Curta Paranagua 2024

#SemSaída

Entre Moscow e L.A.

Por Vitor Velloso

#SemSaída

Em um barato meio “Escape Room” com “The Game”, “#SemSaída” de Will Wernick chega aos cinemas brasileiros para apresentar a destruição do webego e criar um bocado de sanguinolência gratuita. É mais uma proposta de estrutura narrativa, que particularmente estética. Ainda que o eixo norteador possua alguma potência, tendo uma multiplicidade de registros e uma cadência em multitelas, a estratégia do projeto ganha um contorno pueril, envergando para cada clichê barato que possa agarrar. Tudo gira em torno de um plot que vai se fragmentando para tentar complexar a trama, mas entrega uma artificialidade tacanha que não consegue o engajamento do público, da maneira que busca.

Pois o jogo possui cartas marcadas pela indústria, sem poder recorrer às representações dessa violência a partir da estrutura midiática pré-concebida, ou seja, as câmeras em cada parte do jogo, telas dinâmicas etc. “#SemSaída” falha por tentar ampliar o espectro das cifras e esquece que a proposição formal inicial era mais interessante do que a indústria pode permitir, assim sendo, esse balaio do “Escape Room” ascende, junto com umas pitadas de “Jogos Mortais” e tudo caminha pro genérico absoluto. Entregando seu suposto “plot twist” em frases expositivas, que se amontoam ao longo da projeção.

Exibição essa que não teve grande apoio. Durante a saga, acabei assistindo o “#followme” (2019) de Sam Hardy, por conta de uma confusão generalizada ao pesquisar sobre o filme no Google e no Ingresso.com, que colocou a sinopse do projeto de Hard. Para a tristeza de quem escreve, a obra de Sam me tirou alguns neurônios funcionais e já alcança o status de trauma cinematográfico.

Findando o desabafo emocionado, é possível dizer que Wernick constrói um blockbuster funcional, se pensarmos em dólares. Contudo, além de escolhas estéticas e narrativas que acabam comprometendo o negócio todo, suas investidas contra a Rússia são… deselegantes. “#SemSaída” busca representar o país como um grande poço de máfia, onde a violência está presente em cada esquina, vodka está no café da manhã e a memória nacional é norteada por tortura. Ora, é uma leitura pouco honesta e excessivamente alienada de se fazer. Aliás, a indústria cinematográfica das obras de tortura e morte gratuita, que apenas projeta o ego da sociedade e seu fetiche por violência, é a norte-americana. Exercício vexaminoso tentar creditar as masturbações sanguinárias aos russos, até a rede social que se utiliza para divulgação não possui raiz lá.

De qualquer maneira, o filme é um espelho de como as representações são feitas em escala industrial, recicla todos os estereótipos e arquétipos afim de adequar-se ao sadismo de uma xenofobia que ganha distribuição e é aplaudida à esmo pelo mundo inteiro. Hollywood está repleta de reacionários que fomentam o ódio alheio para assimilar questões políticas como injeção de entretenimento.

Porém, quando nem divertimento um projeto desse consegue causar, o barato tá sob grilhões mais extensos do que consegue imaginar. “#SemSaída” parece constantemente podado para tornar-se uma peça de descarte do início do ano. Qualquer boa ideia presente aqui, é trucidada pelos negócios. As linhas de diálogo são expositivas, a montagem é excessivamente didática, a estrutura não segue a própria concepção midiática que dá vida ao filme, as interpretações são terríveis. O protagonista, Cole (Keegan Allen), é de longe o pior personagem possível para manter a engrenagem funcionando aqui e nada encontra o eixo, quando a película parece assumir o tom canastrão, cria uma reviravolta para elevar a “tensão”. Falta muita coragem para se assumir como um produto de violência barata e febril, tudo é excessivamente dramático e anti-Rússia.

“#SemSaída” é mal articulada e facilmente esquecível, não atrai grande atenção para si, mas deve se destacar em números, já que seus companheiros de janela são ainda piores. Contudo, pode divertir minimamente em sua metade inicial, com alguns protótipos que soam minimamente funcionais, encontrando seu pior inimigo, suas referências mercadológicas.

De qualquer modo, o brasileiro que está disposto a arriscar-se em um jogo onde vidas estão em perigo, em salas de confinamento e cadáveres se amontoando com velocidade alarmante, pode deliciar-se com reacionarismos e violências em uma sala de cinema. Lavem as mãos.

2 Nota do Crítico 5 1

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