Direção: Estevão Ciavatta
Roteiro: Estevão Ciavatta
Diretor de Fotografia: Dudu Miranda, Estevão Ciavatta, Fred Rangel, Gian Carlo Bellotti, Markão oliveira, Roberto Riva
Som Direto: Ivan Capelli
Montagem: Gian Carlo Bellotti, Joana Ventura
Edição de Som: Daniel Carvalho
Produtora: Alice Lutz, Andrea franco, Fabio Bruno, Léo Martinez, Lívia Nunes, Nuno Godolphim
Produtor Executivo: Estevão Ciavatta
Produtora: Pindorama Filmes
Formato: DVCAM
Duração: 80 minutos
País: Brasil
Ano: 2009
COTAÇÃO: ENTRE O BOM E O MUITO BOM
Apresentando a Sessão
Amir Labaki apresenta os realizadores do filme “Programa Case”. O diretor Estevão Ciavatta, recuperado após uma queda de um cavalo, agradece a família do Adhemar Case e diz “O filme me escolheu. E o que tinha que ser descoberto. Fiquei dez anos fazendo o filme, foi um esforço coletivo. Fico feliz do filme estar na tela grande. É uma historia de perseverança, uma pessoa que acreditava nos seus sonhos”. A esposa, Regina Case, disse “Meu avô era impactante. Ele operou muito na minha vida”.
A opinião
“O que a gente não inventa, não existe”, inicia o longa sobre a trajetória de Adhemar Casé, um pioneiro do rádio e da televisão no Brasil. Nascido em Belo Jardim (PE), em 1902, e órfão de pai muito cedo, tem que trabalhar para sustentar sua família. Transferindo-se para o Rio de Janeiro, em 1922, ano da primeira transmissão radiofônica no Brasil, vai passar de vendedor de aparelhos de rádio a criador do “Programa Casé” – no qual inventou o primeiro jingle, a primeira radionovela e a contratação de artistas exclusivos das emissoras de rádio. Nessa era de ouro, nos anos 30 e 40, lança artistas como Noel Rosa, Carmem Miranda e Orlando Silva. Pioneiro também na televisão, como sócio de Assis Chateaubriand, ele é lembrado em diversos depoimentos, como do cantor Dorival Caymmi e de sua própria neta, Regina Casé.
A narrativa interage com os elementos apresentados, como detalhes montados com close de um radio e as palavras do próprio Adhemar, por uma entrevista que ele forneceu ao projeto Depoimento para a Posterioridade, do Museu da Imagem e do Som (MIS), em 1972. “Utilizo o recurso do áudio, que lembra um pouco a sensação do radio, de usar a imaginação”, diz o diretor. A historia não convencional da vida dele é mostrada por conhecidos em Pernambuco. Em 1907, o pai de Adhemar deixa a política e vai com a família para Caruaru. Em 1920, o avô da Regina Case encaminha-se a Recife, com imagens da época e ditos “horas amargas”. Há uma passagem que Adhemar conta que fez o próprio radio, como vendeu muitos rádios, como teve a ideia de fazer um programa mais ágil, mais dinâmico. Ele ouvia a freqüência da NBC e comparava com o que estava sendo feito no Brasil.
Em 1932, o Programa Casé ganhou corpo. “Fazer um programa mais popular e deixar o clássico (musica clássica), já que o telefone não tocava no horário dos clássicos e não parava mais na hora da mpb”. “Case era um comerciante”, “Era um modo de vida dele. Era um artista”, amigos dizem definições e curiosidades sobre o pioneiro do radio. Braguinha diz “Nota zero para esse bando Tangara”, sobre a participação neste grupo na época. E todos riem. As musicas do “Tangará” eram picardias sarcásticas, politicamente incorretas, com uma ingenuidade realista e direta, assim como a linguagem poética e crua de Mazzaropi da época. Era a linguagem sem pudor dos nordestinos.
É um filme família, de forma despretensiosa. De uma família para conhecidos e amigos. Mas não é só isso. Acrescenta o conhecimento de uma época, com historias divertidas, fotografias e imagens antigas de arquivo. “Era para ele ter virado um porteiro ou um cara que trabalha na obra. É um caso raro de mobilidade social”, diz a sua neta.
“Programa miraculoso”, diz-se. “O radio não seria o que foi sem os reclames, os comerciais. O primeiro jingle foi da Padaria Bragança, na Rua Voluntários da Pátria, em Botafogo”, Case continuava a nos brindar com suas lembranças. “Ele inventou a exclusividade na radio, em 1933, o primeiro artista exclusivo”, dizia outro depoente. Eram muitos artistas: Silvio caldas, Orlando Silva, Carmem Miranda, Chico Alves, entre outros. Neste ano, o programa fica três meses fora do ar.Em 1936, o primeiro programa roteirizado. A novela “Serra Brava”. “Queria aprender aquela coisa frenética do radio”, dizia José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni.
Há uma cena, que tenta a brincadeira, mas causa a estranheza e o constrangimento. Dorival Caymmi, Stella Caymmi e Regina Case conversam sobre “dar ou não” para subir na carreira. Stella diz que não “deu” para o avô de Regina, que diz “mas resolveu dar para o melhor de todos (Dorival)”. De novo, fiquei constrangido.
Adhemar tinha “a delicadeza rude”, que foi moldada por sua esposa. “Ele não tinha a cara do cangaceiro político. A autenticidade dele, um resquício do nordestino”, diz-se. Ele compra uma câmera 16 mm e registrava, documentando imagens da família e de outros interesses. “Sensação de sucesso que conseguiu sozinho”, demonstra a ascensão social de um nordestino que voltou para o lugar de origem com o carro mais caro que o dinheiro pudesse comprar, não para ostentar, mas para ratificar a vitória. “Ele não era arrogante. Achava lindo ser rico e morar em Copacabana. O que conquistou foi por mérito próprio”, diz-se.
Então, em 1950, Case vai para a Televisão junto com Assis Chateaubriand. Substitui a Radio Tupi. “Se Case foi para a televisão, temos que ir também”, diz-se. “A televisão do Brasil é filha do circo e do teatro, não do cinema. O ritmo da Rede Globo vem do Case. Ele era muito critico, preocupado com a concordância”, diz Boni. Veio o primeiro infarto, veio o segundo infarto, isso fez com que vivesse de trabalhos caseiros, pescaria e ouvir musicas. Vale a pena ser visto. O acervo histórico é incrível. Recomendo.
O Diretor Estevão Ciavatta diz “Ele era um péssimo marketeiro de si mesmo e acabou muito esquecido”.
Estevão Ciavatta é diretor, roteirista, editor, fotógrafo de cinema e TV. É sócio-fundador da Pindorama. Formado em 1993 no Curso de Cinema da Universidade Federal Fluminense – RJ, tem em seu currículo a direção de algumas centenas de programas para a televisão, como os premiados BRASIL LEGAL e CENTRAL DA PERIFERIA da TV Globo, além dos também premiados filmes NELSON SARGENTO NO MORRO DA MANGUEIRA, curta metragem sobre o sambista Nelson Sargento e POLÍCIA MINEIRA, média metragem, em parceria com o Grupo Cultural AfroReggae e o Cesec, que coloca em contato jovens negros da periferia com policiais militares de Minas Gerais.