Professor Polvo
Estranho encontro
Por Vitor Velloso
Netflix
“Professor Polvo”, dirigido por Philippa Ehrlich e James Reed, é um documentário que acaba surpreendendo por um lado distinto da perspectiva que a terrível sinopse da Netflix traz. O longa acompanha o cineasta Craig Foster em uma aproximação com um polvo, mas diferentemente do texto exposto, o barato não é particularmente uma “relação”, muito menos um delírio do protagonista.
O filme explora essa relação homem x natureza x animal, a partir de uma nota menos delirante que grande parte das obras que são produzidas a partir da ideia. Por conta disso, o interesse que o espectador possui na narrativa, é construído majoritariamente nos primeiros minutos de exibição, pois o nível expositivo das falas, consegue sintetizar parte do fascínio pelo animal, como uma admiração não apenas estéticas mas na inteligência e capacidade de sobrevivência. Neste momento, nos interessamos pelo encaminhamento da história e de como um animal em ambiente hostil, pode se aproximar “emocionalmente” por um polvo.
Contudo, o “fascínio” dura poucos minutos e é substituído por uma lentidão e repetição constante desse encontro inicial que gera alguma curiosidade. “Professor Polvo” que trabalha desde seu início com uma linguagem que transa com o didatismo, passa a flertar com a mesmice, se torna cíclico e passa a contornar as mesmas questões pela metade final. E essa falta de criatividade em lidar com o projeto, faz com que o trabalho seja uma mera exposição da situação, sem necessariamente um debate e/ou reflexão em torno dessa relação homem x natureza x animal. A falta de perguntas diretas por parte dos documentaristas, apenas realça a exposição à “National Geographic” que se torna uma muleta para lidar com a queda de ritmo.
Apesar de tudo, ainda é possível sentir uma estranheza vindo desse contato inusitado e uma necessidade de compreendermos tais questões em vias de maneira mais racional, diferentemente de nosso protagonista que está envolvido diretamente na situação. O espectador pode frustrar algumas de suas tentativas mais céticas diante do que parece um fascínio conjunto que origina em uma “confiança” mútua. O tom norteador assume o eixo principal da montagem ao fim da primeira metade, mas perde força em suas repetições constantes e tentativas de iniciar um diálogo aberto com questões mais abrangentes dessa “relação”. Essa verve menos direta e incisiva, para um contorno que tenta encontrar o sentido nas pequenas coisas e na “filosofia da vida” transforma o barato todo em uma “viagem ao humanismo liberal da conexão com o mundo”. É chato.
Apesar de Craig ser uma figura curiosa no filme em que protagoniza, o polvo é o motor que faz o documentário funcionar e como o mesmo não possui grandes autonomias para ditar o processo, o negócio fica meio suspenso e a montagem não sabe como conduzir para que “Professor Polvo” se torne interessante novamente. A segunda metade do longa passa por um longo exercício de paciência diante da TV, tentando encontrar aquele fascínio dos primeiros trinta minutos.
Próximo às linhas formais de “Free Solo”, o projeto da Netflix vai perdendo força conforme avança e lembra que o formato televisivo de 30-40 minutos para contemplarmos a “natureza” é mais que o suficiente para partirmos para a próxima. Quase uma hora e meia é um diálogo com os bocejos. A montagem que não se encontra , a narração em off que não consegue deter a atenção para si, o protagonista pouco carismático e a falta de material para apoiar-se, faz com que “Professor Polvo” seja um exercício formal pouco convincente de uma história que possui camadas interessantes, mas não sustenta um projeto tão longo, com tantas fragilidades.
Diferentemente de “Black Fish”, aqui estamos diante de apenas um personagem, relatando a experiência dele, exibindo suas filmagens e suas fotografias e essa limitação (que poderia ser a grande força da obra) burocratiza o processo e sintetiza os projetos de documentário que perseguem a natureza e a relação com o homem, aqui com um polvo intermediando.