Tudo Sobre a Exposição Sonhos de Fellini
Com estreia para o dia 23/03 até 25/07, a coleção de fotos, cartazes e desenhos mostra o outro lado do cineasta italiano
Por Fabricio Duque
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SONHOS DE FELLINI
“Sonhar não custa nada, o meu sonho é tão real”, já cantava o samba-enredo carioca da escola Mocidade. Mas Federico Fellini acreditava que seu preço-contrapartida era desenhar, porque assim conseguia “lembrar”. O cineasta italiano dizia que para ele filme tem muito mais a ver com pintura que com literatura. Inspirado nisso, os curadores Cavi Borges e Fabricio Duque realizam agora a exposição “Sonhos de Fellini”, dividida em seis partes: “Fellini com Giulietta Masina”; “Filmes de Fellini”, “Desenhos de Fellini”, “Fellini sendo Fellini”, “Fellini na Cahiers du Cinéma” e “Desenhos Pornográficos de Fellini”. A exposição “Sonhos de Fellini”, que comemora o centenário do realizador acontecido em 2020 (e postergada por causa da pandemia), busca trazer a sensação, visto que os desenhos de Federico podem (e devem) ser interpretados como prenúncios criativos de seus filmes. Sua habilidade tatua um orgânico e coloquial sopro de vida dentro de uma normalidade imagética, confinada com memórias e emoções humanas. Há uma combinação livre e única de fantasia, desejo e projeção do querer. Aqui, percebe-se a junção indissociável de criador e criatura. O diário pessoal constrói ideias pelo campo personificado do olhar, entre sonhos, visões e pesadelos. A coleção captura caricaturas detalhadas e escritos, exibindo um gosto pessoal ao bizarro e ao irracional. Os desenhos focam numa profunda luta da alma e são tingidos com humor, empatia e tom espirituoso. Assistir a Sonhos de Fellini” é viajar na própria imaginação de Federico Fellini. Então “Mergulhe nessa magia”!
GIULIETTA MASINA, A ESTRADA DA VIDA DE FELLINI
Para Federico Fellini, Giulietta Masina era a estrada de sua vida, seu “sonho e realidade”. A atriz italiana, esposa e protagonista do cineasta, com quem criou uma intensa parceria artística e afetiva, nasceu Giulia Anna Masina em 22 de fevereiro de 1921. Filha do violinista e professor de música Gaetano Masina e da maestrina Angela Flavia Pasqualin, Giulietta graduou-se em Letras e Filosofia na Universidade de Roma e durante os estudos cultivou a paixão pela atuação. Com Fellini, a atriz alcança a fama internacional com o papel de Gelsomina no filme “A Estrada da Vida” (1954). Em 1957 alcançou o ápice de sua carreira interpretando Cabiria no filme “Noites de Cabíria”, que lhe valeu o prêmio de Melhor Atriz no Festival de Cannes. Giulietta Masina virou sonho eterno em 23 de março de 1994, em Roma, e foi desbravar estradas no além quase um ano após a morte de Federico Fellini.
FEDERICO FELLINI E OS SONHOS REALIZADOS
Falar de Federico Fellini em poucas palavras é um sacrilégio sem tamanho, devido sua gigante importância para o cinema. O realizador italiano, que nasceu em Rimini, dia 20 de janeiro de 1920, imprimiu um estilo único ao conjugar em suas obras fantasia e visual barroco, tanto que ganhou o título de honra da Itália de Cavaleiro da Grande Cruz. Fellini é reconhecido como um dos maiores e mais influentes cineastas. Seus filmes foram classificados pela Cahiers du cinéma como alguns dos melhores filmes de todos os tempos. Em uma carreira de quase cinquenta anos, Fellini ganhou a Palma de Ouro por “A Doce Vida” (1960), foi indicado a doze prêmios Oscar e ganhou quatro na categoria de melhor filme em língua estrangeira (“A Estrada da Vida” em 1957; “Noites de Cabíria” em 1958; “8½” em 1964; e “Amarcord” em 1975), o melhor para qualquer diretor da história da Academia. No Oscar de 1993, Fellini recebeu um prêmio honorário pela carreira que vai de “Mulheres e Luzes” em 1950, seu primeiro filme, até a “Voz da Lua” em 1990.
Com uma combinação única de memória, sonhos, fantasia e desejo, os filmes de Fellini têm uma profunda visão subjetiva da sociedade. O termo “Felliniesco” é empregado para descrever qualquer cena que tenha imagens surreais que invadam uma situação comum. Grandes cineastas contemporâneos como Woody Allen, David Lynch, Girish Kasaravalli, David Cronenberg, Stanley Kubrick, Martin Scorsese, Tim Burton, Pedro Almodóvar, Terry Gilliam e Emir Kusturica já disseram ter grandes influências de Fellini em seus trabalhos. Federico Fellini faleceu em 31 de outubro de 1993 de ataque cardíaco em Roma, aos 73 anos (um dia depois de completar cinquenta anos de casado). Sua esposa, Giulietta, morreu seis meses depois de câncer de pulmão. O casal está enterrado no mesmo túmulo de bronze esculpido por Arnaldo Pomodoro, em formato de barco, localizado na entrada do cemitério de Rimini – sua cidade natal. O aeroporto da cidade também recebeu seu nome. “Cinema-verdade? Prefiro o cinema-mentira. A mentira é sempre mais interessante do que a verdade. O cinema é um modo divino de contar a vida”, decretou Federico Fellini.
FELLINI NA CAHIERS DU CINÉMA
Em 70 anos, a revista Cahiers du Cinéma, uma das mais importantes do mundo, não só forneceu o selo de qualidade ao cineasta italiano Federico Fellini, como categorizou alguns de seus filmes como os melhores de todos os tempos, especialmente porque o realizador “convidava suas próprias memórias pelo simples prazer de narrá-las em suas obras.” Na exposição “Sonhos de Fellini”, os curadores escolheram quatro edições especiais: o número 46 de abril de 1955, que traz na capa a cena com Giulietta Masina e Anthony Quinn do filme “A Estrada da Vida”; o número 57 de março de 1956, que traz na capa a cena com Giulietta Masina e Broderick Crawford do filme “A Trapaça”; o número 75 de outubro de 1957, que traz na capa a cena com Giulietta Masina e François Périer do filme “Noites de Cabíria”; e, a especial, número 513, de maio de 1997, que conta com o portfolio “Quando Fellini desenha autorretratos íntimos”, uma exposição dos desenhos de Federico de 1975 até 1993, incluindo uma coletânea de curtos textos pelos críticos da Cahiers du Cinéma.
OS DESENHOS DE FELLINI
Federico Fellini acreditava que seus sonhos, desejos e/ou projeções de realidades fantasiosas precisavam ser personificadas em desenhos. O cineasta pintava para acessar memórias, verdadeiras ou não, até porque “quem conta um conto, aumenta um ponto”. Sua irmã Maddalena, uma das herdeiras do material de Federico tornou público todo o material e, junto com Tullio Kezich, disse que os desenhos representam “a parte mais pessoal e autêntica do Maestro Fellini”. Cada desenho é único, visto que descreve uma fase. Por exemplo, nos desenhos noturnos, Federico acordou para a importância dos sonhos pelas ferramentas cognitivas de Ernst Bernhard referenciadas por Jung. A exposição “Sonhos de Fellini” reitera a proposta de Federico de “circum-navegar o mistério”, pululando significados, hipóteses surreais, fantasias não realizadas, precognição. Nós adentramos na mais pura verdade humana. E qual a melhor forma de traduzir isso? Por caricaturas e ampliação visual dos comportamentos sociais, a fim de analisar de forma terapêutica, não inclusiva, a transformação, maturidade e envelhecimento. Fellini trocava a desesperança pela aceitação e pelo lúdico realista. Olhar um de seus desenhos é encontrar Federico em todas as suas entregas, medos, vulnerabilidades, humores, críticas, perspicácias e ingenuidades. “Em meus sonhos, eu sempre me vejo de trás. Eu tenho cabelo e sou magro, igual quando eu tinha 20 ou 30 anos de idade. Este é como eu deveria me desenhar”, escreveu Federico Fellini em um de seus desenhos.
OS DESENHOS PORNOGRÁFICOS DE FELLINI
Na sessão portfólio, a revista Cahiers du Cinéma, no número 513, de maio de 1997, produziu “Quando Fellini desenha autorretratos íntimos”, uma exposição dos desenhos pornográficos de Federico Fellini, de 1975 até 1993. Exibido no Festival de Cannes e com apoio do Canal+, a coleção trouxe o lado mais ousado do cineasta italiano. Em um especial de dezesseis páginas, nós podemos encontrar Federico em suas mais latentes liberdades criativas, “absolutamente fiel a sua imaginação pela pequena mise-en-scène realizada de mistério e fantasia”, escreveu a crítica da revista, Daniela Barbiani; e “íntimas e poéticas assinaturas de um grande visionário”, complementou o jornalista Vincenzo Mollica sobre esta fase do enfant terrible italiano. Os desenhos, diretos e explícitos, ora soando maduros, ora soando urgentes, mostram a plena engrenagem de sua imaginação, que expurga limitações, freios e racionalidades de condicionamento social. O que nós vemos é a arte em sua forma bruta, sem a manipulação do olhar crítico do outro, apenas um externando a mais pura verdade sobre pessoas que são traduzidas e caricaturas idiossincráticas, de vida orgânica, em experiências de fisiologismo existencial. Quando o artista serve apenas a sua criação, a autoralidade da obra acontece pela essência da unicidade do ser, como órgãos genitais que ganham vida, integram-se no contexto e tomam decisões junto de seus donos. Felllini assim criou seu “espaço de resistência” (termo cunhado pela crítica Jacqueline Risset) com a imersão de seu próprio universo.
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SERVIÇO
Exposição
Sonhos de Fellini
Abertura: 23 de março, quarta feira a partir das 19h
De 23 de março até 25 de julho
Todos os dias da semana das 14h às 21h de forma gratuita
Em frente ao Espaço Estação/Cavideo
ESPECIAL TUDO SOBRE FEDERICO FELLINI
(clique AQUI ou na foto e saiba tudo)
Tudo Sobre a Exposição Sonhos de Fellini