Saiba quase tudo o que acontece no Fest Aruanda 2023
Um balanço parcial por dentro do festival paraibano, que fez todos Aruandar com exibições de filmes, debates, laboratórios e muitos encontros de cinema
Por Fabricio Duque
Mesmo soando repetitivo, é preciso dizer que um festival de cinema só acontece no momento em que se inicia, que é aberto ao público. Pode parecer lógico, e é, porque antes é apenas uma ideia representativa, organizada e programada, mas do instante de sua estreia nós somos convidados a vivenciar a o tempo real e não mais um ensaio. É inevitável que atrasos aconteçam e situações adversas, ora imperiosas, sejam geradas, alterando todo o ciclo pré-determinado dos horários. Mais do que esperado. No Fest Aruanda 2023, que completa a maioridade brasileira dos dezoito anos, não poderia ser diferente com a necessidade de adaptações em seu sistema-caminho. O festival paraibano, que acontece em João Pessoa e tem esse nome em homenagem ao filme “Aruanda”, de Linduarte Noronha, começou dia 30 de novembro e vai até 06 de dezembro (com um debate extra pela manhã no dia seguinte). E para um grupo de pessoas, no qual me incluo, entre jornalistas, críticos, convidados e assessoria de imprensa, a aventura do “aruandar” (verbo carinhosamente criado para traduzir a união de diversão orgânica e cinefilia desmedida pelo Cinema Brasileiro, em especial o Paraibano) começou um dia antes, 29/11, quando o mesmo grupo saiu de São Miguel do Gostoso, após participar da Mostra de Cinema de Gostoso, no Rio Grande do Norte, rumo ao aeroporto de Natal e depois conduzido a viajar para João Pessoa em um ônibus “escolar” ofertado pela Universidade Federal da Paraíba. Parecia que estávamos desbravando on the road o Brasil, bem à moda de “A Partida”, de Caco Ciocler; e/ou “Pequena Miss Sunshine”; e/ou “Bye Bye Brazil”; e/ou até mesmo “Priscilla – A Rainha do Deserto”. Todas essas referências são válidas e servem direitinho a essa jornada gostosense-natalense-paraibana. E foi assim que esta edição do Fest Aruanda começou para mim, a assessora de imprensa Flávia Miranda, os jornalistas Neusa Barbosa; Flávia Guerra; Raphael e Juliana Camacho; Luiz Zanin e Maria do Rosário Caetano; Simone Zuccolotto; Thiago Stivaletti; Orlando Margarido; Vitor Búrigo; e a diretora da Mistika, Ariadne Mazzetti, todo mundo muito bem conduzido pelo motorista Fábio.
O Fest Aruanda – Festival do Audiovisual Brasileiro, com o slogan “Cinema que ensina o mundo a enxergar o Brasil” e direção geral do prof. Lúcio Vilar, acompanhado do jornalista Amilton Pinheiro na curadoria, é uma experiência cinematográfica que transcende a atmosfera comercial (e tão já padronizada) de um shopping, o Manaíra, lugar central em que os filmes são exibidos (com apresentação da equipe de cada obra) e homenagens são realizadas, cuja sala de cinema Cinépolis MacroXE cria uma imersão sensorial “ao vivo” e um maior “realismo” do público numa tela de dois andares para 450 pessoas, com som digital com 13.000 watts de potência. Só quem vivencia uma exibição pode mensurar o quão grandiosa é essa experiência. E isso tudo ainda consegue despertar outras questões, como o contraste de consumo da própria cultura, de se incluir filmes brasileiros, especificamente os paraibanos, em espaços que “brigam” muito com a hegemonia e “agressividade” das obras Blockbusters. Nosso cinema ainda precisa de muita ajuda, mas Fest Aruanda – Festival do Audiovisual Brasileiro 2023 contribui muito para fomentar e difundir toda essa safra nacional.
Ainda sobre sentir o festival, quando cheguei a João Pessoa, um morador local me disse que aqui o “tempo é diferente”, que é preciso “aceitar” a dinâmica do cotidiano. De um coloquialismo em movimento em que é preciso respeitar os costumes. Um deles sobre a cultura de se assistir a um filme, que se torna uma experiência compartilhada no coletivo, gerando conversas, comentários e celulares na mão durante a sessão. É como se isso fosse a extensão do sofá da sala, de ter a família em volta vendo um capítulo de novela. O próprio Governador e sua equipe trocaram palavras e análises, entre luzes dos celulares, durante os filmes da abertura “Aruanda” e “Nada Será Como Antes”. Sim, para quem não conhece, e não tem isso já internalizado, precisa adentrar em um processo de adaptação. De readaptação do olhar, da percepção, do foco e necessidade de incorporar ruídos e barulhos atravessados, entre o público que sai e entra dos filmes. Como de costume, busco entender como um festival acontece, e, nesta 18a edição, que é minha primeira vez em terras paraibanas, fui conversar com o diretor geral do Fest Aruanda Lúcio Vilar para aprofundar informações mais específicas.
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O Fest Aruanda – Festival do Audiovisual Brasileiro tem um orçamento de 450 mil reais (muito pouco para realizar um evento que cresce muito a cada ano), cujo valor inclui toda a parceria com a Cinépolis e a chancela da Universidade Federal da Paraíba, visto que o festival nasceu neste meio universitário, e que disponibiliza toda a logística das passagens e do transporte. Mas como nem tudo é perfeito, há a burocracia entranhada que cria ruídos, confusões e tretas. Uma delas é sobre a divisão de hotéis dias antes, o que ocasionou uma “corrida” de reconfiguração nos horários das vans e alguns “pés errados” (mas felizmente todos esses percalços foram resolvidos e assim o festival só precisa fluir). O que podemos traduzir de tudo isso? De que o Fest Aruanda – Festival do Audiovisual Brasileiro 2023 está sendo uma edição work in progress (porque no meio disso tudo, encontramos profissionais de qualidade e que precisamos citar nome e sobrenome, como as sensacionais Suzany Gomes e Camila Leite, da Recepção de Convidados, e a sempre salvadora Flavia Miranda, assessora de imprensa do festival, além dos motoristas Seu Dedé e o Fábio), e que pode muito simbolizar todo o movimento do próprio cinema brasileiro existindo enquanto paraibano. E é nesses momentos, aventuras e encontros que nós somos imbuídos e abduzidos por toda essa cinefilia nordestino.
E entre uma dessas tantas experiências, de organicidade sensorial, aparece oportunidades para participar da história do Fest Aruanda. Nesta 18a edição, recebi dois convites. Um para integrar o Júri da Abraccine – Associação Brasileira de Críticas de Cinema, que me juntei com a crítica Neusa Barbosa, do portal Cine Web, e o cineasta Bertrand Lira, de “Brasil Cuba”, filme exibido no primeiro mês da Mostra Um Curta Por Dia, time este em sinergia de ideias e justificativas para “escolher” o Troféu da Crítica Abraccine para Melhor Curta e Melhor Longa, filmes advindos das mostras Sob o Céu Nordestino e Competitiva. Foram 19 curtas e 10 longas.
O outro convite veio da cineasta Susanna Lira, que está no Fest Aruanda para ministrar o quarto Laboratório Aruanda/Energisa: “Estratégias Narrativas para a Construção de um Cinema Pessoal”, imersão de 3 dias com 14 alunos que analisou argumentos, roteiro, estratégia de produção, técnicas de produção e no final todos esses 14 projetos nordestinos foram apresentados em pitching de três minutos para diversos representantes do audiovisual. Fiquei muito honrado em participar desse “júri”, complementado por André Libonati; Lucila Hertzriken; Ju Ev; Joana Macedo; Fernando Muniz; e Nuno Godolphim. Com os projetos apresentados, nós nos damos conta que ainda há muitas histórias a serem contadas no cinema, estimulando a frase “nossa, como nunca pensei nisso?”.
Com isso e a internet que não ajudou fez com que esta matéria só saísse agora. Bem atrasada. Mas ao longo da semana, muitas outras serão publicadas neste mesmo canal. Aguarde e bora Aruandar, neologismo criado por Lucio Villar para traduzir a ideia de movimento do cinema paraibano, de ser itinerante, de ser livre e de construir história no caminho percorrido.