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Quem Me Ama, Me Segue!

Gilbert e Étienne: Mais uma mulher para dois

Por Daniel Guimarães

Quem Me Ama, Me Segue!

Não é incomum do cinema francês usar da traição e de uma relação à três como mote para seus filmes. Curioso é observar que, no cinema americano, veríamos um grande drama, possivelmente com violência familiar ou brigas histriônicas, retrato da diferença ética e moral da cultura. “Quem Me Ama, Me Segue!”, como é de se esperar, retrata suas relações como uma comédia dramática.

O longa-metragem, dirigido e roteirizado por José Alcala, aborda a crise de Gilbert (Daniel Auteuil) e Simone (Catherine Frot) que, casados por 35 anos, já não se suportam no convívio em família. A história se desenrola a partir do momento em que Simone decide fugir com Étienne (Bernard Le Coq), em busca de resgatar a liberdade e a paixão pela vida. Para uma premissa básica que provavelmente já foi vista antes, “Quem Me Ama, Me Segue!” aborda temas em excesso, concluindo satisfatoriamente poucos deles.

O “velho rabugento”, que limita a liberdade e a possibilidade de felicidade da mulher é um arquétipo conhecido. Assim como a esposa reprimida que aparece “leve” e feliz ao conseguir se afastar do marido. Tal qual o vovô que não sabe cuidar e se relacionar com o neto, por nunca ter se aproximado. Bem como a relação destruída de um pai com uma filha, desde o momento em que o pai não aceitou seu marido. E assim por diante. Cria-se um  problema ao juntar todos estes, gerando diversas subtramas que nunca se realizam. Soma-se a isso a inserção de um grande drama deslocado e o cenário é limitador para uma obra narrativa.

O filme, porém, se beneficia de seu texto em relações humanas, o puxando para cima enquanto sua própria estrutura narrativa o puxa para baixo. Já no primeiro ato, é possível apontar interessantes momentos que mostram, sem verbalizações explícitas, que o marido e mulher protagonistas já não parecem ou são sentidos como um casal. Quando cobrados pelas dívidas que possuem, a justiça resolve por tirá-los um bem material. É então que ambos, simultaneamente, imploram para que não lhe retirem a TV. Evidencia-se que a presença um do outro se sente de um modo insuportável, onde viver sem aquela distração mútua seria torturante. Também nos põe eficientemente na sensação de Simone, ao nos sentirmos incomodados e irritados toda vez (e não são poucas nesse começo) que seu nome é gritado por Gilbert.

Entretanto, a partir do momento em que Simone resolve “fugir”, toda vez que o desenvolvimento necessita se transformar em justificativa, o longa falha. Nenhuma atitude de voltar, se arrepender ou se afirmar como correta e independente parece coerente, simplesmente seguindo na direção que possibilite chegar na comédia francesa de “uma mulher para dois”, tão presente na filmografia de François Truffaut (Jules e Jim ou O Último Metrô)

O maior mérito de “Quem Me Ama, Me Segue!”, porém, se encontra no entendimento da diferença de épocas. O rebelde do passado é diferente do rebelde de hoje. E, consequentemente, a percepção das pessoas sobre o termo será alterada. Mesmo se encontrando no lugar do rabugento sem espaço, o personagem de Gilbert é ótimo catalizador dessa noção. Para além disso, se manter em um conceito que já perdeu seu espaço e tempo é prejudicial aos outros e a si mesmo. Não se pode esperar que, por em certo momento uma configuração de relações ter dado certo, que se manter nela irá perdurar para a eternidade.

No momento em que o terceiro ato parece se inclinar para uma conclusão dos temas e conflitos lançados, José Alcala se permite resolvê-los da maneira mais fácil e ineficiente possível: um corte no tempo. Em uma obra que se trata de afastamentos pessoais e de relacionamentos, a redenção ou a quebra precisam da maior cautela e esforço. Aqui, porém, parece ignorar a coesão para finalizar as desavenças que aborda. Das mais importantes, inclusive, que conduz o grande drama na narrativa, a relação do pai com a filha doente, é ignorada.

“Quem Me Ama, Me Segue!” deixa a decepcionante sensação de que, se assumindo como de fato uma comédia de situações “On the Road”, se limitando tematicamente, acabaria por se expandir como uma obra cinematográfica. O final é sintomático nesse sentido, porque mesmo não se concluindo narrativamente de maneira satisfatória, seu roteiro mostra habilidade em traçar paralelos nos próprios diálogos, ressignificando a sensação do grito “Simone” perfeitamente em sua última linha. Se melhor construído suas viradas, aumentaria exponencialmente o valor do filme. Infelizmente, a cena nos faz rir ao mesmo tempo de lamentar pelo potencial desperdiçado.

2 Nota do Crítico 5 1

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