Rosa e Momo
Um drama à Itália
Por Vitor Velloso
Netflix
“Rosa e Momo” de Edoardo Ponti é um daqueles filmes que estão previamente indicados para o Globo de Ouro em cada minuto que é projetado na tela. Desde a Sophia Loren ao dramalhão de arrancar lágrimas, o longa é um planejamento de indicações aos prêmios internacionais.
A estrutura é conhecida e não foge da padronagem industrial, uma narrativa que é previsível conforme sua progressão revela que a moral em jogo é um reflexo do mito norteador ocidental. Nessa proposta, é difícil se interessar por “Rosa e Momo” se o ponto dramático entre a perda e a necessidade de afeto não fisgar o espectador na primeira meia hora. A experiência é cadenciada pelo ciclo de emoções que constrói a narrativa, sem que haja uma compreensão de um questionamento material no próprio filme. Dessa forma, o público é refém de um longa de quase uma hora e quarenta que recicla os sentimentos em um sistema espelhado da trama.
Até possui algumas boas posições nos acontecimentos, mas parece descartar suas ideias em projeções expositivas constantemente. É um tratado mimético de como um drama é uma retroalimentação particular de uma superação advinda de um sofrimento. Um barato cristão que se desenrola até na linguagem, onde a cinematografia promove uma estetização do espaço-tempo, emoldurando o sofrimento dos personagens. Essa institucionalização da história de ambos, como um reflexo de sofrimento, distintos, mas que se complementam, ganha contornos ainda mais drásticos, quando a imagem que fica é a da maternidade.
Uma proposta que tenta santificar o entorno, falhando em construir a relação naquilo que os une. O longa fica um tempo excessivo tentando apresentar o campo onde a narrativa irá desenrolar, introduzindo seus personagens em segmentos distintos, diversos etc, preparando o espectador para o clímax, uma choradeira sem precedentes. Porém, a lentidão de “Rosa e Momo” não permite um grande investimento emocional para os “descafeinados”, do contrário irá despertar de algumas sonecas quando a música cafona se elevar e tomar conta.
Todos os estereótipos de como um dramalhão italiano, típicos do Estação Net Rio e/ou Botafogo, estão presentes aqui e não vão desapontar os fãs do subgênero “zonasulesco”. Mas sinto informar que apesar de uma interpretação decente de Sophia Loren, é difícil gostar do filme. Ponti parece se esforçar para bagunçar a experiência. Cada vez que algo de interessante acontece na narrativa, a montagem nos faz seguir o rumo da decadência cristã. Quando um sentimento distinto vêm à tona, o tacanho toma conta da encenação, uma música cafona se inicia e temos vontade de desligar o monitor. O maior inimigo de “Rosa e Momo” é seu excesso de paciência para ensaiar um “estudo de personagem”, assim como sua falta de paciência em dar seguimento à proposta de compreensão de duas narrativas que só se encontram na redenção de uma montagem com preguiça de trabalhar.
A impressão final, é de um projeto que não parece se encontrar pois persegue uma idealização formal e moral que trava algumas saídas possíveis para a narrativa truncada. Porém, na composição de uma sacristia pictórica, de fotografia colorida e celebração do sofrimento conjunto, é extremamente funcional como um institucional católico, pouco criativo, mas capaz de encharcar alguns panos da Zona Sul na sessão dominical das 19h. Contudo, o filme é da gigante do streaming e estará disponível diretamente na residência de cada um.
Ponti é uma espécie de síntese perfeita na direção de “Rosa e Momo”. Transitando entre a pior escolha possível e pior, o projeto institucional que não sabe se representa Itália, Vaticano ou EUA vai acabar sendo esquecido no meio do catálogo. Só um prêmio midiático poderia salvar a obra, mas esse sonho parece estar longe dos planos da Netflix. É possível que alguns fãs da atriz tentem ressuscitar o negócio em algum momento. O engajamento dependerá diretamente do barulho que o filme faz nas redes sociais. E por enquanto… o bafafá é em torno do Saci Pererê e da Cuca. Quem diria, o Curupira venceu a Sophia Loren…