Seguindo a estrutura dos episódios da série “Thiago & Ísis”, o filme dirigido por João Amorim, “Thiago & Ísis e os Biomas do Brasil”, é uma produção infantil de caráter didático, que busca apresentar a fauna e a flora brasileiras, com ênfase nos biomas Cerrado, Mata Atlântica e Pantanal. A proposta de estruturar a narrativa como uma grande aventura em família funciona para manter uma linha condutora que, embora siga um formato episódico, consegue se afirmar como uma história única e linear.

Entretanto, esse tipo de projeto encontra certa dificuldade no formato cinematográfico, pois o excesso de explicações, com um didatismo constante, torna a experiência mais exaustiva quando condensada em uma única exibição. Neste caso, não é diferente: há um desafio em manter o engajamento do espectador de forma contínua, devido à frequência das pausas explicativas e das interrupções na narrativa principal para inserir conteúdos educativos. Ainda assim, dentro dessa estrutura, há uma variação estética que contribui para o ritmo da obra, alternando entre cenas com bonecos, explicações com pessoas reais e segmentos animados — muitas vezes acompanhados de músicas — sem necessariamente seguir um padrão fixo. Pelo contrário, essas transições são breves e logo a narrativa principal é retomada.

Dessa forma, “Thiago & Ísis e os Biomas do Brasil” se organiza como uma espécie de “checkpoint”: a cada etapa da história, há uma mudança estética e uma exposição didática sobre a fauna e a flora de um bioma específico. Em um primeiro momento, essa proposta se mostra interessante por apresentar um formato diferenciado dentro desse tipo de projeto, mas, com o avanço do filme, torna-se cansativa. Isso ocorre principalmente devido à complexidade dos biomas retratados e à tentativa de abarcar uma grande quantidade de informações. A obra vai se expandindo e adotando uma abordagem mais ambiciosa, inclusive incorporando diferentes gêneros musicais à medida que novos elementos são introduzidos. Por outro lado, esse esforço também revela uma intenção clara de expressar a diversidade cultural do país e de se aproximar de outras temáticas além dos biomas. Ou seja, mesmo nas fragilidades de ritmo e condução, há um propósito de construir um retrato mais abrangente e multifacetado das questões abordadas ao longo da obra.

Não por acaso, “Thiago & Ísis e os Biomas do Brasil” consegue transmitir ao seu público — infantil ou não — uma série de informações relevantes sobre os biomas apresentados, ainda que, em alguns momentos, possa perder a atenção do espectador adulto. Além disso, surgem aspectos que podem ser questionados, como atuações pontuais menos convincentes, diálogos excessivamente expositivos e situações apresentadas de maneira pouco natural dentro da narrativa. No entanto, é importante destacar que, para o público infantil, o projeto tende a manter o interesse de forma mais eficaz, não apenas por utilizar uma linguagem acessível e um ritmo mais adequado, mas também pela presença marcante de cores, movimentos e elementos visuais que ocupam a tela com objetivos claros, indo além do mero apelo estético.

Por mais que esse tipo de projeto, didático e explicativo, encontre alguma dificuldade no formato de longa-metragem, o longa “Thiago & Ísis e os Biomas do Brasil” de João Amorim possui algum mérito por não se entregar completamente à uma cartilha estética e/ou estrutural que foi estabelecida por produções semelhantes anteriores. Entre essas tentativas de entregar algo que não seja tão óbvio ou engessado dentro dessa perspectiva, o filme consegue respirar durante sua curta duração, mesmo que não seja tão hábil em transitar entre as diferentes faixas etárias que poderão ter contato com a película, ou seja, encontrará alguma dificuldade em manter diálogo com os pais que decidam levar os filhos para as breves sessões disponíveis nesta janela.

“Thiago & Ísis e os Biomas do Brasil”, exibido na mostra Geração do Festival do Rio 2024, é interessante e hábil ao realizar suas exposições didáticas, capaz de cativar o público infantil e desarmar alguns adultos que possuem grande resistência com obras didáticas que não estão em plataformas de vídeo/streaming. Enquanto um produto brasileiro, preocupado em realizar explicações detalhadas sobre a fauna e a flora brasileira, compreendendo a diversidade cultural e fazendo um grande esforço para, no mínimo, mencionar essa complexidade ao longo de sua estrutura, possui grande valor e deveria conseguir algum espaço na televisão ou serviços de streaming também, para alcançar um público maior e popularizar Thiago & Ísis.