Tea For Two
Os pôsteres e os cigarros
Por Vitor Velloso
Vitrine Filmes
No Brasil contemporâneo, há projetos que se desenham em torno de uma necessidade dos holofotes de uma vertente da política, que se diz progressista e que apenas revela toda construção Histórica e social perpetuada pela sociedade que vela ou expõe, como no momento atual, seus preconceitos e ódios.
Julia Katharine é uma diretora que não possui os mesmos objetivos que os reacionários de plantão, pelo contrário, concebe uma estrutura simples que acompanha em “Tea For Two” a personagem de Gilda Nomacce (de “As Viajantes“), Silvia, uma artista que recebe a visita de sua ex-companheira, que acaba formalizando alguns de seus anseios e expondo determinadas fragilidades emocionais a serem superadas, todas relacionadas a este relacionamento passado. Quando está voltando do mercado, acaba vendo Isabela (Julia Katharine) sendo agredida por um homem e decide ajudá-la. O encontro gera uma resolução pouco pragmática de certas dúvidas da protagonista que decide investir em um possível reencontro, revelado em plano final.
As resoluções dramáticas estão postas no roteiro de “Tea For Two”, inclusive o atravessamento narrativo que esse encontro gera, potencializado pelo diálogo com o zelador do prédio. Logo, não existe uma pauta em específico que está sendo trabalhada aqui, mas elas orbitam, não como manifesto apenas, essa narrativa. O problema é a maneira como estes fragmentos são costurados. Parece que há um salto narrativo e dramático muito drástico de um ponto ao outro, dando a sensação de um projeto inicialmente maior, que foi reduzido para encaixar na minutagem de curta-metragem. Ainda que o curta consiga uma certa relação direta com determinadas questões que toca durante sua projeção, dá o espectador uma proposta que sente-se pela metade.
Se for o caso, não há julgamento pela decisão, já que é notório que há um déficit imenso das janelas de exibição de um média-metragem, fazendo a escolha ser sensata em um ponto de vista de público. Mas acaba fragilizando a ideia por reduzir demais as possibilidades narrativas que são apresentadas. São personagens com dramas sólidos, que não possuem tempo de tela o suficiente para dar conta de tudo que é posto na mesa. E ainda que a direção de arte busque contemplar determinadas lacunas que o drama possui, não é capaz de consolidar de maneira concreta, tudo que abarca.
O projeto de encenação é curioso, pois se desenha conforme uma lógica interna pré-concebida, através de uma decupagem rigorosa, mas acaba tirando parte da densidade emocional de uma cena, já que se coloca de forma pouco subjetiva em seu centro. E a força está sobretudo nas interpretações e na relação com essa mise-èn-scene que se instala desde o primeiro plano. Mas infelizmente, “Tea For Two” satura a forma e não dá conta de complementar as cenas.