Preces Precipitadas de um Lugar Sagrado que não Existe Mais
O sacrifício é um lugar
Por Vitor Velloso
Durante a Mostra de Tiradentes SP 2021
“Preces Precipitadas de um Lugar Sagrado que não Existe Mais” de Rafael Luan e Mike Dutra possui uma ideia curiosa, trabalhar com uma espécie de limbo de espaço e tempo, um lugar de sacrifício como palco de uma estrutura que trabalha com parte da cultura brasileira em seus vãos. Vou criar uma breve digressão para uma citação importada da Europa, para entender a própria ideia do “sacrifício” em si: “O princípio do sacrifício é a destruição, mas, ainda que chegue por vezes a destruir inteiramente (como no holocausto), a destruição que o sacrifício quer operar não é o aniquilamento. É a coisa – somente a coisa- que o sacrifício quer destruir na vítima. O sacrifício destrói os laços de subordinação reais de um objeto, arranca a vítima do mundo da utilidade e a devolve àquele do capricho ininteligível.” Bataille até que pode nos servir para compreender que a necessidade é derrubar alguns grilhões e promover um espaço onde os corpos são “ressignificados” em representações distintas.
Aqui, os objetos também sofrem este processo, mas a materialidade é exterior a obra em si. Uma ideia que busca um flerte com a mitologia de uma maneira mais direta e basilar. Contudo, a construção parece não encontrar os caminhos para concretizar parte de suas ideias e tudo vai perdendo ritmo e interesse conforme o progresso ocorre. E isso é uma questão que “Preces Precipitadas de um Lugar Sagrado que não Existe Mais” não consegue solucionar. O curta entra em um ponto cíclico e passa a perseguir as mesmas articulações de maneira constante, sem um desenvolvimento que faça seu deslocamento de espaço e tempo se tornar uma força particular da obra. Tudo é excessivamente findado em representações frágeis que encerram a forma como quem apenas busca uma nova narrativa com uma perspectiva que já conhecemos bem.