Primeiras impressões do Goiânia Mostra Curtas 2025

Primeiras impressões do Goiânia Mostra Curtas 2025

Tudo o que aconteceu nos dois primeiros dias do festival, de volta ao Teatro Goiânia

Por Clarissa Kuschnir

Entre alguns festivais que estive no Brasil durante estes anos, o Goiânia Mostra Curtas foi um que faltava no meu currículo profissional. Como vocês sabem, o Vertentes do Cinema está muito conectado com as produções de curtas a começar pelo nosso projeto Mostra Um Curta Por Dia, que está em seu terceiro ano.  E eu como jornalista, e curadora, tenho procurado estar cada vez mais próximas deste universo, do cinema. Fiquei muito feliz quando me convidaram para cobrir o Goiânia Mostra Curtas que é conhecido como um dos principais eventos no Brasil no formato. E no coração do Brasil. Confesso que as minhas primeiras impressões foram as melhores possíveis, desde a recepção da equipe do festival, até a programação intensa que se complementa como um evento de formação de profissionais e público.

A primeira noite do festival foi para homenagear três personalidades importantes do nosso cinema que são: a produtora e realizadora do Curta Kinoforum  Zita Carvalhosa, o ensaísta, crítico, professor ator e escritor Jean-Claude Bernardet, essas primeiras póstumas e para fechar a atriz e diretora Marcélia Cartaxo, que acumula mais de 50 anos de profissão.

Voltamos ao nosso querido Teatro Goiânia aberto ao público e múltiplo, cujo os olhares e debates constroem diariamente a relevância da mostra ao lado de escolas, universidades e realizadores. Lembramos do curta-metragem como linguagem de urgência, invenção e resistência. Diante das perdas de profissionais fundamentais como Zita Carvalhosa e Jean Claude Bernardet dedicamos esta edição à memória dos que foram e a luta dos que permanecem ativos”, disse Maria Abdala, diretora e idealizadora do festival na abertura do evento.

Em seguida às homenagens póstumas, Marcélia Cartaxo subiu ao palco com seu carisma para receber sua homenagem.

“É uma honra ter uma plateia dessas. Quero dizer para esses jovens que estão chegando agora têm uma importância bem grande e que aproveitem os editais e as oportunidades, porque agora a gente está começando a nascer de novo. Resistimos e estamos aqui e vamos resistir muito mais. Quero parabenizar esses jovens realizadores que estão aqui e os veteranos, porque a gente nunca pode perder a prática. Quero agradecer ao festival e a vocês que são a importância deste movimento que vem todos os dias ver esses curtas-metragens, porque não tem sentido amar o cinema, sem amar o curta metragem. É por onde a gente começa. É por onde vemos as nossas memórias e as nossas histórias. Onde fazemos e refazemos muitas vezes, e é essa a importância. Fazer e refazer e dar importância a essas novas gerações. E ainda quero agradecer aos que vieram antes da gente, se não fossem eles, não estaríamos aqui. E quero agradecer a importância dessa mulher realizadora, (Maria Abdala). Vou sair daqui de alma lavado”, finalizou Marcélia sob aplausos da plateia, que lotou o teatro Goiânia.

Após as homenagens, o festival encerrou a noite com a exibição do curta “Umbilina e Sua Grande Rival” de Marlom Meirelles, protagonizado por Marcélia Cartaxo, seguido de um pocket show da cantora, compositora e Dj paraense Jaloo, que agitou a plateia com sua mistura de música eletrônica, pop e tecno brega.

O segundo dia contou com uma importante palestra sobre a internacionalização e co-produção de filmes, com a produtora Júlia Alves que trouxe um panorama bem interessante e a apresentou alguns caminhos de como conseguir financiamentos e parcerias com outros mercados, para o público presente.

A primeira sessão de abertura dos curtas foi a da Mostra Curtas Góias que contou com cinco títulos que foram:  A Tela,” de Gabriel Newton,Lobeira”, de Larissa Siqueira, A Mulher Esqueleto”, de Yolanda Margarida, Última Geração” de Matheu Amorin o e O Conto da Bixa”, de Karvalio e Stella de Eros. Esta primeira sessão me surpreendeu pelo bons filmes com destaque para A Tela, que traz a história de uma mulher negra que trabalha para uma famosa influencer e tem o desejo de se tornar uma artista plástica. Ao pintar um quadro, ela coloca em sua parede com o intuito de vender a obra a 10 mil reais.  Porém sua avó a convence de que aquele não é seu mundo, mas ela insiste e não desiste. Com uma bela fotografia e um roteiro bem redondo, o filme é bem construído. Outros dois títulos que me chamaram a atenção foram Lobeira, onde duas mulheres que vivem sob o mesmo teto não se comunicam, por causa do vício do celular e Última Geração, um curta que já conhecia no qual uma família de classe média baixa tem o desejo de comprar uma TV de última geração (a justificativa do título). O curta é uma fábula de quanto a TV ainda é uma distração para muitos. É ali que as pessoas sonham, choram e se divertem, sem ter que sair do lugar.

Já as mostras competitivas de longas foi dividia em duas partes abrindo com o inédito A Dança dos Vagalumes”, de Maikon Nery, onde o diretor debuta no cinema mostrando a realidade de um assentamento no Paraná e as lembranças de infância de uma professora que viveu ali; Boi de Conchas”, de Daniel Barbosa, filmado no litoral paulistano; o experimental Potenciais à Deriva”, de Leonardo Pirondi o ótimo Dois Nilos” que aborda as memórias e a importância do cineasta negro Afrânio Vital; os premiados em Gramado Jacaré”(melhor ator para Pedro Sol) de Vitor Quintalha  e o paraense Boiuna”, de Adriana de Faria( melhor direção, atriz e fotografia); Vollúpya”, documentário sobre uma famosa boate GLS do Rio de Janeiro dos anos 90, que funcionou até 2005.   

O Goiânia mostra curtas segue até o próximo domingo e o Vertentes do Cinema está aqui acompanhando de perto a intensa programação.   

Apoie o Vertentes do Cinema

Deixe uma resposta