Diretor: Rodrigo García
Roteiro: Rodrigo García
Elenco: Annette Bening, Naomi Watts, Kerry Washington, Samuel L. Jackson, Cherry Jones, Shareeka Epps
Fotografia: Xavier Pérez Grobet
Produção: Lisa Maria Falcone
Distribuidora: PlayArte
Duração: 122 minutos
País: EUA/ Espanha
Ano: 2009
COTAÇÃO: ENTRE O BOM E O MUITO BOM
“Destinos ligados” é um filme sobre as variadas forma de relacionamentos Abordam-se as causas e as respectivas consequências das decisões escolhidas, podendo ser em um momento desesperado e ou sistematicamente programado. O diretor e roteirista Rodrigo García (filho do escritor Gabriel García Marquez), “Coisas que Você Pode Dizer Só de Olhar para Ela”, permite que o espectador mergulhe e vivencie suas memórias pelas histórias apresentadas. É um tema muito importante para mim. Eu o abordei quando realizei o curta “O Universo secreto das mães”, ainda em finalização, que conta a convivência entre uma mãe e seu filho. A excessiva proteção dela, a aceitação resignada dele, desencadeando culpas, remorsos, raivas e limites explosivos. Rodrigo segue a mesma linha em três histórias paralelas que se interligam. Karen (Annette Bening) vive com a mãe e não consegue parar de se torturar por uma escolha errada do passado. Ela tinha quatorze anos quando doou a sua filha para adoção. Elizabeth (Naomi Watts) é uma advogada competente e a suposta criança doada, já que o roteiro não conserva o suspense e a apresenta logo no inicio. Lucy (Kerry Washington) não pode engravidar. Ela e seu marido recorrem a uma barriga de aluguel. A narrativa é de dentro para fora, objetivando aprisionar o espectador no sofrimento delas. “Não seja covarde e mimada, seja uma mãe”, diz-se em determinado momento. O longa pode ser considerado uma homenagem ao lado materno, explicitando ao máximo a visceralidade dos sentimentos. Elas são defensivas, embrutecidas, diretas, pragmáticas, práticas, passionais, dominadoras, cruéis, manipuladoras e amorosas. Opção definida e escolhida pelo que passaram. Estes adjetivas ora comportam-se de forma individuais, ora misturam-se, ora juntam-se em sua totalidade. No mesmo momento que são superprotetoras, são, também, críticas ferrenhas das escolhas de suas filhas. Percebe-se o poder que uma mãe possui perante sua cria. Não se corta o cordão umbilical. Vive-se preso ao que sentem, querem, desejam. As “frágeis” filhas, para estas mães, realizam exatamente o que as progenitoras exigem. E assim, a próxima geração será cobrada da mesma forma. É uma bola de neve da culpa pela massificação repetitiva e imposta. “Você me esgota”, diz a filha a mãe que não para de criticar os seus atos. “Cuidado, não tenha falsas esperanças”, diz outra mãe.
Já uma outra filha define pessoas, as adjetivando, definindo o que se vê – pelo físico e limitando o que possam ser. Humaniza-se quando quer, destrói-se quando há vontade. As frustrações são mascaradas pela imposição arrogante e prepotente de se apresentar ao outro. São secas em se relacionar. O roteiro põe em palavras o abstrato dos sentimentos, sofrimentos e ações, as tornando concretas´e visíveis. Assim, torna-se mais fácil de muda-las. Os diálogos, crus, diretos, cínicos, agressivos, sinceros, querem a transparência integral, sem suavizações. Diz-se mesmo o que se propõe a dizer, sem a preocupação da sensatez da convivência social. Paradoxalmente, os personagens querem ser o oposto do que se comportam, mesmo exterminando a rebeldia do que são agora. Não com não, na matemática, vira um sim. Karen percebe sua mãe chorando com ela e rindo com as “gracinhas” da filha da empregada. Os outros apresentam-se mais próximos do que os que por lei possuem a maior fatia do bolo. “Impossível saber o que são. Ficam se reinventando para agradar os outros”, diz-se. Em determinado momento, a mudança gradual, em forma de reviravoltas, mostra o seu rosto. As ações decididas e adultas, sem rodeios, revisitam o passado, e há a necessidade da resolução de pendências torturantes. Elizabeth usa a beleza e inteligência para manipular os homens e estragar as suas vidas conjugais. Lucy quer um filho. Precisa do processo de adoção. A garota, que servirá como “transportadora” sabatina ideias e reações da pedinte. A mãe de todas as envolvidas na trama altivam como bases estruturais, como lobas protegendo filhotes. Os distanciamentos dão lugar ao cansaço da solidão. Questionam-se do porquê de serem assim.
Quando chegam a este nível, humanizam e mudam-se. “Caso: relacionamento sexual temporário ou ocasional Há muitas maneiras de se conseguir o que se quer (o resultado)”, diz-se. A próxima etapa apos o querer o aprofundamento é acostumar-se com a não superficialidade artificial, redundância recorrente, que ganham migalhas, como períodos de sexo casual. “Você me pegou de surpresa com a sua atenção”, desmonta-se. O diretor imprime leveza na forma de agir, deixando seus personagens livres para serem o querem. Faz a mesma coisa com a fotografia e a camera, – inovativas no inicio, mostrando uma fábula realista, explicativa e elipsada, temporalmente –, que seguem observando, principalmente os detalhes, criando a simbologia, como o cachecol que sufoca em um ambiente “hostil”. “A verdade é mais fácil de lembrar”, diz-se. “Ferocidade e charme, isso causa medo”, define-se outra. A musica suaviza a carga emocional. É um bom exemplo de um elemento usado no tempo e momento certo. “Não tenho nada para dar”, confessa-se. A vida mostra a possibilidade de mudança. E então a esperança tão impossível de acontecer, torna-se iminente. “Uma pessoa dentro de outra pessoa, ficção cientifica”, define-se a gestação, por alguém cego. Uma hora a raiva e o medo dão lugar à curiosidade. Até o melodrama de algumas cenas apresenta-se extremamente necessária à suavização. “Adoção é tão antinatural”, polemiza-se sem entrar na briga. Concluindo, é um filme sobre esperança, com narrativa depressiva e sôfrega. Vale muito a pena assistir. As atrizes foram escolhidas a dedo. E pode-se aditar a informação de que a produção é do mexicano Alejandro Iñárritu, diretor de “Amores Brutos”, “21 gramas” e “Babel”, o mestre do estilo “histórias que se conectam”, tendo Rodrigo bebido na sua fonte. Recomendo.
Rodrigo Garcia nasceu, em 24 de agosto de 1959, Bogotá, Colômbia. Diretor de “Coisas que você pode dizer só de olhar para ela” e “Passageiros”, apresenta o seu mais recente filme “Destinos ligados”. Trabalhou com o diretor mexicano Alejandro González Iñárritu, que também produz o filme em questão, em “Babel”. Na televisão, dirigiu um episódio de “A sete palmos” e “In Treatment”.
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