Mostra Um Curta Por Dia 2025 - Maio

Tudo o que acontece neste início do Festival de Cannes 2025

Tudo o que acontece neste início do Festival de Cannes 2025

O evento francês, um dos palcos mais importantes para a voz do cinema mundial, traz tudo, de cinefilia a glamour, de cartas a discursos de resposta, da Fábrica de Karim Aïnouz a ministra Margareth Menezes

Por Fabricio Duque

Cada um da imprensa possui uma forma muito particular (e única – quase idiossincrática) de iniciar suas coberturas em festivais. Sim, já alerto que este preâmbulo será mais pessoal. Para o Festival de Cannes, sempre começo com uma tradição que me acompanha desde 2013: ir à praia, para assim possa renovar as energias e “aguentar” a correria e o “tranco” da cobertura. Então, o mar aqui é o mediterrâneo, e neste mês de maio, primavera com calor, a água estava translúcida de tão limpa, fria e salgada. É. parece mesmo que só o fato de que pisar na areia, adentro melhor na atmosfera de Cannes. Ao observar pessoas ao redor, em seus mundos-comportamentos próprios e seus jeitos humanos de ser. Sim, só de olhar é possível criar uma completa análise cognitiva e cultural de seus habitantes, ainda que muitos de fora, porque parece também que não os locais ou estão trabalhando ou alugaram suas casas para os jornalistas “acidentais”. Dito isso, posso agora começar esta matéria sobre o que acontece no Festival de Cannes 2025, cuja edição 78 não poderia ser diferente: continua muita intensa, deixando todo mundo que nem uma “barata tonta”. 

O Festival de Cannes 2025 pode ser considerado o “primeiro grande portal” ao cinema mundial; o primeiro festival a dar um holofote de respeito aos “filmes que ficam” na história e memória dos cinéfilos. Por isso é tão importante. E cada vez o evento francês se destaca mais no Oscar (quase “roubando” o lugar do Festival de Toronto). Foi o caso de “Anora”, no ano passado, que ganhou a Palma de Ouro e também a estatueta dourada. E ainda que também seja um festival de glamour, de tapetes vermelhos e galas, nós jornalistas estamos por trás, entre perrengues e diversas limitações. Uma delas é a retirada de ingressos, em uma sistema único que “divide” o nível de credenciais e tira nossa “liberdade” de escolha à sessão perfeita, além de nos fazer perder inúmeros filmes, como por exemplo, o novo filme de Spike Lee, que só tem duas sessões: uma de gala e uma para “todo mundo extra”. Pois é! 

O Festival de Cannes 2025 também é o palco de construção de momentos. Alguns bem polêmicos, visto que por ser tão importante gera a necessidade do posicionamento político, de tomar apenas um lado único nas guerras: Rússia ou Ucrânia; Israel ou Palestina. E assim, na manhã do dia 13 de maio (no mesmo dia que aconteceria a Cerimônia de Abertura), o jornal francês Libération publicou uma declaração de vários cineastas, atrizes e atores. Estão na lista Pedro Almodóvar, Susan Sarandon e Richard Gere, Justine Triet, Ruben Östlund, Javier Bardem, Ralph Fiennes, cerca de 380 assinantes: “Nós, artistas e atores/atrizes do âmbito cultural, não podemos permanecer em silêncio enquanto se realiza um genocídio em Gaza. De que serve nossa profissão, senão para aprender com a história, com filmes engajados, se não estamos presentes para proteger as vozes oprimidas?”, perguntam os signatários, que pedem ação “em nome de todas aquelas pessoas que morrem na indiferença””. A carta ganhou burburinho no Festival de Cannes e chegou à coletiva de imprensa do Júri oficial, que escolherá as Palmas. Uma jornalista perguntou a Juliette Binoche, que preside o júri, o porquê de não ter assinado a declaração. A atriz disse que não podia responder e que todos saberiam depois o motivo. Pois bem, sim, seria depois. 

Na noite de abertura, antes de Robert De Niro receber a Palma de Ouro Honorária pela carreira das mãos do ator Leonardo DiCaprio, Juliette Binoche disse em seu discurso: “Na madrugada do dia 16 de abril, em Gaza, aos 25 anos, a fotojornalista Fatima Hassouna, e 10 de seus familiares, foram mortos por um míssil que atingiu sua casa. Ela havia escrito: “Minha morte me atravessou, a bala do agressor me atravessou, e eu me tornei um anjo aos olhos de uma cidade imensa, maior que meus sonhos, maior que meus sonhos, maior que esta cidade. Me tornei uma poetisa santa aos olhos de uma floresta, me tornei uma eremita, e recebendo um cipreste como oferenda”. No dia anterior a sua morte ela soube que o filme que ela participou foi selecionado aqui em Cannes, no Festival de Cannes. Fatima deveria estar conosco esta noite. A arte permanece e o testemunho poderoso de nossas vidas, de nossos sonhos, e nós, espectadores, o abraçamos. Que o Festival de Cannes, onde tudo pode mudar, contribua para isso”. Fora disso, o júri mais uma vez manteve sua diplomacia e só disse o que “podia dizer”. O Festival de Cannes colocou a foto da fotojornalista na entrada da área de imprensa. 

Festival de Cannes 2025

 

No dia seguinte aconteceu a primeira sessão da mostra Quinzena dos Cineastas com “Enzo”, do realizador, recém falecido Laurent Cantet, e finalizado por Robin Campillo. Para mim, até agora, este está na minha lista do melhor filme do Festival de Cannes 2025. Logo após, com prévia de coquetel para a imprensa, teve a abertura oficial da Quinzaine des Cinéastes 2025 que homenageou o Brasil com A Fábrica, que “visa o surgimento de novos talentos no cenário internacional, permitindo que jovens locais e casais de cineastas internacionais se encontrem e criem juntos. Para sua 10ª edição, a Fábrica dos Cineastas traz o Brasil com força total como uma celebração da sua essência e do poder da criação coletiva”. E não só o Brasil, mas especificamente o Ceará de Karim Aïnouz. Depois de Taiwan, Dinamarca e Finlândia, o Chile, África do Sul, Líbano, Tunísia, Sarajevo, Norte de Portugal e Filipinas, a Quinzena dos Realizadores, Janaina Bernardes (Cinema Inflamável) e Dominique Welinski (DW) juntam forças para continuar a aventura com os Diretores Fábrica Ceará Brasil. 

Para esta edição marcante no contexto da Cooperação Cultural Brasil-França, pelo padrinho Karim Aïnouz, esta Fábrica, inteiramente filmada e finalizada em Fortaleza, conta com o apoio do Governo do Ceará por meio da Secretaria de Cultura, representado pelo Instituto Mirante e Instituto Dragão do Mar, em parceria com Projeto Paradiso e no parceiro francês Titrafilm. “Temos orgulho em apresentar, no âmbito da Quinzena dos Realizadores, fruto destes trocas: quatro curtas-metragens co-escritos e co-dirigido por quatro duplas de jovens cineastas do Norte e Nordeste do Brasil, Cuba, Portugal, Israel e França. Os filmes serão exibido no Théâtre Croisette na quarta-feira, 14 de maio, dia de abertura da 57ª edição da Quinzena dos Realizadores”, texto do catálogo oficial.

A abertura conta com quatro curtas-metragens: “A Fera do Mangue”, de Wara (Ceará) e Sivan Noam Shimon (Israel); “A Vaqueira, a Dançarina e o Porco”, de Stella Carneiro (Alagoas) e Ary Zara (Portugal); “Ponto Cego”, de Luciana Vieira (Ceará) e Marcel Beltrán (Cuba); e “Como Ler o Vento”, de Bernardo Ale Abinader (Amazonas) e Sharon Hakim (França). Os filmes geraram mais de cem profissionais cearenses do audiovisual.

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