entre os dias 03 e 06 de julho de 2025.  A sessão de abertura no dia 03 será com o filme “Mulher, Mulher” (1979, Jean Garrett), sucesso de bilheteria e estrelado pela icônica Helena Ramos, uma das atrizes mais emblemáticas do cinema da Boca do Lixo. Após a projeção, Helena Ramos e o idealizador do projeto, Eugenio Puppo, participam de um debate com o crítico e pesquisador Gabriel Carneiro, autor de um ensaio sobre o projeto, que pode ser acessado através deste link. A conversa abordará não apenas a importância da preservação cinematográfica e o legado de Ozualdo Candeias e Jean Garrett, mas também trará histórias fascinantes dos bastidores – revelando curiosidades sobre as produções da época e o cotidiano pulsante da Boca do Lixo, polo efervescente da produção audiovisual paulistana entre as décadas de 1960 e 1980.

O projeto também inclui a digitalização dos dois primeiros curtas-metragens de Ozualdo Candeias – “Tambaú” (1955) e “Polícia Feminina” (1960) – e três longas de Jean Garrett – “Excitação” (1977), “Noite em Chamas” (1978) e “Mulher, Mulher” (1979), além dos trailers originais dos longas. As obras foram digitalizadas pela Cinemateca Brasileira a partir de materiais conservados em seu acervo, com pós-produção da DOT Cine, garantindo que os filmes cheguem ao público com uma qualidade técnica impecável. Na mostra ainda serão exibidos outros três curtas-metragens do cineasta Ozualdo Candeias, fundamentais para a contextualização da produção cinematográfica realizada na Boca do Lixo em São Paulo: “Uma Rua Chamada Triumpho 1969/1970” (1971), “Uma Rua Chamada Triumpho 1970/1971” (1971) (Que já passamos aqui, nas nossas mostras de curtas) e “Bocadolixocinema” (1976).

Embora atualmente haja limitado acesso às produções cinematográficas realizadas na Boca do Lixo de São Paulo, reconhece-se a relevância dessa filmografia, que desempenhou papel fundamental no desenvolvimento e na difusão da cultura cinematográfica brasileira, responsável pela produção de mais de mil longas-metragens entre 1957 e 1992 e diversos sucessos de bilheteria. Recentemente, esse legado vem sendo redescoberto por novas gerações, que se encantam com a ousadia e inventividade dessas produções – muitas delas raras, há décadas fora de catálogo e com poucas cópias de exibição disponíveis. É urgente recuperar os filmes produzidos na Boca do Lixo, considerada o berço de respeitados diretores do cinema nacional, como Carlos Reichenbach, Rogério Sganzerla, José Mojica Marins, Ody Fraga, Cláudio Cunha, Walter Hugo Khouri, Oswaldo de Oliveira, entre muitos outros. Certamente, dois dos grandes expoentes deste conjunto de realizadores são Jean Garrett e Ozualdo Candeias.

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O catálogo Acervo da Heco Produções

Ozualdo Ribeiro Candeias (c.1918/1922-2007) foi um dos precursores do cinema de autor no Brasil e do movimento que se tornou conhecido como Cinema Marginal, e um dos mais criativos cineastas que o país já revelou. Seu longa-metragem de estreia, A Margem” (1967), é considerado até hoje um marco da filmografia nacional.

 Diretor, roteirista, fotógrafo, ator e montador, não só foi um dos primeiros cineastas a se instalar na região da Boca do Lixo, efervescente polo de produção cinematográfica em São Paulo, como seu defensor e principal historiador: por anos, documentou com fotografias e filmes o cinema produzido ali, em suas particularidades e personagens, com destaque para o livro “Uma Rua chamada Triumpho” (2001) e para o curta “Bocadolixocinema” (1976).

 A recusa em seguir códigos estilísticos de um cinema normativo, clássico e em conformidade com a moral vigente, rendeu ao cineasta a pecha de primitivo, um mecanismo antiquado de reação à transgressão e à ruptura. Na realidade, foram cineastas como Candeias que alargaram as possibilidades do fazer cinematográfico em São Paulo, com baixo orçamento e muita inventividade, vide “Meu Nome é… Tonho” (1969), “A Herança” (1971) e “Zezero” (1974). Suas primeiras obras, como “Tambaú” (1955) e “Polícia Feminina” (1960), ajudam a compreender a obra do cineasta como um todo: o primeiro através do enfoque nas pessoas humildes, seus rostos e seus corpos, e o segundo através do domínio da linguagem clássica e da artesania técnica, provando que sua estilística sempre foi deliberada.

 Jean Garrett (1946-1996) foi um importante cineasta paulista. Diretor, roteirista, produtor e ator, nascido em Portugal, chegou ao Brasil em 1966 e logo passou a integrar a equipe de diretores como José Mojica Marins, Ozualdo Candeias e Fauzi Mansur. Estreou na direção com “A Ilha do desejo” (1975), com grande sucesso de público, que permitiu uma carreira cinematográfica intensa e exitosa até 1986.

Com seus projetos autorais, foi fundamental para o desenvolvimento do contexto de produção da Boca do Lixo e desenvolveu um estilo próprio, alicerçando em obras como “Excitação” (1977), “Noite em Chamas” (1978) e “Mulher, Mulher” (1979) as principais bases estéticas e formais de sua obra, como a conformação do melodrama enquanto gênero central, uma atmosfera fantástica em que a realidade é sempre posta em dúvida e a predileção por uma tônica intimista e psicológica na encenação, com certo verniz intelectual.

Em sua obra, Garrett privilegiava a investigação da sexualidade e do ser mulher no Brasil daquele período, que tornam seus filmes particularmente surpreendentes para os dias de hoje. Frequentemente caracterizado como um “artesão”, o cineasta manteve o caráter autoral de seu trabalho mesmo em obras de apelo comercial, como “A Mulher que Inventou o Amor” (1980), “A Força dos Sentidos” (1980) e “O Fotógrafo” (1981).

Os três longas digitalizados de Garrett: “Excitação” (1977), “Noite em Chamas” (1978) e “Mulher, Mulher” (1979) foram bastante difundidos e popularizados. Neles, o cineasta alicerça as principais bases estéticas e formais de sua obra, como a conformação do melodrama enquanto gênero central e uma atmosfera fantástica, em que a realidade é sempre posta em dúvida. Há também predileção por uma tônica intimista e psicológica na encenação, por vezes moldada pelo cinema de Walter Hugo Khouri, com certo verniz intelectual, daí a escolha de profissionais como Ody Fraga, Carlos Reichenbach, Inácio Araujo e João Silvério Trevisan no roteiro. Ressalta-se, também, a investigação da sexualidade e do ser mulher no Brasil daquele período, que tornam seus filmes particularmente surpreendentes para os dias de hoje. O diretor é um dos poucos do cinema brasileiro que dirigiu quatro longas-metragens que atingiram a marca de mais de 1 milhão de espectadores, sendo “Mulher, Mulher” (1979) sua produção de maior sucesso de bilheteria, alcançando 1,5 milhões de espectadores.

 “Mestres do Cinema Paulista – Parte 1: Ozualdo Candeias e Jean Garrett é um projeto realizado com recursos da Lei Paulo Gustavo do Governo Federal operacionalizado pelo Governo de São Paulo, por meio da Secretaria de Estado da Cultura, Economia e Indústria Criativas e resgata obras fundamentais do cinema brasileiro, preservando e revitalizando esse importante patrimônio audiovisual.

CONFIRA A PROGRAMAÇÃO COMPLETA DA MOSTRA MESTRES DO CINEMA PAULISTA – PARTE 1

03/07 – QUINTA-FEIRA

20h

Mulher, Mulher (Jean Garrett, ficção, 1979, cor, 100 min, DCP)

Seguido de debate com Helena Ramos, Eugenio Puppo e Gabriel Carneiro (libras e transmissão ao vivo)

04/07 – SEXTA-FEIRA

20h

Excitação (Jean, Garrett, ficção, 1977, cor, 90 min, DCP)

05/07 – SÁBADO

19h30

Noite em Chamas (Jean Garrett, ficção, 1978, cor, 104 min, DCP)

06/07 – DOMINGO

17h

Tambaú (Ozualdo Candeias, documentário, 1955, P&B, 14 min, DCP)

Polícia Feminina (Ozualdo Candeias, documentário, 1960, P&B, 10 min, DCP)

Bocadolixocinema (Ozualdo Candeias, documentário, 1976, P&B, 12 min, DCP)

Uma rua chamada Triumpho: 1969/1970 (Ozualdo Candeias, documentário, 1971, P&B, 11 min, DCP)

Uma rua chamada Triumpho: 1970/1971 (Ozualdo Candeias, documentário, 1971, P&B, 9 min, DCP)

18h30

Mulher, Mulher (Jean Garrett, ficção, 1979, cor, 100 min, DCP)

SERVIÇO

Mostra “Mestres do Cinema Paulista – Parte 1: Ozualdo Candeias e Jean Garrett”

Local: Cinemateca Brasileira

Data: 03 a 06 de julho de 2025

Sessão de abertura: 03/07, às 20h com exibição do filme Mulher, Mulher (1979, Jean Garrett), seguido de debate com Helena Ramos, Eugenio Puppo e Gabriel Carneiro.

A programação é gratuita e os ingressos devem ser retirados 1h antes do início da sessão.

CINEMATECA BRASILEIRA

Largo Senador Raul Cardoso, 207 – Vila Mariana

Horário de funcionamento

Espaços públicos: de segunda a segunda, das 08 às 18h

Salas de cinema: conforme a grade de programação.

Biblioteca: de segunda a sexta, das 10h às 17h, exceto feriados

Sala Grande Otelo (210 lugares + 04 assentos para cadeirantes)

Sala Oscarito (104 lugares)

Retirada de ingresso 1h antes do início da sessão

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