Terra Nova
O quadro é valioso
Por Ciro Araujo
Durante o Festival de Brasília do Cinema Brasileiro 2021
Querendo ou não, o cinema pandêmico acabou minando o seu lugar na produção. Até parece que essa época minou as energias físicas, psicológicas e até políticas do interior de cada um. Essa frase conteve ironia. “Terra Nova”, de Diego Bauer, funciona muito como um mecanismo associado ao cansaço proposto. Já de antemão é fácil concluir que a melhor escolha do cineasta nesse seu curta foi a obra ter uma duração enxuta.
Essencialmente, o brasileiro se interessou pelas histórias de pequenos núcleos para apresentar a produção de uma ficção. Claro, as explicações são além do próprio âmbito cultural; É questão de saúde, acima de tudo. Porém, visivelmente afetados, essa organização levou à uma obsessão tão esquisita na fabricação do repetido. Vira uma questão do quão básico a imagem é. É um apreço pelo já visto. Condições de desespero, pobreza, tristeza foram tomadas, sequestradas para a produção de uma dramaturgia. “Terra Nova” infelizmente cai nas armadilhas da falta de interesse pela própria produção do frame. O quadro é sempre valioso. Diego insere duas protagonistas que possuem alguma química, mas que não saem muito dos próprios círculos para existirem, para dialogarem. Elas estão ali para fornecer informações e xingar. Xingamentos que cabem sim e muito bem ao curta-metragem. Claro, explica-se por conta do contexto da obra.
Talvez o uso exagerado de cenas de transição acabe transformando o curta-metragem em um espaço menor do que ele é. A crescente realmente existe ao seu final, em um momento tão perfeito de frustração que é aí que Bauer consegue realmente brilhar para permitir algo dentro do texto da trama. O silêncio remanescente em sua caminhada é muito mais atmosférico que todo o seu restante e, diferente das imagens iniciais, acaba tornando-se não um formador de lacunas, mas uma espécie de reticências. De fato, quantas vezes a caminhada contra o pôr do sol não foi como essa sequência de três pontinhos?