Tudo sobre a edição online do Festival Ecrã 2022

 

Tudo sobre a edição online do Festival Ecrã 2022

A mais importante mostra de cinema independente do Rio de Janeiro ganha edição online de 16 a 24 de julho após sessões presenciais

Por Pedro Mesquita

Está iniciada a sexta edição do Festival Ecrã! Em sua mais nova versão, o festival retorna — após duas edições realizadas completamente online — ao modo presencial. Ele o faz, no entanto, apenas parcialmente: dividido em duas metades, o Ecrã de 2022 ocorre presencialmente entre os dias 01 e 10 de julho, nas salas da Cinemateca do MAM e do Estação Net Botafogo (Rio de Janeiro), e virtualmente entre os dias 16 e 24 de julho, em seu próprio site (acesse AQUI), onde os filmes são disponibilizados gratuitamente durante a totalidade do período. Vale ressaltar que a programação dessas duas metades é diferente, e alguns filmes exibidos presencialmente não marcarão presença no ambiente virtual.

O leitor atento terá percebido um problema no parágrafo anterior. Não deixou escapar o fato de que a primeira metade do festival — a etapa presencial — já terminou. Estamos, de fato, um pouco atrasados. Mas não permitamos que esse atraso nos impeça de aproveitar o resto do passeio: a fim de convencer o leitor a embarcar nesta viagem, ainda que atrasado, faz-se necessário apresentar tudo o que lhe aguarda nesta atual edição do festival.

Predominantemente dedicado à exibição de filmes experimentais — mas não limitado a isso, dada a recorrência dos mais diversos meios audiovisuais, como videoarte, videogames, instalações, performances, artes interativas… todos disponíveis na etapa online —, o Ecrã é um festival diverso. Essa diversidade, orquestrada com direção artística de Daniel Diaz (também como coordenador geral e curadoria de videoartes), Pedro Tavares (também curador de longas e médias-metragens) e Rian Rezende (curadoria de games e videoartes); e com curadoria de Gabriel Papaléo (na seleção de curtas-metragens), Ana Luiza Albuquerque (performances) manifesta-se não apenas nos meios, mas também no perfil dos artistas: os realizadores vêm das mais diferentes partes do mundo (embora exista, evidentemente, uma recorrência especial dos brasileiros) e têm as mais diferentes trajetórias. Vemos nesta edição do Ecrã cineastas de vasta experiência assim como cineastas estreantes.

Acompanhe aqui nossa cobertura do Festival Ecrã 2022

Leia sobre as edições anteriores do Festival Ecrã

No time dos experientes, alguns cineastas já muito queridos pelo público do Ecrã retornam à programação desta sexta edição. É o caso, por exemplo, de James Benning, que trouxe ao festival o seu mais novo longa-metragem, “Os Estados Unidos da América”. Benning também ficou responsável por ministrar uma masterclass ao público do festival, acontecida no dia 9. Outro cineasta que retornou ao Ecrã é Ken Jacobs, cujo filme “O Céu Socialista” havia sido a sessão de abertura da edição passada. Jacobs repete a dose do ano passado e apresenta nesta edição dois novos filmes: o longa-metragem “Xchhxexrxrxixexs” e o média-metragem “Coisas a Vir”. Destacam-se também, entre muitos outros autores, o mais novo filme de Holly Fisher, “Do Absoluto Nada e Imenso Azul” e a dobradinha de Kevin Jerome Everson, outro já conhecido de edições anteriores, com o longa “Lago Gatún” e o curta “Pride”.

Falando em experiência, não poderíamos deixar de chamar atenção para o programa Mestres do Cinema Brasileiro, com curadoria realizada por Cavi Borges, que objetiva a exibição de filmes pouco conhecidos de grandes diretores brasileiros, como Neville D’Almeida, Helena Holberg, Helena Ignez, Sylvio Lanna e João Lanari Bo (nosso vertenteiro). 

Por outro lado, o time dos jovens e dos estreantes também não está fraco. Aqui, a expectativa é grande para “Cantochão”, o primeiro longa-metragem de Vinícius Romero, que já muito surpreendeu em edições passadas com seus filmes “A Densa Nuve, o Seio” e “Bai Gosti/Eros Afogado em Lágrimas”. A produtora Mangbang também retorna ao festival com mais duas obras: da parte de João Pedro Faro, cujo longa “Sombra” dividiu opiniões no ano passado, temos o seu mais novo “Extremo Ocidente” (que serviu como encerramento da etapa presencial); já da parte de Bruno Lisboa, temos “Infinito Ábaco”. Outra obra digna de nota é “Filme Particular”, da estreante Janaína Nagata, recentemente exibido no Olhar de Cinema sob recepção bastante favorável.

Em meio a tantos longas e médias-metragens que atraem a curiosidade, parece fácil esquecer-se dos curtas; dediquemo-lhes, então, um parágrafo, a fim de não cometer tal injustiça. A programação do festival conta com uma seleção bastante ampla e interessante deles: são dezenas, dentro dos quais podemos notar obras como “Solmatalua”, de Rodrigo Ribeiro-Andrade — cujo filme “A Morte Branca do Feiticeiro Negro” foi uma grata surpresa da edição de 2020; “Inferno Remix”, de Natália Reis (outro nome conhecido de edições passadas); “Park Slope”, de Felipe André Silva; ou mesmo “Eu Pensava o Mundo de Você”, do canadense Kurt Walker.

Para além dos filmes, não há falta de outras opções, para aqueles que as desejarem. Os games, por exemplo, retornam ao Ecrã sob os seguintes títulos: “Ominira”, da AfroGames; “Clóvis – Memórias de Um Carnaval”, do Coletivo de Desenvolvimento de Jogos da UFF; e “Stand By Me”, de Victor Côrrea. No campo das instalações e artes interativas — que continuam acontecendo exclusivamente online — o festival apresenta “Cosmos•Átomos”, de Christopher Boulton; “Melting Movie Places”, de Wilson Oliveira Filho; ”O Milagre de Santo Antônio”, de Alfonso Camarero e Jose Luis Ducid; e “Uku Pacha”, de Diego Bonilla. Algumas dessas obras foram pensadas a partir de (e para) as redes sociais: “soñé con un ✨golpe de estado✨”, de Julia Brasil, é feita a partir de tweets; já “O Próximo Nascer do Sol”, de Arthur Gustavo, será exibido no Instagram do festival. Completando o “lineup”, dezenas de performances e videoartes também estarão disponíveis no site do festival até o dia 24.

Eis, portanto, o fator que qualifica o Ecrã e o destaca do restante dos festivais nacionais: uma dedicação ímpar sobre tudo aquilo que há de novo e distinto na arte brasileira e mundial. Os artistas reunidos nesta edição compartilham entre si uma predileção pela iconoclastia; por chegar aonde não se chegou ainda; por revelar aquilo que ainda não se viu, de uma forma sob a qual ainda não se viu. Se, nas palavras de Gérard Courant, o cinema experimental é um cinema político por natureza, porque ele nos “dá a ver e ouvir aquilo que foi excluído em um sistema dominante”, então não faltam motivos para aguardar com alguma expectativa esta seleção de filmes apresentada pelo festival

“Substantivo. Forma. Infinidade. O ecrã também é nome, evento, conceito, vídeo e arte. São anos, pessoas, ideias e máquinas. Nas salas de cinema, nas galerias, nos palcos, na palma da mão, o ECRÃ se espalhou, como que por um furo na moldura, uma rachadura em meio aos pixels. O tempo e o ar e a imagem foram atravessados pelo ECRÃ e se tornaram também ecrãs. O Festival Ecrã é um evento que visa fomentar a cultura do audiovisual, através de experiências que questionam a noção e produção da imagem em movimento. Incentivando o indivíduo e o coletivo a manifestarem suas ideias e assim democratizar a criação artística.”, o site tenta traduzir a essência-atmosfera de seu festival. Da experiência do cinema às instalações e performances, onde distintos estados de contemplação são colocados em prática: narratividade e imersão, vídeo e luz, debates e games. Este projeto surgiu em 2016, da vontade de questionar a indústria do cinema e seus “elementos primordiais” e de dar espaço para que os artistas experimentem de forma livre na produção e no pensamento audiovisual.


PROGRAMAÇÃO COMPLETA DA EDIÇÃO ONLINE DO FESTIVAL ECRÃ 2022

Filme Particular

FILMES DE LONGA E MÉDIA-METRAGEM

O AMPARO DO CÉU (Al Amparo del Cielo) | Diego Acosta | Chile, 2021 | 68 min.

BLISSED (Blissed) | Maximilian Le Cain | Irlanda, 2022 | 74 min.

CAIXA PRETA | Saskia, Bernardo Oliveira | Brasil, 2022 | 51 min. | Disponível somente nos 3 primeiros dias

CANTOCHÃO | Vinicius Romero | Brasil, 2022 | 62 min.

CINÉFILOS (Los Visionadores) | Néstor Frenkel | Argentina, 2021 | 52 min.

DIÁRIOS DE UMA PAISAGEM | Anne Santos, Gabraz Sanna | Brasil, 2022 | 51 min.

DO ABSOLUTO NADA E IMENSO AZUL (Out of the Blue) | Holly Fisher | Estados Unidos, 2021 | 90 min.

FILME PARTICULAR| Janaina Nagata | Brasil, 2022 | 90 min.

AS FITAS DE TURISMO DE DENVER (Denver Tourism Tapes) | Mike Schwanke | Estados Unidos, 2022 | 95 min.

GUARDIÕES DA ETERNIDADE (The Timekeepers of Eternity) | Aristotelis Maragkos | Grécia, 2021 | 63 min.

HÁ MUITO TEMPO NÃO TENHO MEDO DE FICAR CEGO (I Have Not Been Afraid of Going Blind for a Long Time) | Yannick Mosiman | Suiça, 2022 | 134 min.

INVERNO (Zima) | Vadim Kostrov | Rússia, 2021 | 91 min.

LAKE FOREST PARK (Lake Forest Park)| Kersti Jan Werdal | Estados Unidos, 2021 | 60 min.

SINFONIA DO FIM DO MUNDO | Isabella Raposo, Thiago Brito | Brasil, 2022 | 77 min.

UM FILME FEITO EM CASA (A Homemade Movie) | Andrew Power | Reino Unido, 2022 | 74 min.

UMA HISTÓRIA DE UMA NAÇÃO | Júlio FR Costa | Portugal, 2022 | 65 min.

相 XIANG | Vitória Severo | Brasil, 2022 | 121 min.

FILMES DE CURTA-METRAGEM

ANASTÁTICA (Anastatica) | Juana Robles | Irlanda, 2021 | 34 min.

CASTELO DA XELITA | Lara Ovidio | Brasil, 2022 | 12 min.

O CREPÚSCULO DE PURKYNE (Purkyne’s Dusk) | Helena Gouveia Monteiro | Irlanda, França, 2021 10 min.

CRISTAIS DO TEMPO (Time Crystals) | Abinadi Meza | Estados Unidos, 2021 | 6 min.

ESPECTRO RESTAURACIÓN | Felippe Schultz Mussel | Brasil, 2022 | 7 min.

ETERNIDADE EM LOOP | Isabela Costa | Brasil, Estados Unidos, 2021 | 12 min.

HÁ ALGO ALÉM DO HORIZONTE | Marcos Paulo Alcântara | Brasil, 2022 | 33 min.

INFERNO REMIX | Natália Reis | Brasil, 2022 | 8 min.

MEMORIAL MARACANÃ | Darks Miranda, Pedro França | Brasil, 2021 | 3 min.

MORTE POR FANTASIA E ESPELHOS (death by fantasies by mirrors) | Charlotte Clermont | Canada, 2022 | 13 min.

NOTAS PERIFÉRICAS (Notes from the Periphery) | Tulapop Saeniaroen | Tailandia, Reino Unido, 2021 | 14 min.

PARK SLOPE | Felipe André Silva | Brasil, 2021 | 18 min.

SON CHANT | Vivian Ostrovsky | Estados Unidos, 2020 | 12 min.

YACHT TRIP  | Paula Mermelstein | Brasil, 2022 | 8 min.


SERVIÇO

Festival Ecrã 2022

Edição Online

16 a 24 de julho

Evento gratuito

Acesso AQUI

Pix Vertentes do Cinema

Deixe uma resposta